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Giz, lousa e carteiras enfileiradas são materiais do passado em faculdades de Medicina. Cada vez mais instituições adotam a chamada “aprendizagem ativa”: em vez de escutar o professor repassar informações, estudantes são responsáveis por construir o próprio conhecimento. 

As novas abordagens são uma forma de preparar os alunos para a realidade do trabalho na área de saúde: ações em equipe e resolução de problemas são as bases da formação dos futuros médicos. 

Na Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, as aulas tradicionais, com exposição dos conteúdos pelo professor, foram abolidas. A mudança aconteceu em 2017, após a instituição notar que os estudantes apresentam baixa retenção de conteúdos em aulas expositivas – alunos cochilando durante as aulas era uma cena comum. 

“A taxa de retenção de conteúdos após uma aula expositiva é de talvez 10%”, diz Charles G. Prober, reitor associado sênior de educação médica na Lerner College of Medicine da Universidade de Vermont, em entrevista ao Washington Post. “Se isso estiver correto, se estiver sequer próximo de correto, é um problema”, completa.

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Com a mudança, a aprendizagem é focada nos estudantes, que trabalham em grupos para resolver problemas ou responder questões. “Isso cria um ambiente de aprendizado mais permanente, em que as informações permanecem mais com o indivíduo e ele tem uma melhor compreensão”, diz William Jeffries, reitor associado sênior de educação médica do Larner College of Medicine de Vermont e responsável pela inovação. 

A inovação está sendo adotada em outras instituições no país, como as escolas de Medicina da University of Central Florida, da University of Virginia School of Medicine e da University of Arizona

No caso da University of Arizona, a metodologia se destaca por adotar três pilares: instruções baseadas em estudos de casos, tomada de decisões apoiadas em evidências e aprendizagem com base em trabalho em equipe. 

Inovações 

A aprendizagem ativa é apoiada por estudos em educação médica, como indica pesquisa publicada no Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS), um dos periódicos científicos mais respeitados do mundo. 

O estudo aponta que a aprendizagem ativa traz benefícios principalmente para as áreas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática): os índices de reprovação são 55% maiores em aulas expositivas, quando comparado a cursos que adotam aprendizagem ativa. 

“Embora as aulas tradicionais tenham dominado o ensino de graduação durante a maior parte do milênio e continuem a ter fortes defensores, as evidências atuais sugerem que uma abordagem construtiva de ‘questionar, não explicar’ pode levar a fortes aumentos no desempenho dos alunos”, dizem os pesquisadores. 

Segundo eles, os professores dessas áreas devem começar a “questionar o uso continuado de aulas tradicionais”. 

Realidade nacional 

No Brasil, dois métodos estão sendo adotados em cursos de Medicina: Problem Based Learning (aprendizagem com base em discussão e resolução de problemas) e Team Based Learning (aprendizagem com base em trabalho em equipe). Ambos podem ser combinados para tornar o ensino mais dinâmico, como ocorre na Faculdade de Medicina do Vale do Aço (Famevaço), em Minas Gerais. 

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“A principal mudança trazida por esses métodos é o papel do aluno e do professor na sala de aula. Os alunos têm maior participação e os docentes passam a ser mediadores, pessoas que auxiliam a construção do processo de aprendizagem do estudante”, analisa a coordenadora do curso de medicina da Famevaço, Letícia Lima. 

O modelo é aprovado pelos alunos, que consideram uma forma eficaz de se prepararem para a realidade do trabalho na área. 

“Trabalhamos com pequenos grupos de 6 a 7 alunos cada. Isso faz com que todos interajam, trabalhem em equipe e, para a medicina, isso é fundamental, já que no futuro trabalharemos dessa forma”, explica o estudante Henrique Magalhães, calouro de Medicina na instituição. 

“Convivemos com um método tradicional a vida inteira, desde o primário até o Ensino Médio. Mas agora professor não é mais um mestre de sala, mas sim um tutor que nos auxilia no caminho que deve ser seguido”, completa o estudante Igor Castro.

*Colaborou Andressa Muniz

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