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O imperativo da qualidade de ensino

Em dez anos, metade das escolas públicas do país vai oferecer ensino integral. Mas, aumentar a carga horária não basta

Aulas de robótica na Escola José Bonifácio, em Novo Hamburgo (RS): parcerias ajudam contraturno a não virar um peso | RBS
Aulas de robótica na Escola José Bonifácio, em Novo Hamburgo (RS): parcerias ajudam contraturno a não virar um peso (Foto: RBS)

Uma das metas do Plano Nacional da Educação (PNE), a implementação do ensino em tempo integral deve ser um caminho sem volta no Brasil. A perspectiva é de que, em dez anos, 50% das escolas públicas e 25% dos estudantes tenham acesso a pelo menos sete horas de aprendizagem por dia. O simples aumento da carga horária, entretanto, não é a receita para a melhora do desempenho dos alunos e do sistema educacional do país, mas um dos ingredientes. Quantidade não garante qualidade, dizem especialistas.

Logo após a sanção da presidente Dilma Rousseff ao plano ser publicada no Diário Oficial da União, a educadora Guiomar Namo de Mello alertou para o risco de apenas aumentar o tempo. "Se a escola é ruim em um período, em dois ela é pior."

As experiências de colégios que já oferecem ensino integral apontam que o aumento do tempo só poderá melhorar a aprendizagem se for relacionado com uma mudança no espaço e no conteúdo. Ou seja, para vencer a guerra contra os baixos desempenhos educacionais – entre os 65 países comparados no último Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), de 2012, o Brasil ficou em 58.º lugar em Matemática –, as escolas brasileiras precisam entrar no campo de batalha com três armas: tempo, espaço e conteúdo.

Percursos

"Quando se aborda a questão da educação integral, não se fala somente de ampliação da jornada na escola, mas também de uma concepção de educação mais ampla", informa o estudo Percursos da educação integral: em busca de qualidade e equidade, publicado pela Fundação Itaú Social e pela Unicef.

Aluno integral

O Brasil agora tem o desafio de trabalhar pela qualidade dessas horas extras. Com base em experiências existentes no país, a pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ana Maria Cavaliere identifica dois caminhos a serem trilhados pela educação brasileira: a escola de tempo integral e o aluno de tempo integral.

O primeiro modelo é focado no fortalecimento da instituição, com mudanças na estrutura, aquisição de equipamentos e aposta em profissionais com formação diversificada.

Segundo modelo tem ênfase na oferta de atividades aos alunos no turno alternativo ao do currículo tradicional, a partir da relação com instituições de diferentes setores, utilizando espaços e agentes fora do ambiente escolar.

Essa alternativa, que foca o entorno da escola, abre espaço para que as parcerias com ONGs se tornem mais comuns no país, assim como ocorre nos Estados Unidos.

Avanço começa na vizinhança

Com educação integral desde 2009, a Escola Municipal de Ensino Fundamental José Bonifácio, em Novo Hamburgo, Região Metropolitana de Porto Alegre, investe na parceria com outras instituições para oferecer atividades no contraturno. Localizada no bairro Primavera, periferia da cidade, a escola atende 370 alunos até o 5.º ano do ensino fundamental. Quase metade dos estudantes integra o programa Mais Educação, do governo federal, com seis horas e meia de aprendizagem diárias. Frente a limitações de espaço, o colégio tem parcerias com uma paróquia, com o Sindicato dos Comerciários, com uma escola de samba, e com uma escola técnica.

Segundo a diretora Cristina Dorneles, para a escola, contar com parcerias com ONGs foi o caminho para vencer a falta de espaço na hora de oferecer o ensino integral. "Só temos uma quadra de esportes", relata a diretora.

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