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Metodologia

Escolas religiosas adotam novo perfil

De olho em novos alunos e na concorrência, confessionais abrem mão de direcionamento catequético e priorizam qualidade de ensino e valores universais

A formação em valores morais influenciou a escolha de Flávia Ramos pela escola em que o filho Nícolas, 7 anos, vai estudar | Hugo Harada / Gazeta do Povo
A formação em valores morais influenciou a escolha de Flávia Ramos pela escola em que o filho Nícolas, 7 anos, vai estudar (Foto: Hugo Harada / Gazeta do Povo)

Optar por escolas confessionais na hora de matricular os filhos nem sempre é uma escolha motivada por identificação religiosa. Bons resultados em rankings de desempenho, bilinguismo ou uma formação moral baseada em valores universais são aspectos que têm atraído até mesmo quem não segue com rigor alguma crença.Especialistas consideram que essa atração se deve especialmente a uma mudança no perfil das escolas confessionais. Há poucas décadas, o fato de fornecerem formação religiosa aos alunos e uma infraestrutura melhor do que a do ensino público era suficiente para garantir turmas cheias. Hoje, o ensino privado tornou-se um concorridíssimo setor da economia e a popularização dos índices de medição de desempenho estimula todas as escolas a traçarem objetivos comuns, como um alto número de aprovados no vestibular ou uma boa média no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

O acirramento da concorrência levou essas instituições a elaborarem novas maneiras de conciliar a identidade religiosa com um ensino eficaz. Na opinião da psicopedagoga Mari Angela Calderari Oliveira, professora do curso de Psicologia da Pontifícia Univer­­sidade Católica do Paraná, muitas estão obtendo êxito. "A maioria das confessionais trabalha hoje a questão de valores morais, mas sem impor uma crença. Paralela­­mente a isso, melhoraram muito a qualidade de ensino", diz.

Convívio

No Colégio Marista Paranaense essa é uma das características que chama a atenção. O colégio católico que já serviu de seminário não inclui na grade horária nada de confessional e mesmo a disciplina de Ensino Religioso é tratada como uma área de conhecimento mais amplo, sem enfoque no catolicismo. "Temos alunos de várias religiões aqui, então, trabalhamos a questão do sagrado presente em todos os povos", conta o diretor educacional, Mario José Pykocz.

O único colégio luterano de Curitiba também opta por uma postura mais abrangente ao tratar a religião em sala de aula. "Todos os dias iniciamos nossas aulas com uma meditação, mas qualquer cristão se reconhece nela", explica o diretor do Colégio Martinus, João Lima.

Pertencer à mesma confissão religiosa da escola também não é critério para a contratação de professores. Segundo Lima, somente uma minoria participa da comunidade local, que possui uma igreja bem ao lado do colégio. "Quando contratamos alguém explicamos nossa orientação confessional, mas a pessoa precisa apenas compartilhar de valores cristãos fundamentais, como amor e perdão", explica o diretor.

Ambiente familiar

Embora o direcionamento confessional tenha deixado de ser co­­mum nessas instituições, o am­­biente familiar tradicionalmente valorizado em instituições religiosas continua a pesar na escolha dos pais. Foi esse o critério usado por Flávia Toledo Ra­­mos na hora de matricular o filho Nícolas, de 7 anos. Mesmo vizinha de um grande colégio não confessional de Curitiba, ela colocou o filho em uma escola com vínculo religioso localizada em outro bairro da cidade.

Apesar de não ter uma vivência religiosa intensa, Flávia diz sentir fa lta da formação em valores mo­­rais nas outras opções que conheceu. "Acho que escolas sem perfil religioso se preocupam muito com conteúdo regular e pouco com o caráter do indivíduo", opina.

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