
Desde o anúncio pelo governo do Paraná do ajuste da hora-atividade dos professores, os educadores têm apontado os prejuízos que a medida trará para a educação no estado. Ao contrário da ampliação do período em meia hora, como defende a Secretaria de Educação (Seed), a APP-Sindicato entende que a Resolução 113/2017 - já em vigor - irá reduzir das anteriores sete para cinco horas semanais o tempo destinado às atividades extraclasse, ou seja, a carga horária de que os professores dispõem para corrigir provas e trabalhos e, principalmente, preparar as aulas.
CONFIRA: a linha do tempo com a evolução da hora-atividade dos professores no Paraná.
Os especialistas são unânimes ao destacar os reflexos positivos que a hora-atividade, quando bem aproveitada, tem sobre o ensino. Mas alertam que, sozinha, ela não dá conta de resolver os problemas da educação.
Um exemplo disso está na relação entre os avanços no porcentual de hora-atividade conquistados pela categoria nos últimos anos e os resultados dos indicadores que medem a qualidade do ensino. Enquanto o período destinado às atividades extraclasse registrou aumento de 75% desde 2012, durante a gestão Beto Richa, o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) das escolas de ensino médio do Paraná caiu para 3,4 em 2013, depois de ter avançado de 3,3 para 3,9 entre 2005 e 2009. Em 2015, o índice registrou leve recuperação e chegou aos 3,6. Mesmo assim, ficou distante dos 4,2 previstos para este ano.
LEIA TAMBÉM: Alunos têm razão ao reclamar da qualidade do ensino médio no Paraná: ela caiu
No oitavo e no nono anos do ensino fundamental, mesmo com a ligeira melhora, os 4,1 e 4,3 registrados em 2013 e 2015, respectivamente, também ficaram abaixo das metas previstas para o Ideb destes anos (4,2 e 4,5).
Qualidade
O conjunto de fatores que impactam sobre a qualidade da educação pública é um velho conhecido e engloba questões que vão da infraestrutura das escolas à região em que as instituições estão localizadas, como lembra Josemary Morastoni, coordenadora do curso de Pedagogia e da pós-graduação em Gestão das Organizações Educacionais da Universidade Positivo (UP).
“Estrutura física, quantidade de alunos em sala, salário e [as questões voltadas à] formação dos educadores são dificultadores. Hoje, os professores e pedagogos têm cursos muito teóricos, nos quais não existe relação entre teoria e prática”, explica.
O presidente da APP-Sindicato, Hermes Leão, concorda e acrescenta que, mesmo com os passos dados pelo governo nas questões salarial e da hora-atividade nos últimos anos, não houve investimentos que garantissem ao sistema educacional ter uma organização que permita a superação das dificuldades de aprendizagem.
“Nós levantamos essas dificuldades e apontamos [caminhos] no sentido de aprimorar a qualidade do aprendizado nas escolas. A hora-atividade ajuda neste encaminhamento, por isso dizemos que seria importante que ela fosse ampliada para 50% [como costuma ocorrer nas escolas federais, que alcançam melhores resultados nas avaliações], defende Leão.
A simples ampliação do período destinado às atividades extraclasse, sem que haja um controle para que ele seja utilizado de forma adequada, também não é suficiente, como destaca Verônica Branco, pedagoga, doutora em Educação e professora do setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Segundo ela, pesquisas realizadas no programa de pós-graduação da instituição revelam que, em geral, os professores não fazem o efetivo uso dessas horas. Isso se deve, principalmente, às interferências na distribuição da carga horária que, ao atender aos interesses dos educadores, não possibilitam aos profissionais trabalharem coletivamente e promoverem a interdisciplinaridade dos conteúdos. “Muitos professores ainda não utilizam todo o potencial da hora-atividade para [além de planejar as aulas] estruturar melhor sua formação continuada”, acrescenta Josemary.



