• Carregando...
Imagem da fachada do Gibson’s em Oberlin, Ohio.
Fachada do Gibson’s em Oberlin, Ohio. Foto: Reprodução | via Facebook.| Foto:

Se há uma coisa que é ensinada na Oberlin College, faculdade de artes liberais reconhecidamente progressista, é o privilégio: privilégio branco, privilégio hétero, privilégio de gênero – e quaisquer outros que você puder imaginar.

Leia também: Homofobia, machismo, racismo: se você for de esquerda, tudo bem

Agora, o júri de um tribunal de Ohio identificou uma variedade totalmente nova – o “privilégio de consciência” – e decidiu obrigar aqueles que acreditam estar protegidos por tal privilégio a prestar contas.

O júri emitiu uma escandalosa sentença de 11 milhões de dólares contra a Oberlin College em virtude de uma campanha de difamação contra um comerciante local, e concedeu mais 33 milhões de dólares em danos à empresa que foi alvo da campanha, a Gibson 's Food Market and Bakery.

Os valores certamente serão reduzidos, mas o veredito é um golpe contra instituições bem-sucedidas, sempre tentadas a fazer coro às gangues de justiceiros sociais.

A Oberlin acreditou que poderia difamar a Gibson impunemente, atribuindo a ela a pecha de racista, pois, em tese, as regras do campus valeriam (ou seja, qualquer pessoa acusada de racismo é, ipso facto, culpada de racismo), pois ninguém questionaria seu nobre senso de justiça e cultura diante de um mero comércio local.

Em outras palavras, Oberlin contava com seu “privilégio de consciência” como licença para agir sem levar em conta razão, evidência e honestidade.

A pequena Gibson foi vítima duas vezes. O imbróglio começou quando um aluno negro, acompanhado por dois amigos, tentou roubar vinho da loja, e o filho do proprietário o perseguiu e deteve. A polícia prendeu os alunos, que foram acusados dos crimes.

Leia também: Grupo de estudantes coloca caixa com pedras ‘para atirar’ em brasileiros na Universidade de Lisboa

"Verdades simplistas"

É errado roubar, ainda que você seja aluno da Oberlin, e mesmo que pertença a um grupo historicamente oprimido. Mas a cosmovisão da Oberlin se opõe a tais verdades simplistas, e os alunos imediatamente começaram a protestar contra a Gibson, alegando que, se o restaurante impediu jovens negros de roubar, então só pode ser racista.

A Comissão Estudantil da Faculdade Oberlin aprovou uma resolução declarando o seguinte: “A Gibson tem um histórico de discriminação racial de estudantes e moradores”.

Os fatos do caso estavam disponíveis, incluindo a informação de que um dos alunos presos se ofereceu para se declarar culpado de roubo (posteriormente, os três alunos deram declarações absolvendo a Gibson de qualquer má conduta ou animosidade racial).

Protesto

Não importa. Para a faculdade, o universo moral defensável será sempre aquele pelo qual seus alunos estiverem protestando a qualquer momento. Portanto, a escola jogou lenha na fogueira.

A vice-reitora de alunos, Meredith Raimondo, ex-assistente especial do presidente da instituição para “diversidade, equidade e inclusão” (é claro), juntou-se aos manifestantes com um megafone. Ela ajudou a distribuir panfletos que acusavam a Gibson e pediam boicote: “Trata-se de um estabelecimento RACISTA, com um LONGO HISTÓRICO DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL”.

Os alunos fizeram cópias dos panfletos difamatórios na secretaria do departamento de música. A faculdade comprou pizza e bebidas, além de dar apoio logístico.

A faculdade suspendeu o fornecimento de produtos pela Gibson, que vinha de longa data, e o Departamento de Estudos Africanos da Oberlin postou um comentário no Facebook: “A comida deles é podre e eles discriminam alunos negros”.

Alguém poderia dizer que esse é apenas mais um caso de reputação arbitrariamente destruída na América do século XXI, porém a Gibson se recusou a aceitar o golpe e processou a faculdade. O argumento de defesa da Oberlin – de que a instituição era neutra na controvérsia entre os alunos e a loja – foi demolido no julgamento (que foi brilhantemente relatado, em detalhes, pelo site Legal Insurrection).

Os documentos revelaram que a administração da Oberlin às vezes tinha medo de seus alunos (até mesmo hesitando em condenar o furto), e outras vezes os enxergava como um exército. Quando um professor se opôs publicamente à maneira como a faculdade estava lidando com a questão, Meredith Raimondo disse: “Fxxx-se ele. Eu diria para os alunos atacarem, se não estivesse convencida de que precisamos virar a página”.

O proprietário da loja, David Gibson, pediu inúmeras vezes à faculdade para que fizesse uma declaração de que a Gibson não é racista, num gesto de reconciliação. O pedido foi recusado de forma arrogante. Agora, a Oberlin vai pagar caro, e justificadamente, por seu “privilégio de consciência”.

Rich Lowry é editor da National Review.

"©2019 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

Tradução: Ana Peregrino.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]