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Estudante do 2º ano, Matheus queria treinar e levou nota máxima | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Estudante do 2º ano, Matheus queria treinar e levou nota máxima| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Primeiro dia de Sisu tem 1,2 milhão de inscritos de todo o país

Começaram ontem as inscrições para a primeira edição de 2015 do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), pelo site www.sisu.mec.gov.br. Até pouco antes das 21 horas, mais de 1,2 milhão de inscrições tinham sido feitas.

Neste ano são oferecidas 205.514 vagas pelo sistema, em 5.631 cursos de 128 instituições públicas de educação superior. O prazo de inscrições vai até 23h59 desta quinta-feira. Até lá, o MEC atualiza diariamente a nota de corte dos cursos cadastrados. Com isso, o estudante pode visualizar se, a partir de seu desempenho no exame, tem chances de ingressar no curso desejado.

A inscrição só pode ser feita pelo estudante que tenha participado da edição de 2014 do Enem. Está impedido de se inscrever aquele que tenha tirado zero na prova de redação.

Do total de 63 universidades federais, 59 participam do Sisu neste primeiro semestre. Os 38 institutos federais e os dois centros federais de educação tecnológica (Cefet) também oferecem vagas pelo sistema.

Segundo o MEC, houve crescimento de 11% no número de instituições participantes nesta edição em comparação com a de janeiro de 2014.

Estadão Conteúdo e Folhapress

Leitura "desde cedo" levou à nota máxima, diz estudante gaúcha

Leitora voraz, a estudante Taiane Cechin, 17 anos, está entre os 250 estudantes que tiraram a nota máxima na redação do Enem. Na prova, que teve 6,19 milhões de candidatos em todo o Brasil, mais de 529 mil alunos zeraram a prova de texto, segundo o MEC.

Moradora de Veranópolis (a 126 km de Porto Alegre), cidade da serra gaúcha com pouco mais de 25 mil habitantes, Taiane está no 3º do colégio privado Regina Coeli, mas estudou todo o ensino fundamental em uma escola pública, chamada Irmão Arthur Francisco. A garota é filha de um operário e de uma professora de português, de quem foi aluna na sétima série. "Eu tinha dificuldade em chamá-la de professora, foi uma experiência ímpar", relembra.

Por meio do exemplo da mãe e das experiências nos anos iniciais da escola, Taiane se apaixonou pela leitura. "Adquiri esse prazer por frequentar a biblioteca da escola. Mas não só em busca do conteúdo das aulas, mas de conhecimentos gerais", conta.

Ela prestará vestibular para Medicina. Mas, além das leituras "por prazer", Taiane não deixa de lado as leituras obrigatórias dos vestibulares.

Como era de se esperar, a mãe professora está orgulhosa do feito de Taiane. "Estava demorando para sair o resultado, ela estava nervosa. Quando ela viu a nota mil, choramos e nos abraçamos. Fiquei muito feliz", conta Neli Cechin, 48 anos.

Cristiane Zanette, 36 anos, atual professora de português e redação de Taiane, diz que passou a ela exercícios para treinar uma das competências exigidas pela prova, a "proposta de intervenção". Trata-se de sugerir soluções para o tema proposto.

O tema da redação deste ano, a publicidade infantil, foi uma surpresa para Taiane. Mas, mesmo assim, ela conseguiu usar argumentos ensinados por Cristiane, como evocar autoridades. Taiane citou o jurista Rui Barbosa em seu texto.

Folhapress

O número de zeros na prova de Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) cresceu cinco vezes em 2014, no comparativo com 2013. Ao todo, 529.374 candidatos tiveram a prova anulada ou a entregaram em branco, contra 106.742 do ano anterior. Para especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, as causas seriam o aumento do número de candidatos (o que eleva o número de zeros), falta de leitura dos participantes, maior rigor da banca que corrige as provas, um tema menos conhecido do que o do ano anterior e um retrato mais fiel da má qualidade do ensino no país.

