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Tradicionalmente reconhecido por sua qualidade e excelência, o desempenho das escolas brasileiras da rede privada no Pisa 2015 não foi muito superior ao registrado pelas instituições públicas. Mesmo recebendo investimentos expressivos por parte das famílias, tais centros têm dificuldade de se desvencilhar de velhos problemas que também afetam a educação mantida pelo Estado, como a falta de uma política de valorização dos professores, o que têm impactos diretos sobre os resultados alcançados pelos estudantes.

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Em ciências, foco do Pisa de 2015, a média da rede privada (487 pontos) foi superada pelos 517 pontos alcançados pelas escolas federais. O fato se repetiu nas outras duas disciplinas avaliadas, leitura e matemática, nas quais as instituições federais tiveram 528 e 488 pontos, respectivamente, contra os 493 e 463 das particulares.

Em defesa, Esther Cristina Pereira, presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR), afirma que o fato das escolas federais contarem com processos seletivos, o que favorece o ingresso de alunos “acima da média”, é um dos pontos que justificam o melhor desempenho desta rede na avaliação internacional.

“Ainda que a rede privada consiga atrair os melhores [profissionais], dados mostram que ela tem um problema grave em termos de formação docente”

Olavo Nogueira FilhoGerente de projetos do Todos Pela Educação

Outros países

A nota de ciências da rede privada também está distante da alcançada pelos países que ocupam as primeiras colocações do Pisa, com médias acima dos 500 pontos. Além disso, iguala o desempenho dos estudantes de 15 anos das escolas particulares do Brasil ao obtido pelos alunos da Rússia, 32ª colocada entre os 72 países e economias que participaram do ranking em 2015.

Pelo investimento realizado pelas famílias, os especialistas apontam que seria natural se esperar um resultado melhor na avaliação do ensino privado no Pisa. O gerente de projetos do Todos Pela Educação, Olavo Nogueira Filho, lembra, no entanto, que a distância entre a média internacional e a das escolas particulares brasileiras tem relação com a qualidade dos professores do país.

Cerca de metade dos professores não têm licenciatura para as matérias que lecionam

O levantamento realizado pelo movimento Todos Pela Educação apresenta dados preocupantes em relação à atuação dos professores no Brasil. De acordo com o estudo, somente 45,9% dos docentes dos anos finais do ensino fundamental e 53,8% dos que ministram aulas no ensino médio têm licenciatura para todas as disciplinas que lecionam, nas escolas pública

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“Ainda que a rede privada consiga atrair os melhores [profissionais], dados mostram que ela tem um problema grave em termos de formação docente”, explica.

Nogueira refere-se ao levantamento realizado pelo Todos Pela Educação que aponta que somente 68,8% dos docentes da educação básica (educação infantil e ensinos fundamental e médio) da rede privada têm formação superior, sendo 61,6% deles em alguma licenciatura. Na rede estadual, por exemplo, este número ultrapassa os 91% - os dados são de 2015.

“O porcentual de professores com formação adequada às disciplinas que lecionam é, em muitos casos, proporcionalmente menor na rede particular, comparado à pública. Este problema está relacionado ao fato da carreira de professor ser pouco atrativa no Brasil”, completa.

Solução

O caminho para melhorar este quadro, não apenas nas escolas particulares, mas também nas públicas, é conhecido e passa pela formação e valorização da carreira do professor, inclusive com melhores salários.

“Temos um problema crônico relacionado às condições de trabalho dos professores. Precisamos de uma constante relação entre ensino, pesquisa e extensão dentro das universidades e, ao mesmo tempo, do acesso a um plano de carreira pelos professores, para que eles possam ser bem remunerados e se manter incentivados à continuidade dos seus estudos, como ocorre nas escolas federais”, sentencia Maria Tereza Carneiro Soares, professora do Departamento de Planejamento e Administração Escolar da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e consultora do Pisa na área de matemática até 2010.

A presidente do Sinepe/PR também ressalta a importância da parceria entre escola e família. Ela lembra que, hoje, os pais cobram os resultados das escolas, mas estão se isentando da responsabilidade de acompanhar o dia a dia da educação. “A escola não consegue sozinha. Em Singapura e na Finlândia [que estão entre os melhores colocados no Pisa], os pais estão dentro da escola e têm uma relação muito próxima com ela”, completa.

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