
A tendinite, uma dessas doenças da contemporaneidade, é o inchaço dos tendões. Em escritórios de todo mundo, principalmente por causa dos mouses, ela se espalha. O primeiro sinal são pontadas na área do pulso e a dor pode chegar à intensidade de impedir o trabalho. Em alguns casos, só operando. "Mas a prevenção é possível", diz Júlio Segalle, o cirurgião argentino que após operar inúmeros casos decidiu produzir um mouse que não dá tendinite. É o Orthomouse.
O mouse comum é pequeno e obriga o usuário a manter os dedos indicador e médio levemente suspensos. Se repousarem sob o corpo do aparelho, corre-se o risco de apertar algum dos botões. Parece um esforço mínimo, mas o corpo humano não foi adaptado pela evolução a esse movimento. O esforço diário, repetitivo, força os tendões ligamentos entre ossos e músculos.
O segundo vilão do mouse é a roda de scroll, que obriga ao indicador esse movimento repetitivo de giro. É um trazer a ponta do dedo para cima que nem parece muito. Repita os dois gestos, de giro e de suspensão continuada, por muitas horas, muitos dias e repetidamente por meses a fio e está aí o maior causador de tendinites. Os mais sensíveis encaram dores profundas.
O Orthomouse foi desenhado pelo doutor Segalle em parceria com Olavo Spínola, engenheiro eletrônico da Politécnica da USP. É bem maior do que o mouse comum e mais alto. O corpo é ergonômico, serve para que a mão o segure. Molda a mão e, por isso, o modelo para destros e o para canhotos é diferente. Um não pode usar o feito para o outro.
A característica inicial que todo usuário percebe é que, com ele, a mão faz o gesto de quem segura uma caneta. Por isso, o ponto ótico cuja luz vermelha, na base dos mouses, orienta a posição da seta no monitor fica num local diferente. Em vez de estar no meio do corpo, está na ponta, mais ou menos no lugar em que polegar e indicador se encontram. É como se fosse a ponta da caneta.
"Não faz sentido a decisão de colocar o ponto ótico no meio", explica Segalle. "Só serve para termos que mexer a mão por uma área muito grande." Não é assim com seu mouse. Ele é muito mais preciso e, com algum treino, pode servir até para o desenho dependendo da capacidade de cada um com os lápis.
Os dedos da mão ficam de lado e se apóiam sobre o corpo sem que haja risco de que qualquer botão seja apertado acidentalmente. Não é preciso mantê-los suspensos e, portanto, a fadiga inerente não vem. Por causa da posição diferente, o Orthomouse requer algum tempo para se habituar. Coisa de dias, não muito mais do que isso.
O scroll não é feito por uma roda entre os botões e sim por pequenas alavancas posicionadas perto do polegar. O dedo desliza para cima e a tela do browser segue o movimento. Escorregue para baixo o dedão e a tela rola no mesmo sentido.
Construído para reproduzir movimentos corriqueiros como o da escrita, o Orthomouse é calculado para não cansar. Ele vem acompanhado de um CD com instruções. Entre as recomendações, por exemplo, está uma que sugere que a mesa do computador tenha as bordas arredondadas e espaço suficiente para que o antebraço fique quase todo apoiado sobre ela. O cotovelo pode ficar para fora, mas a sugestão é de que a mão do mouse permaneça sempre apoiada.
Os truques de ergonomia, embora conhecidos, não param aí. É importante que os dedos caiam sobre o teclado. A base da mão deve estar acima das teclas para que os dedos não fiquem em estado de suspensão, desta vez, por causa do teclado. É por isso que a altura da mesa é importante e para isso que servem aqueles apoios, como bolsas de gel, que alguns posicionam perante seus teclados.
"Tem muita gente sendo operada por causa de tendinite", diz o doutor. "Não faz qualquer sentido que isso ocorra por causa de um instrumento que foi simplesmente mal desenhado. É melhor adaptar o mouse do que operar." A tecnologia do Orthomouse é brasileira e, por enquanto, ele só é vendido por aqui. Ainda este ano deve seguir para Europa e EUA.



