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 | Marcelo AndradeGazeta do Povo
| Foto: Marcelo AndradeGazeta do Povo

É uma experiência universitária comum. Um colega de quarto é aleatoriamente escolhido, trocam gentilezas até se conhecerem pessoalmente e viverem juntos por pelo menos um ano letivo. 

Para manter a tradição, uma estudante negra da Georgia Southern University se apresentou para a sua futura colega de quarto para iniciar o processo. 

“Oi! Você acabou de me ligar?”, a futura colega de quarto respondeu. “Desculpa lol meu celular está no silencioso”.  “Foi um acidente!”, a estudante respondeu. 

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“Haha tudo bem. Fui adicionar você como contato e também te liguei acidentalmente”, a futura colega de quarto escreveu. A próxima mensagem não foi tão agradável. 

“O Instagram dela parece bem normal, não tem muita ‘coisa de preto’ (nigerish)”, a futura colega de quarto supostamente disse em uma mensagem destinada a uma terceira futura colega de quarto, de acordo com uma captura de tela compartilhada nas redes sociais por Dajah Morrison, uma amiga da estudante negra, que recusou comentar o caso e deseja permanecer anônima. 

“Meu Deus, me desculpa! Que porcaria!”, a futura colega de quarto disse em mensagem subsequente. “Eu não quis dizer aquilo. ... Eu queria dizer ‘triggerish’ (referente a disparar um gatilho), que você parecia legal, nada que disparasse um alarme. Estou tão envergonhada, peço desculpas”. 

A futura colega de quarto colocou a culpa no corretor automático. Mas a internet não acreditou nela. 

“Ela explicou “triggerish” como se o termo estivesse na moda e nós não entendêssemos gírias novas”

- M’DYKU (@tethegreat) 20 de Julho de 2018 

Não é apenas embaraçoso. É errado. É racista. Ela precisa ser responsabilizada. Comportamentos são frequentemente alterados quando encontram rigor ou punições. Algum tipo de consequência é apropriado nesse caso se o objetivo é diminuir comportamentos racistas perigosos. 

- Keonnie Igwe (@KeonnieJanae) 20 de Julho de 2018

A presidente da universidade, Shelley Nickel, afirmou em um comunicado que a escola “compartilha a dor que nossa comunidade tem expressado após o uso de gíria racista exibida em uma captura de tela compartilhada nas redes sociais. Não há lugar para intolerância ou racismo nos nossos campi”. 

A universidade recusou confirmar que a suposta troca de mensagens foi entre estudantes da Georgia Southern University, citando uma lei federal que restringe a divulgação do histórico dos estudantes pelas universidades. 

Histórico

A instituição já atraiu atenção por incidentes racistas antes. Em 2015, um aluno branco gerou discussões após ter incluído uma mensagem contrária ao movimento“Back Lives Matter” no Facebook, ameaçando a comunidade em caso de protestos, de acordo com o jornal estudantil The George-Anne. 

Em 2016, segundo o The Atlanta Journal-Constitution, administradores da universidade investigaram a afirmação de uma líder de torcida que dizia ter sido provocada com gírias racistas pelos torcedores. 

Ponto de partida

Dajah Morrison, a amiga da estudante negra e veterana da universidade, disse ao The George-Anne que esperava que compartilhar as mensagens serviria como ponto de partida para o diálogo. 

“Precisava ajudar para que se espalhasse como um incêndio”, disse Morrisson, que não respondeu a um pedido de entrevista. “Senti estar um passo mais próximo de atingir o objetivo: aumentar a conscientização, espalhar positividade ao invés de ódio e usar minha (pequena) plataforma virtual para promover mudanças”. 

As capturas de tela têm circulado no Twitter, levando alguns alunos da GSU a pedir a expulsão das futuras colegas de quarto. 

O complexo de apartamentos Aspen Heights, que fica fora do campus, se recusou a informar detalhes do incidente, mas a porta voz Mary Alice Kaspar disse em um email que a gerência “tomou medidas imediatas e apropriadas em apoio ao objetivo de criar comunidades inclusivas onde todos os residentes são tratados com dignidade e respeito”. Não está claro se as estudantes ainda planejam morar juntas. 

Tradução: Carlos Eduardo Carvalho.

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