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Biblioteca da FFLCH, na USP: autores de esquerda em primeiro plano. | Cecilia Bastos
Jornal da USP
Biblioteca da FFLCH, na USP: autores de esquerda em primeiro plano.| Foto: Cecilia Bastos Jornal da USP

O equilíbrio entre esquerda e direita (ou a falta dele) nas universidades públicas é tema de controvérsia permanente. Dentre os métodos disponíveis para medir a correlação de forças, uma das formas menos subjetivas é avaliar a bibliografia disponível nas bibliotecas. Foi o que fez a Gazeta do Povo, levando em conta as cinco melhores universidades públicas brasileiras de acordo com o renomado ranking da Times Higher Education de 2016.

(Nota: A versão anterior desta reportagem analisou apenas dez autores. A Gazeta do Povo expandiu a lista para um total de 50 autores, 25 de cada lado, para aumentar a confiabilidade do cálculo)

Listas de autores mais influentes serão sempre objeto de questionamento. Mas é possível chegar a um time de pensadores incontestáveis de cada lado. O nome dos autores utilizados na comparação está ao fim da matéria. Na direita, entram pensadores liberais ou conservadores. Na esquerda, socialistas, comunistas, anarquistas e social-democratas.

O levantamento foi realizado através dos sites das bibliotecas e pode conter imprecisões por causa de falhas no cadastro dos livros e diferenças nos sistemas de classificação. Além disso, fatores diversos pesam no número de livros disponíveis – um autor com mais obras tende a ter mais volumes, por exemplo.

Ainda assim, a desproporção é evidente, e um sinal de que a diversidade de ideias não vai bem: a contabilidade final aponta 17.376 mil obras de esquerda conta 4.091 de direita. A proporção é de 4,2 para 1.

Mas os números não convencem a todos: “O que importa é a relevância dos autores em relação à perspectiva histórica e teórica que eles têm. Essa é uma falsa questão”, diz Alexandre Bernardino Costa, da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB). “Paulo Freire é um educador difundido no mundo inteiro. Você vai colocá-lo ao lado de um pensador de direita que não tem a mesma expressão dele?”, indaga.

Para Antônio Carlos Mazzeo, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, autores considerados de esquerda predominam porque contestam os poderes estabelecidos. “O pensamento de repudiar o que está fora da ordem ou do sendo comum é intransigente, e está mais de acordo com o pensamento da direita”, afirma.

“Em geral a esquerda é mais crítica, porque o próprio referencial teórico dela, o marxismo, é muito crítico”, defende Mazzeo. Na definição de “direita” do professor, entretanto, autores liberais como Adam Smith e Alexis de Tocqueville ficam de fora.

O professor Francisco Alambert, também FFLCH, discorda da inclusão de liberais no grupo da direita. Ele rejeita a ideia de que as universidades são predominantemente de esquerda, e acrescenta que a lista prova, no máximo, a “indigência do pensamento conservador”, que seria menos influente do que o pensamento da esquerda. “O Brasil nunca teve um pensamento de direita sofisticado o suficiente para formar uma tradição. Talvez porque a direita sempre esteve onde quis estar: no comando da política e da economia”, afirma.

Cerceamento?

Mas, na visão do professor de Filosofia Rodrigo Jungmann, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a contabilidade evidencia um problema crucial: “Isso reflete a maioria esmagadora de professores esquerdistas nas universidades, que desejam que seus alunos tenham uma exposição quase que exclusiva a autores de esquerda”.

O docente diz que a falta de equilíbrio traz consequências negativas para os alunos. “Você só pode formar uma opinião bem abalizada sobre um assunto quando você tem acesso a todas as perspectivas, as várias linhas teóricas concorrentes e antagônicas em torno do assunto, com a visão devidamente equilibrada”, argumenta.

Ricardo Vélez Rodriguez, que deu aula de Filosofia Universidade Federal de Juiz de Fora por duas décadas, diz que as instituições de ensino superior são controladas por esquerdistas desde a década de 1980, e que um dos efeitos é a falta de espaço para ideias diferentes nas editoras mantidas pelas universidades.

Ele também rebate a afirmação de que a esquerda predomina nas universidades por ter mais senso crítico: “Eles falam muito em pensamento crítico, mas são especialistas em impedir as pessoas de pensar criticamente. A primeira coisa que eles tentam fazer é silenciar aqueles que pensam diferente”, afirma.

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