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Sustentabilidade

Uma cidade movida a guaraná

Maués já respondeu sozinha por 90% da produção nacional do fruto. Perdeu produtividade, mas os produtores lutam para manter-se na atividade

Gracineide Sena, com parte da produção: máquina de descascar o fruto poupou trabalho e aumentou a produtividade | Fotos: Fernando Cavalcanti/Divulgação
Gracineide Sena, com parte da produção: máquina de descascar o fruto poupou trabalho e aumentou a produtividade (Foto: Fotos: Fernando Cavalcanti/Divulgação)
João e Zenaide: o segredo é tomar guaraná todos os dias |

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João e Zenaide: o segredo é tomar guaraná todos os dias

Onde fica |

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Onde fica

Quase 300 quilômetros separam a cidade de Maués, no interior do Amazonas, da capital do estado, Manaus – são cerca de 18 horas de barco, descendo os rios Negro e Amazonas, até alcançar o Rio Maués-Açu. A partir da praia principal da cidade ainda é preciso descer o rio mais 30 minutos a bordo das chamadas "voadeiras" até chegar à terra onde vivem Manoel Messias Sena, o "seu Maranhão", e a esposa Gracineide. Caminhando 20 minutos mata adentro, aos poucos se avistam os grandes arbustos lotados de frutinhos alaranjados que, nesta época do ano, parecem abrir os olhos – é o guaraná, anunciando que está pronto para ser colhido.

Nas terras do seu Maranhão são pouco mais de cinco hectares plantados, de onde ele espera colher 1,3 mil quilos do produto nesta safra. Em toda Maués, a chamada "Terra do Guaraná", serão cerca de 200 toneladas. Um número pequeno, se comparado aos anos 80, quando a produção chegou a mil toneladas – 90% de todo o produto colhido no país na época. De lá para cá, os guaranazais da região envelheceram e perderam produtividade, pela idade, pela falta de manejo adequado e pela alta incidência de pragas. A região perdeu o título de maior produtora do país – na safra anterior, a Bahia foi responsável por quase 50% do total nacional, enquanto Maués respondia por 21% e o restante do Amazonas, 18%.

Técnicas novas

Vencendo aos poucos uma justa resistência de quem foi criado descascando guaraná com os pés por longas horas, Gracineide e seu Maranhão vão aos poucos modernizando a produção. É o caminho que também seguem dezenas de produtores da região, com o apoio de um programa de melhoramento encabeçado pela Companhia de Bebida das Américas (Ambev), produtora do Guaraná Antarctica, em parceria com o governo do estado, e apoio da Embrapa e da agência alemã de cooperação técnica GTZ.

Nos últimos cinco anos, a Ambev investiu R$ 34 milhões na região. Até 2013 serão R$ 70 milhões. Praticamente 100% da produção da cidade é comprada pela companhia, que também tem uma fazenda com mais de mil hectares da cidade e uma unidade para fabricação de extrato de guaraná (leia mais na matéria ao lado).

Melhorias

A máquina de descascar guaraná de dona Gracineide e seu Maranhão é uma parte deste investimento. Sem ela, o trabalho era feito com os pés – era preciso passar a manhã inteira pisando o fruto para soltar a semente e encher dez latas. "Dói muito o pé, então tinha que ser em dois. Hoje, às 10 horas já está tudo pronto pra lavar, e só precisa de um", diz a produtora.

Seu Maranhão também tem hoje acesso a mudas mais resistentes e aprendeu a podar a planta da maneira adequada. A plantação cresceu em tamanho e produtividade. "Estou sempre aumentando para o próximo ano." Até quando? "Meu sonho é comprar uma casa na cidade. Lá tem mais estrutura quando alguém fica doente, ou para os filhos estudarem."

Melhor preço

A safra deste ano vai render ao produtor (que, como denuncia seu apelido, é maranhense) uma renda de cerca de R$ 25 mil. Bem mais do que ganharia um produtor com a mesma extensão de terra em outro local. A Ambev garante a compra da produção por um valor bem acima do mercado – mas prefere não revelar quanto.

Foi esse incentivo financeiro que motivou José Moraes de Matos a voltar a cultivar guaraná. Natural de Maués e filho de produtores, ele diz que deixou o cultivo na década de oitenta porque o preço de compra não compensava mais. "Hoje está melhor. Até digo para os meus filhos e para as outras pessoas aqui da comunidade que vale a pena. Mas tem que saber que o trabalho é grande", diz o produtor mostrando as mãos amareladas – marca de quem vive de colher e destalar o guaraná. "Não adianta, não sai."

Na comunidade onde mora também vivem outras 30 famílias que também trabalham na produção de guaraná. Seu José tem 50 hectares de terra, 3 deles com guaraná. Em outra parte planta macaxeira, banana e cará, para complementar a renda. Um caminho que os 11 filhos também começam a seguir. "Cada um já tem a sua terra. A gente vive do que pesca, colhe e cuida."

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A repórter viajou a convite da Ambev.

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