INFOGRÁFICO: Proporção de estudantes que zeraram a Redação do Enem aumentou no último ano

A surpresa é que de um ano para o outro o exame teve 22% a mais de inscritos, enquanto as provas com nota zero aumentaram em 500%. Essa discrepância revelaria um retrato mais fiel da precariedade da educação no país, além da mudança do perfil do próprio exame nos últimos anos, avalia a professora do Unibrasil e especialista em aprendizagem Wanda Camargo. Nos grandes centros a adesão ao Enem foi alta desde o começo e agora a maior participação de alunos de lugares menores tem exposto mais as deficiências do ensino.

Contraditoriamente, a prova cresce na medida em que deixa de lado seu caráter inicial de avaliação do Ensino Médio e torna-se um substituto do vestibular, opina o professor Wellington Wella, do Colégio Positivo. Porta de entrada para as vagas do Sistema de Seleção Unificado (Sisu) e bolsas do Programa Universidade Para Todos (Prouni), o Enem é cada vez mais uma opção para quem busca ingresso na universidade.

Um maior rigor por parte dos corretores também pode explicar a queda nas notas, para Wella. Ainda mais depois do escândalo que foram os textos com a receita de miojo e o hino do Palmeiras. Em ambos casos, ocorridos em 2012 e amplamente divulgados pela mídia, os alunos tiveram nota superior a 500.

Para o ministro da educação, Cid Gomes, o problema foi da temática. Publicidade infantil "não teve um grau de discussão nacional como o tema de 2013", quando alunos escreveram sobre a implantação da Lei Seca no Brasil, argumentou durante a coletiva em que divulgou os dados, na última terça-feira. O diretor educacional do grupo Marista, Flavio Sandi, concorda em parte. Como muitos alunos estudam decorando argumentos para cada assunto, ao se deparar com um tema menos provável desistem de escrever. E a nota cai.

Esse fenômeno demonstra que a própria estrutura da redação dissertativa argumentativa não foi compreendida, na avaliação do professor de língua portuguesa Elinton Lourenço, do Colégio Opet. "O candidato deve apresentar e defender uma ideia, um ponto de vista, uma opinião a respeito de um tema, estruturando-se em proposição, argumentação e conclusão". Mesmo quem nunca teve contato com o assunto teria de ser capaz de elaborar uma opinião a partir de seu conhecimento de mundo e das informações do enunciado.

Quanto ao pano de fundo para a dificuldade com a escrita, os professores são unânimes. Falta leitura. Livros, jornais, variedades, tudo ajuda na hora de compor um repertório.

Aluno do 2.º ano em Curitiba faz a prova para treinar e tira nota 1.000

O curitibano Matheus Arzua se inscreveu no Enem 2014 de olho em uma vaga na faculdade de Direito. Matriculado no 2º ano do Ensino Médio, só queria treinar. Na resultado final, a surpresa: ele foi um dos 250 brasileiros a tirar nota 1.000, a pontuação máxima.

Matheus conta que tira três a quatros hora do dia para revisar os conteúdos trabalhados em sala de aula, no Colégio Positivo. Nas horas vagas, divide-se entre o videogame e os livros – ele é fã de Sir Arthur Conan Doyle, criador do Sherlock Holmes. "Acho que o importante é você se informar de tudo que aconteceu no ano da prova, pesquisar os temas que polemizaram."

Deu certo. Ele foi atrás de debates sobre a publicidade infantil ainda no início do ano, quando o criador da Turma da Mônica, Maurício de Souza, deu uma declaração sobre o tema. "Citei que a Inglaterra proíbe personagens famosos nas propagandas, para não influenciar as crianças", conta.

No fim do texto, defendeu que a criança tem o direito de consumir, mas "a publicidade deve ser controlada, porque eles ainda não estão completamente formados, e podem ser influenciados."

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