
De segunda a sexta-feira, Louseane Silva de Lima, 12 anos, leva cerca de três horas para ir de sua casa em Piraquara, na região metropolitana, até a escola, no bairro Boqueirão, em Curitiba. Ela faz o percurso de ônibus e não se importa com a distância para chegar ao Colégio Acesso, onde é bolsista. E não é para menos. A menina sabe como são concorridas as vagas em instituições particulares que oferecem bolsas parciais e integrais para estudantes que não têm condições de pagar a mensalidade.O jovem Ricardo Henrique Vanderlinde, 17 anos, também venceu a disputa acirrada e isso mudou a vida dele. Ricardo saiu das ruas graças à bolsa integral de estudos que recebeu no ensino médio. Está matriculado no 2.º ano do Colégio Sesc São José uma parceria entre o grupo Bom Jesus e Serviço Social do Comércio. Hoje, além de estudar, tem dois empregos e pensa em ingressar numa faculdade. "Há três anos eu não era ninguém. Cheguei a morar nas ruas. Hoje com o estudo tenho esperança no futuro", diz.
O sonho da faculdade também é alimentado por Louseane. Filha da cozinheira Sandra Regina, ela pensa em se formar em Física Nuclear. Não conseguiu passar no processo seletivo de ingresso no Colégio Militar de Curitiba, que é público. Mas, devido às boas notas, ganhou uma bolsa integral num cursinho e se prepara novamente para a seleção. Pela manhã, frequenta o cursinho e à tarde vai para a escola. A mãe, que é viúva e não tem outros filhos, conta que, mesmo com um desconto de 70%, o pagamento da mensalidade da escola é feito com sacrifício. "Sem contar o estresse que essa menina passa todos os dias. Ela sai às 7 horas da manhã e só volta depois das 8 horas da noite. Não é fácil essa rotina", afirma.
Os programas
Dependendo do programa e da escola, é possível chegar a um desconto de 100% na mensalidade. No Colégio Sesc São José, os 480 alunos do ensino médio recebem de graça ensino, material didático e, se necessário, transporte. O atendimento é voltado para estudantes que concluíram o ensino fundamental em escolas públicas e que pertencem a famílias com renda máxima de três salários mínimos mensais. Para ingressar no colégio, é necessário passar por um teste de seleção. "Existem jovens talentosos em várias escolas públicas. Nosso objetivo é oferecer oportunidade num ambiente que é referência em qualidade de ensino", diz o gerente regional do colégio, José Ivair Motta Filho. Todo o material didático usado na escola é o mesmo de outras escolas do grupo Bom Jesus.
No colégio Acesso, as bolsas são parciais e o abatimento concedido chega a 80% do valor integral. Lá, o programa de bolsas começou há quatro anos e, de acordo com o diretor Pedro Adriano Brandalise, a ideia é trazer para dentro da escola alunos com potencial acadêmico. A redução na mensalidade é proporcional à pontuação obtida numa prova aplicada aos alunos. "Dentro das nossas possibilidades, tentamos atender a comunidade. Não podemos deixar de lado alunos que vivem com dificuldades financeiras, mas se esforçam e gostam de estudar", afirma.
Já nos colégios do grupo Dom Bosco, a mensalidade pode ser abatida integralmente, dependendo das condições sociais e financeiras de cada família. De acordo com a diretora da sede Mercês, Rita Egashira Vanzela, a definição da porcentagem de desconto não depende só da nota obtida pelo estudante. "Fazemos um cálculo da mensalidade que a família pode suportar", diz. O projeto, intitulado de Arquimedes, existe desde o ano 2000 e até hoje já atendeu cerca 1,5 mil famílias. A cada ano ingressam 120 estudantes.Estudando no exterior
Há sete anos, um grupo de empresários e voluntários resolveu se unir para dar oportunidades a estudantes com bons desempenhos. Desde então, o programa Bom Aluno já garantiu a formação universitária de 132 estudantes, sendo que alguns estudaram inclusive fora do país. Hoje o programa atende 210 estudantes da 8.ª série do ensino fundamental à universidade.
Além de oferecer bolsas de estudos integrais a estudantes de baixa renda em colégios particulares, o programa tem acompanhamento estudantil individualizado, com atividades no contraturno, como aulas de línguas.
O universitário Diogo de Barros, 17 anos, foi um dos participantes do Bom Aluno. Hoje mora na Espanha, pois foi o primeiro colocado no Programa Universidade para Todos (Prouni) Internacional, do Ministério da Educação. Filho de diarista, conta que jamais teria a oportunidade de estudar no exterior, não fosse a participação no programa, que o permitiu estudar no colégio Dom Bosco, a partir de uma bolsa integral. "Estudar em colégio particular fez a diferença", diz.
A coordenadora do Bom Aluno, Maria Isabel Grassi Dittert, explica que podem participar do programa estudantes a partir do 7.º ano do ensino fundamental. Por ano são abertas cerca de 20 vagas no programa.



