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| Foto: Gazeta do Povo/Jonathan Campos

Em seu tempo de escola, a administradora de empresas Juliana Ferigato Szundy, de 32 anos, era da turma que “ficava de fora” das aulas de Educação Física. O currículo privilegiava os esportes com bola (basicamente, futebol, vôlei e basquete) e os melhores alunos em cada modalidade iam para a quadra. Os menos habilidosos acabavam na arquibancada, de onde assistiam à performance dos “craques”. Vinte anos depois, a disciplina não é mais a mesma. Filho de Juliana, Mateus, de 8 anos, já pulou corda, fez aula de dança e até aprendeu a andar em pernas-de-pau, tudo isso durante as aulas de Educação Física na escola particular em que está matriculado. Todos os alunos participam e meninos e meninas jogam juntos, inclusive nas partidas de futebol.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), documento que traz diretrizes do governo federal para os currículos escolares de todo o país, a Educação Física nos anos finais do ensino fundamental deve contemplar não só esportes como jogos, lutas, ginásticas e danças. Mas não foi só o entendimento sobre as práticas corporais que devem ser oferecidas aos alunos que passou por mudanças intensas nas últimas décadas. A missão da disciplina também se modificou.

Investigador dessas tendências e professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Marcos Garcia Neira explica que nos anos 70, o objetivo da Educação Física era descobrir e preparar talentos esportivos. Posteriormente, na década de 80 e começo dos anos 90, a ideia era ajudar no desenvolvimento motor dos alunos. De lá para cá, a finalidade passou a ser dar condições para que os estudantes façam uma leitura crítica das manifestações corporais. “Antes, o objetivo era formar corpos hábeis, ágeis, que tivessem grande destreza; hoje é promover a leitura crítica das práticas corporais disponíveis na sociedade. Esperamos que a pessoa, ao ver uma partida de futebol, entenda o que está acontecendo, que saiba ler a gestualidade de uma dança, e reconstruir o futebol e a dança a seu modo”, exemplifica.

Voz dos alunos

A nova concepção também inclui o cuidado com a inclusão de todos os alunos, dos mais aos menos habilidosos. E a participação das crianças e dos adolescentes na formatação das aulas. “Hoje, por causa das tecnologias, existem solicitações que chegam das crianças. Elas entram na internet, pesquisam, ficam sabendo como se joga futebol americano, por exemplo, e fazem essa cobrança na escola”, afirma Esther Cristina Pereira, psicopedagoga e diretora há 30 anos da escola privada Atuação, de Curitiba.

Doutora em Educação Física, a professora da UFPR Soraya Domingues considera que a aula ideal deve levar em conta o patrimônio cultural dos alunos (as práticas que eles conhecem) e fazer com que eles analisem e interpretem essas manifestações. Desse ponto de partida, o professor pode ir além e ampliar o repertório dos estudantes, com a apresentação de outras práticas corporais.

Na prática, a teoria é outra

Embora há vários anos os documentos oficiais (como os PCNs) e a literatura da área apontem para mudanças importantes nas aulas de Educação Física, os professores ainda encontram dificuldades para inserir os novos conteúdos, frente à hegemonia esportiva que por décadas caracterizou a disciplina na escola. “Apesar dessa nova perspectiva, ela não é muito encontrada na prática escolar. Tenho feito pesquisas sobre a prática da Educação Física nas escolas de Curitiba e percebi que professores não têm noção do que são os documentos”, afirma a professora Soraya Domingues, da UFPR.

Segundo a pesquisadora, a visão antiga da disciplina é vista tanto em escolas públicas quanto em particulares. O mais comum é encontrar aulas voltadas unicamente ao esporte, como se a escola fosse um centro de treinamento, ou aulas sem estruturação, muitas vezes sem a interferência do professor.

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