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Câmbio

Real ganha força

Há poucos sinais de que a valorização do real será revertida no médio prazo. Ela vem sendo guiada por uma combinação de superávit comercial, entrada de investimento direto e de aplicações em ações, títulos do governo e títulos de empresas. Somente com a emissão de ações na bolsa e de outros papéis de empresas, estima-se que entrarão US$ 25 bilhões no período de setembro até o fim do ano. Na média, o mercado financeiro trabalha hoje com a projeção da cotação do dólar em R$ 1,75 no fim de 2010.

O Banco Central tem reagido à entrada de dólares comprando a moeda-norte americana com voracidade. A previsão é que em poucos meses as reservas do país pularão dos atuais US$ 230 bilhões para perto de US$ 250 bilhões em 2010. De janeiro a agosto deste ano, o saldo das transações do Brasil com o exterior ficou positivo em US$ 24 bilhões. Foram US$ 16 bilhões em investimentos diretos, US$ 16 bilhões aplicados em ações e outros US$ 20 bilhões de superávit comercial. Além desse fluxo momentâneo, no longo prazo o país terá de acomodar os dólares que virão da exportação do petróleo do pré-sal.

Para o economista Luciano Nakabashi, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a entrada de investimentos e a exportação de commodities valorizam o real acima do que permitiriam os fundamentos do sistema produtivo. "Precisamos discutir se o BC não precisa ter uma presença mais ativa no câmbio. Há países, como o Chile, que controlam a entrada de capitais com sucesso para evitar os efeitos da sobrevalorização da moeda local", compara.

O futuro chega antes à bolsa

Antecipar o comportamento da economia real é parte do trabalho dos mercados. Ao comprar uma ação, o título de alguma commodity, ou uma casa, os investidores procuram um retorno sobre a diferença entre o preço atual e o que ele acha que o ativo vai valer no futuro.

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Um investidor que tivesse colocado R$ 100 em um fundo que segue a valorização do Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no fim de outubro do ano passado, teria hoje R$ 220. Valor semelhante ao que teria se tivesse comprado R$ 100 em petróleo em março deste ano. Se tivesse feito o mesmo com o Dow Jones, índice da Bolsa de Nova Iorque, em março, teria no bolso R$ 150. Esses exemplos de recuperação rápida dos mercados são, para alguns analistas, sinais de que os preços dos ativos subiram muito mais do que sustenta a fragilizada economia real.Quem vê excessos nos índices de ações e nos preços de commodities tem como principal argumento a previsão de que o crescimento das economias avançadas será lento, acompanhado de desemprego alto e de uma combinação de contas públicas deterioradas e pressões inflacionárias que terá efeitos imprevisíveis. No jargão econômico anglo-saxão, esses analistas são chamados de "ursos" – na Bolsa de Londres já no século 19 se usava o termo "bear market" (mercado urso, em uma tradução livre) para descrever momentos de queda acentuada nos preços das ações, aparentemente em referência a um ditado que dizia que não se pode contar com a pele do animal antes de pegá-lo.Na semana passada, o econo­­mis­ta Nouriel Roubini, da Univer­­sidade de Nova Iorque, um co­­nhe­­cido "urso", deu entrevistas em que chamou a atenção para o fato de as economias dos países ricos, em especial Estados Unidos e Inglaterra, estarem longe de ga-­­ nhar velocidade. Para ele, os consumidores vão continuar reduzindo as compras para economizar e pagar as contas acumuladas durante os anos de bolha imobiliária. Sua opinião é compartilhada por outros pessimistas, entre eles o estrategista do banco Société Géné­­rale, Albert Edwards, para quem os preços saíram da realidade.A visão dos "ursos" contrasta com a euforia dos "touros" – animal que simboliza os mercados em alta – em uma discussão crucial para quem quer entender o rumo da economia. Há otimismo exagerado, ou a recuperação é de fato vigorosa? "Os sinais ainda estão misturados", diz o economista Ricardo Almeida, professor do Laboratório de Finanças da Funda­­ção Instituto de Administração (FIA). "Se houve operações eufóricas nas últimas semanas, elas vão levar a uma nova onda de desvalorização de ativos. Vamos conferir isso logo que os juros começarem a subir, provavelmente no começo de 2010."

A elevação dos juros pode revelar altas excessivas porque hoje há bilhões de dólares girando na economia global em busca de retorno maior do que o permitido por aplicações conservadoras, como os títulos do governo dos EUA. Taxas mais altas tirariam fôlego de aplicações de risco. A Bovespa foi um dos destinos preferidos dessa liquidez e seu principal índice dobrou de valor desde que chegou ao fundo do poço, há quase um ano.

Para a economista Ana Paula Mussi Cherobim, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o Ibovespa subiu mais rápido do que o esperado. "Provavel­­mente estamos em um momento de euforia. Ainda não se sabe se os fundamentos, como crescimento do PIB e da indústria, estão consolidados para manter essa valorização", explica. Uma correção no rumo da bolsa, portanto, não pode ser descartada.

Rogério Betti, sócio da consultoria Beta Advisors, é mais otimista. Ele diz que os preços dos ativos estão subindo com base em um cenário provável de crescimento global de 4% no ano que vem. "É claro que há riscos, como o desemprego alto nos EUA e a possibilidade de haver inflação mais à frente. Mas temos de levar em conta também que os emergentes, como China e Brasil, estão se saindo muito bem", comenta. Para Betti, não existe uma bolha na Bovespa, em­­bora os preços estejam altos, e os materiais básicos, como minérios e alimentos, têm espaço para subir.

"Houve uma recuperação rápida, puxada por uma demanda real. Vale lembrar que os preços das commodities ainda não voltaram para perto da máxima que ocorreu antes da crise e o mesmo vale para as ações", destaca Wag­­ner Salaverry, sócio-diretor do Banco Geração Futuro de Inves­­timentos. Segundo ele, a demanda chinesa e o mercado interno do Brasil têm dado força para previsões mais otimistas, pelo menos para a bolsa e os produtos exportados pelas empresas brasileiras. "Não podemos dizer que estamos desconectados do que acontece nas economias desenvolvidas, mas é fato que estamos melhores neste momento", diz.

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