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O professor Lucas, Kérima, Isabela e sua mãe. | Arquivo Pessoal.
O professor Lucas, Kérima, Isabela e sua mãe.| Foto: Arquivo Pessoal.

Uma escola pública de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, está dando um ótimo exemplo de inclusão social. Isso porque um professor e uma intérprete da Escola Municipal Alfeu Luiz Gasparini resolveram ensinar a Língua Brasileira de Sinais (Libras) aos alunos do 6º ano. O motivo? A pequena Isabela Fracaroli, de 11 anos, que é surda e não conseguia se comunicar de forma eficaz com as outras crianças. 

A ideia partiu do professor de história Lucas Dario Romero y Galvaniz, que tinha dificuldades em falar diretamente com Isabela e percebia que ela nem sempre conseguia compreender perfeitamente conteúdos e brincadeiras que eram feitas em sala de aula. 

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“Embora a Isa tivesse intérprete que possibilitasse o acesso ao conhecimento, isso ainda não era inclusão plena. Afinal, ela poderia sim alcançar parte do mundo dos ouvintes, mas os ouvintes, com exceção da intérprete, não acessavam o mundo dos surdos”, diz Lucas em entrevista à Gazeta do Povo

Foi então que o professor resolveu fazer uma proposta à interprete: ele cedia um espaço de sua aula e ela ensinava Libras aos outros alunos. “Ela prontamente aceitou nos ensinar”, conta. 

As aulas 

Desde abril, a tradutora e intérprete Kérima Garcia Santana ensina aos alunos do 6º ano da escola algumas expressões e palavras em Libras. Para a surpresa dos profissionais, as crianças adoraram a ideia. 

“Os alunos se interessaram muito pelas aulas. Eles estão muito participativos, querem aprender, perguntam os sinais. Tem sido ótimo”, afirma a tradutora. 

E Isabela? Segundo Kérima, a garota ficou muito feliz. A intérprete conta que a jovem já consegue se comunicar de forma básica e independente com as outras crianças. 

“A Isabela é a única aluna surda da sala. Para ela, isso foi muito importante, melhorou a interação, a participação de trabalhos em grupo. Ela agora tem uma autonomia muito maior”, diz. 

Embora tenha uma carga horária para cumprir, o professor de história garantiu que vai continuar cedendo parte das aulas, pelo menos, uma vez por semana.

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“Estamos iniciando por coisas básicas como cumprimentos, alfabeto e sinais que sejam corriqueiros em um ambiente escolar. Seja como for, apesar das dificuldades inerentes em se aprender uma outra língua, os alunos têm se empenhado bastante”, conta Lucas.  

Provas 

Para estimular ainda mais os estudantes, o professor está aplicando algumas provas de Libras. Segundo o docente, o resultado tem sido excelente: no primeiro exame nenhum aluno ficou abaixo da média. 

“Está sendo muito legal. Hoje todos tentam conversar com a Isa. Ela mesmo vai na frente da sala ensinar alguns sinais”, comemora. 

Surpresa às crianças 

Todo o empenho dos alunos não foi à toa. Para fazê-los entender como a Isabela se sentia dentro da sala, o professor resolveu contar que ensinaria Libras de maneira inusitada: ele iniciou as aulas falando apenas espanhol. 

“Passei cerca de cinco minutos somente falando em espanhol. Ninguém me entendia. Uns alunos riram da situação, outros pediram para eu falar em português, já que não estavam entendendo nada”, relembra.

“Então resolvi falar em português novamente e explicar que fiz aquilo justamente para que eles sentissem um pouco do que sentia a Isa; ela, ao mesmo tempo em que não conseguia nos entender, não era compreendida. Na hora eles entenderam o recado”, conclui Lucas.

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