
Se a comparação entre irmãos é natural ao longo da vida, quando eles dividem a vida escolar principalmente se as idades forem próximas confrontar os seus desempenhos pode ser praticamente inevitável. Em muitos casos, a pergunta retórica "por que você não é tão estudioso quanto o seu irmão?" impera nos sermões familiares. Educadores, porém, alertam que a prática pode ser devastadora e orientam os pais: é preciso reconhecer e respeitar as diferenças entre os filhos.
De acordo com Clara Brener Mindal, vice-diretora do setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), os pais devem sempre ter em mente que cada filho é único. "Não só pela carga genética, mas também pelas circunstâncias de criação, que nunca são as mesmas. Por isso dois irmãos podem ser tão diferentes, inclusive em relação à vida escolar." Para ela, compreender que uma das crianças pode ser um gênio em Matemática enquanto o outro tem maior vocação artística da mesma forma como aceitar que nem sempre uma mesma escola é ideal para todos os filhos é o primeiro passo para evitar as comparações. "É claro que os pais e educadores devem tomar atitudes quando percebem que um dos filhos não está alcançando o desempenho desejado, mas o pior que se pode fazer é compará-lo ao irmão, cobrando que um seja igual ao outro."
Para o médico oftalmologista Francisco Abílio Mateus, pai de três adolescentes Mariana, que tem 15 anos e está no 1º ano do ensino médio; Francisco, que tem 13 e está na 7ª série do fundamental; e Marina, que está na 6ª série e tem 12 anos , conhecer bem cada personalidade ajuda a entender as diferenças e evitar comparações que possam taxar um como melhor que o outro. "A Mariana é mais tímida, gosta de leitura, de estudar, enquanto o Francisquinho se destaca pelo dom para a música e é um pouco mais extrovertido. Já a Marina é brincalhona, adora conversar", diferencia, dizendo que mais importante do que cobrar por eventuais falhas é destacar as qualidades.
Consequências
"A comparação é muito perigosa, pois sempre que se compara há dois parâmetros: o do melhor e o do pior", alerta a pedagoga Soraya Yuri Sunaga, diretora do Colégio Expoente Unidade Água Verde. Essa diferenciação, segundo ela, pode causar um desconforto entre irmãos e acirrar a rivalidade que já existe naturalmente. "O ideal é que os dois compreendam que são diferentes e que, já que cada um tem uma habilidade, podem se ajudar. Mas isso deve ser estimulado pela família."
Além do relacionamento, a auto-estima também é colocada em risco. "O pior da comparação é que ela não diz apenas que um não é tão bom quanto o outro, mas também que um deles pode não estar se esforçando suficientemente, o que, muitas vezes, não é verdade", diz Clara, que também alerta: não é só o taxado como o pior que sofre. "O outro, que é visto como bom, entende que só é visto desta forma porque o irmão é visto como ruim. Isso significa que ele está sendo melhor às custas de alguém que ama."
Do limão, uma limonada
Evitar comparações não significa ignorar as diferenças. Pelo contrário, já que os pais podem e devem transformá-las em algo positivo. "Ao saber que um tem dificuldade em determinado ponto em que o outro tem mais habilidade, pode-se estimular a cooperação", afirma a diretora Soraya Sunaga, que explica que essa ajuda fortalece o laço de amizade entre irmãos. Na casa do médico Francisco Abílio Mateus é exatamente o que ocorre. "A mais velha, Mariana, ajuda o Francisco com a Matemática, pois tem mais facilidade", conta.
A ajuda, porém, deve ser natural e não forçada pelos pais, de acordo com a educadora Clara Mindal. "Não pode ser uma obrigação, um fardo. Além disso, os pais devem ficar atentos para a necessidade de uma eventual intervenção profissional, seja a de um psicólogo ou a de um professor particular."



