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Escola Municipal Otacília Hasselmann de Oliveira, em Ponta Grossa: esforço em sala de aula para ir bem no Ideb | Roberto Soares/Gazeta do Povo
Escola Municipal Otacília Hasselmann de Oliveira, em Ponta Grossa: esforço em sala de aula para ir bem no Ideb| Foto: Roberto Soares/Gazeta do Povo

Nota baixa é estímulo para crescer

Os números frios da estatística podem deixar de ser apenas algarismos quando transformam a realidade. Um resultado ruim fez os professores repensarem a forma de ensino, aproximou os pais da escola e ainda melhorou a estrutura da instituição. O choque inicial de ter a pior nota no Índice de Desen­volvimento da Educação Básica (Ideb), dentre as 82 escolas municipais de Ponta Grossa em 2005, foi substituído pela alegria de passar a figurar entre as três melhores, apenas dois anos depois. Foi o que aconteceu na Escola Municipal Cyrillo Ricci, na periferia da cidade.

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Modelo é comum em outros países

O Ministério da Educação sempre informa, quando divulga novos índices, que não faz ranking e não incentiva esse modelo – geralmente quem ordena os dados e estabelece as listas dos melhores e piores são a imprensa e as próprias instituições que alcançaram boas notas. Já nos Estados Unidos, a sistemática de ranqueamento é institucionalizada e governamental, contam os especialistas. Há também uma avaliação feita em bloco por várias nações. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) conta com 56 países, incluindo o Brasil, que aplicam um modelo único de prova, para estudantes de 15 anos, por amostragem.

A pedagoga Helena Côrtes destaca que as pressões por avaliação acontecem de forma distinta em outros países. O histórico escolar, com boas notas, é essencial para ingressar em boas universidades norte-americanas. Há casos, por exemplo, em que o gargalo não é na entrada, mas na saída. Na Itália, a maioria dos cursos de Direito opta por provas orais e só um porcentual muito pequeno dos estudantes consegue seguir no curso.

"Eu tenho um cartão postal de 1899, onde meu bisavô desejava "fortuna" (boa sorte) a meu avô em seu exame final da educação básica, na Itália. Esse exame existe até hoje, onde ainda é chamado esame di maturità, apesar de ser oficialmente chamado "exame de Estado". Países como o Brasil são uma exceção, mas o MEC está correndo para compensar o tempo perdido", conta o professor Nélio Bizzo. (KB)

Professor costuma ser avesso a rankings

A cobrança associada à divulgação de indicadores provoca reclamações no magistério. Professora por formação e integrante do sindicato dos Servidores Municipais de Ponta Grossa, Katia Fioravante conta que a maioria dos colegas reclama de uma cobrança excessiva por resultados. "Sempre dizem que o nível exigido é muito acima do que realmente é trabalhado na escola", afirma.

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Provão, Provinha, Prova Brasil, Ideb, Enem, Enade, IGC, Censo Escolar. Essas são algumas das palavras e siglas que passaram a fazer parte, nos últimos dez anos, do sistema educacional brasileiro, dentro de um modelo amplo de avaliações e indicadores de qualidade. Mas até que ponto esses índices, cercados de pressões por resultado e organizados em várias formas de ranking, são capazes de melhorar a qualidade da educação no Brasil? Especialistas consultados pela Gazeta do Povo acreditam que o modelo nacional ainda está engatinhando e apontam falhas e avanços.

As vozes que chiam contra os métodos adotados pelo governo brasileiro sempre estiveram presentes, mas nas últimas semanas a discussão ficou ainda mais acalorada, depois que vieram à tona denúncias de desvio das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Dias antes, a psicóloga Rosely Sayão havia publicado na coluna que mantém no jornal Folha de S. Paulo um artigo intitulado "Para que serve mesmo esse ranking?". No texto, ela relata casos de escolas que selecionam apenas os melhores estudantes para prestar o Enem, outras que focam esforços para manter posições no ranking, colocando os alunos sob pressão constante e bitolando os professores e ainda algumas bem avaliadas que recusam matrícula a adolescentes que não se enquadram no perfil desejado pela instituição.

"O ranking não é bom para os alunos – muitos deles podem cursar seu ensino médio com sentimento de derrota antecipada –, não serve para a melhoria de qualidade da educação em nosso país, não é uma boa referência para os pais. Por que insistimos tanto em usar o ranking, mesmo? Ah! Ficamos apegados à ideia de vencedores e campeões. Pena que isso não valha nada para a maioria que vive a vida como ela de fato é.", versa o artigo de Rosely Sayão.

Prova

A primeira iniciativa governamental de avaliação integrada, com a geração de indicadores, foi o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Tratava-se de um conjunto de provas, aplicadas por amostragem, desde 1990. A intenção de medir tudo na educação se intensificou a partir do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, com a instituição do Provão, para o ensino superior, e do Enem. Na gestão do presidente Lula, a política avaliativa ganhou força, com a criação de indicadores e mais provas.

A professora Helena Côrtes destaca que os processos avaliativos fazem parte da realidade cotidiana, presentes nas relações afetivas, de trabalho e, como não poderia deixar de ser, também na escola. Coordenadora do curso de Pedagogia Multimeios da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), ela explica que existem avaliações diagnósticas, que permitem uma análise do quadro encontrado, outras de acompanhamento, como exercícios que possibilitam perceber o andamento do processo de aprendizagem, e ainda as so­­mativas, como as provas, que são capazes de mostrar se o con­teú­do repassado foi aprendido.

Helena considera que as avaliações são essenciais para determinar que medidas devem ser tomadas para permitir mudanças. "De nada adianta apenas identificar que muitos alunos concluem o ensino fundamental sem saber ler e escrever adequadamente. A avaliação só tem valor acompanhada de uma atitude", pondera. Essa também é a opinião do professor Nélio Bizzo, da faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). "Quando o Enem foi criado, se dizia que ele iria medir o desempenho escolar dos alunos e que isso deveria alertar as escolas. Ora, não se abaixa a febre distribuindo termômetros! O que faltava era uma visão sistêmica da educação, percebendo a articulação da educação básica com a superior. Os indicadores devem mostrar se estamos melhorando ou não, apenas isso. Os indicadores não constituem uma política, eles devem fazer parte dela, justamente para indicar seu sucesso ou a ausência dele", defende.

O Ministério da Educação e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) foram procurados pela reportagem para comentar a política nacional de avaliações, mas não deram retorno.

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Interatividade

A implantação de vários indicadores de educação produziu mais reflexos positivos ou mais negativos?

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