
Enquanto a maioria dos estudantes almoça ou descansa, 3.042 alunos de dez escolas de Curitiba e região metropolitana vão para a escola. Os chamados turnos intermediários ocorrem na hora do almoço para 1.637 alunos matriculados principalmente nas 5ª e 6ª séries do ensino fundamental. O turno intermediário também ocorre em outros horários alternativos, como do início ao meio da manhã e do meio da tarde ao início da noite. O levantamento foi feito pela reportagem da Gazeta do Povo por meio de informações sobre turmas e matrículas disponíveis no site Dia a Dia Educação, do governo estadual.
A Secretaria Estadual de Educação, por meio da assessoria de imprensa da Superintendência de Educação (Suede) se posiciona contra a adoção desses horários alternativos e informa que atualmente são 2,8 mil alunos que estão nessa situação de exceção em todo o estado. Para reverter a situação, 180 novas escolas estão previstas para serem concluídas até o fim de 2010 e resolver o problema de falta de vagas nos horários normais de aula.
No Colégio Estadual Arlindo Carvalho de Amorim, na Cidade Industrial de Curitiba, o horário convencional de aulas não existe. Por causa de um prédio que está em reforma, os 1,4 mil alunos estão se dividindo em horários alternativos. São 322 estudantes da 5ª série que assistem às aulas das 11 às 14h45, enquanto os outros alunos de outras turmas do ensino fundamental e médio se dividem em horários que vão do início até o meio da manhã, do meio da tarde ao início da noite e do meio ao fim da noite. Para os alunos que frequentam aulas na hora do almoço, o aprendizado fica prejudicado. É o caso das colegas Melissa*, 11 anos, e Juliana*, 12, que enfrentam uma caminhada diária de uma hora para chegar à escola. "Trazemos bolacha ou pão para não passar fome. Não tem como almoçar. Sem contar que o lanche daqui é muito ruim. Não gostamos de vir para a escola nesse horário", dizem.
Outras meninas que frequentam o turno anterior reclamam do mesmo problema. A estudante da 8ª série, Regina, 17 anos, conta que tem de acordar todos os dias pouco antes das 6 horas da manhã para conseguir entrar na escola às 7 horas. Normalmente os estudantes entram na escola meia hora mais tarde e saem perto da hora do almoço, às 11h30. Mas Regina entra meia hora mais cedo e sai às 10h45, quase uma hora mais cedo. "As aulas são mais curtas, é muito esquisito. Não conseguimos lanchar. Às vezes como alguma coisa pelo caminho", conta.
O diretor do colégio, Sérgio Gomes, afirma que a única forma de atender os cerca de 1,4 mil alunos é com a implantação de quatro turnos diferenciados. "É a única escola que temos para atender toda a região", diz.
Fora da escola
Por causa do horário diferenciado da 6ª série, que é feito das 15 horas às 18h40, o aluno Márcio*, 17 anos, teve de escolher entre o trabalho e os bancos escolares. Preferiu o emprego das 14 às 22 horas num mercado do bairro, onde vai receber cerca de R$ 400 por mês. "Tentei mudar para o turno da manhã, mas não consegui. Depois tento pagar um supletivo para terminar os estudos", diz.
O fim do turno intermediário é promessa da atual gestão desde 2004. Na região da Escola Estadual Ipe, em São José dos Pinhais, onde de acordo com o site Dia a Dia Educação 170 alunos da 5ª série têm aulas no horário do almoço, uma nova escola é aguardada desde 2006. Novas escolas inauguradas no mesmo ano no bairro Campo do Santana não deram conta da procura por vagas e hoje duas escolas a Guilherme Pereira Neto e a Nirlei Medeiros , oferecem turnos intermediários e alteram o dia a dia de 476 alunos.
A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Educação deve concluir hoje um relatório completo sobre a oferta de turnos intermediários na escola. O superintendente da educação Luciano Mewes irá se posicionar hoje sobre o assunto caso a caso. De acordo com a assessoria, algumas comunidades se adaptaram e preferem horários alternativos. Já a nova unidade em São José dos Pinhais deve ficar pronta até a metade do ano.
(*)os nomes das crianças e adolescentes foram trocados em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente.



