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A professora e pesquisadora Jo Boaler, da Universidade de Stanford (EUA), traz novas perspectivas na área de Mentalidades Matemáticas; ela afirma que todos são capazes de aprender conteúdos complexos. 

Um exemplo prático do impacto dessa abordagem sobre a aprendizagem: após 18 dias de ensino de Matemática através da nova metodologia, turmas de 7º e 8º anos (na Califórnia, EUA) melhoraram em média 50% suas notas – esse percentual corresponde a uma avanço de 2,4 anos de escolaridade. 

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Com base em pesquisas neurocientíficas, Jo apresenta propostas sobre como a disciplina pode e deve ser ensinada de forma aberta, criativa e visual – estudo recente revela que, das cinco áreas ativadas quando estudamos matemática, duas são visuais. 

“Se a matemática for ensinada como uma série de questões curtas e fechadas, os estudantes pensam nela como uma disciplina fechada e a maioria tem desempenho baixo”, diz.  

Participando do Seminário Mentalidades Matemáticas, em São Paulo, promovido pelo Itaú Social, Instituto Sidarta e Fundação Lemann, a pesquisadora conversou com a Gazeta do Povo sobre a urgência de tratar o tema no Brasil e como metodologias de ensino mais abertas devem ser aplicadas em qualquer disciplina. Confira: 

O que são Mentalidades Matemáticas? Como isso está relacionado à neurociência? 

Carol Dweck tem décadas de pesquisas que mostram que todo mundo tem mentalidades – conjuntos de crenças sobre seu próprio potencial. Uma mentalidade matemática é um conjunto de crenças sobre o próprio potencial em matemática. Uma mentalidade matemática fixa significa que você acredita que sua habilidade em matemática é fixa. Uma mentalidade matemática de crescimento é uma em que as pessoas acreditam que elas podem conquistar, aprender qualquer coisa por meio de seu próprio esforço.  

Na pesquisa de Dweck ela descobriu que a crença de um estudante no seu próprio potencial está no cerne do seu sucesso: estudantes com uma mentalidade de crescimento têm funcionamento cerebral diferente e se saem melhor na escola e na vida.  

No meu livro descrevo meios de desenvolver uma Mentalidade Matemática de crescimento, isso inclui ver a matemática como uma disciplina aberta; se ela for ensinada como uma série de questões curtas e fechadas, os estudantes pensam nela como uma disciplina fechada e a maioria tem desempenho baixo. Quando eles a veem como uma disciplina aberta e em crescimento, porque os professores estão ensinando de forma aberta e com mensagens para uma mentalidade de crescimento, o desempenho aumenta drasticamente.  

Como isso se aplica à educação? Quais são as diferenças entre essa abordagem e as formas tradicionais de ensino de matemática? 

A maioria dos estudantes acredita que seu papel na sala de aula em matemática é cumprir tarefas. É seu trabalho aprender métodos dos professores e reproduzir esse método para chegar a uma resposta para uma questão. Essas questões enchem os livros didáticos e as respostas estão no final. Essa é uma matemática fechada e limitada, onde o papel do estudante é cumprir tarefas. 

Precisamos mudar a cultura da educação matemática. Os estudantes precisam vê-la como uma disciplina de aprendizagem onde eles podem trazer criatividade e ideias para resolução de problemas. 

Nós promovemos a matemática como uma disciplina visual e multidimensional. Nas salas de aulas pedimos que professores valorizem as formas diferentes de os estudantes enxergarem as ideias matemáticas e a resolução de problemas, com discussões ricas.  

A pesquisa já apresenta resultados práticos? Até onde os estudantes apresentaram melhoria de desempenho com essa abordagem? 

Sim, por exemplo, trouxemos 87 estudantes de ensino fundamental para Stanford para 18 dias de aprendizagem de matemáticas. Nesses 18 dias, nosso objetivo era mudar suas ideias sobre as matemáticas, de cumprir tarefas para aprendizagem. Queríamos que eles percebessem que qualquer pessoa pode aprender matemática e que eles poderiam aprender de uma forma que seria recompensadora. Nenhum desses 87 estudantes acreditava que era uma “pessoa da matemática” quando chegaram à sala; eles identificavam outros estudantes que eles conheciam como pessoas da matemática. Ao final da concentração, eles tiveram notas 50% mais altas. 

Estudantes costumam ter dificuldades para se envolverem com a matemática. Isso mudou ao utilizar essa abordagem? Como eles reagem a ela? 

Recentemente trouxemos para Stanford 161 alunas de ensino fundamental por um dia para esse tipo de aprendizagem. Quando você compartilha com os estudantes a ciência do cérebro sobre como aprendemos matemática e como nosso cérebro funciona de forma diferente quando acreditamos no nosso potencial, tudo muda para eles.

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Entretanto, também é necessário mudar a forma como pedimos que eles se envolvam com as matemáticas. Questões baseadas em velocidade, que são fechadas e focam na resposta, não contribuem para a mudança nos estudantes. Eles precisam ter tarefas matemáticas envolventes em que eles possam trabalhar para resolver problemas em um ambiente de colaboração onde todas as contribuições são valorizadas, principalmente os erros.  

Em muitas escolas, o ensino de matemática ainda segue uma visão tradicional. Qual foi a resposta ao propor essa mudança no ensino? 

Começamos o Youcubed há alguns anos e hoje o nosso site chega a 25 milhões de acessos. Nossas newsletters são abertas em mais de 150 países. Isso é um movimento internacional e estamos muito empolgados em ver o sucesso. Quando fazemos eventos com os pais para envolvê-los nesse tipo de aprendizagem de matemática, nós escutamos os pais dizerem: “Se eu tivesse aprendido matemática desse jeito, eu teria adorado!”.  

Apesar de estar voltada para a matemática, como essa abordagem pode ser usada em outras disciplinas? Como outras disciplinas de ciências exatas podem se beneficiar? 

A mentalidade se aplica a qualquer disciplina. Estamos vendo mais e mais pessoas virem até nós e dizerem que nossa abordagem de ensino aberto, visual e multidimensional funciona para todas as disciplinas. Qualquer disciplina pode se beneficiar, mas a matemática provavelmente precisa dessa mudança mais do que qualquer outra.

Colaborou: Andressa Muniz.

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