
Élida Oliveira, especial para a GazetaA interação entre escola, pais e filhos deve estar acompanhada da noção de autoridade, a imposição de limites que levará autonomia à criança. Para a pós-doutora em Educação e professora da Universidade Federal do Paraná, Tânia Stoltz, é na escola e na família que ocorrem a preparação para a vida adulta. A relação deve favorecer o diálogo, o limite, a afetividade e a maturidade dos filhos. Ela reforça até que ponto os pais podem questionar a autoridade da escola, sem que seja prejudicial à formação da criança.
Como se dá a confiança entre pais, filhos e escola?Este processo tem início quando se reconhece que o outro tem algo a ensinar. Assim tem início uma relação de autoridade, baseada na confiança e nos bons exemplos. Por isso, os pais devem agir de acordo com os valores que ensinam aos filhos. Já a escola deve agir conforme o projeto pedagógico pelo qual foi escolhida pelos pais.
Qual a principal diferença entre autoridade e autoritarismo?O autoritarismo se impõe com arbitrariedade, punição e violência, a autoridade se conquista com o diálogo. É necessário haver um equilíbrio, pois a criança precisa de limites e de alguém que provoque reflexões sobre suas atitudes. Na escola, um exemplo de autoritarismo pode ser quando o professor deixa de esclarecer as questões do aluno. Em casa, quando são excluídos de processos de escolhas simples, quando não podem participar da dinâmica familiar.
Com quais atitudes os pais diminuem a autoridade da escola perante os filhos?Quando os pais não dão importância aos estudos ao enfatizarem que há pessoas que estudaram e hoje não atuam em suas áreas ou quando não atribuem valor ao estudo, ligando-o mais ao benefício financeiro do que ao conhecimento. Os pais diminuem a escola quando elogiam ou relativizam o fato de o filho ter tomado uma suspensão ou o fato de ele ter afrontado um professor ou funcionário. Quando a criança não tem limites em casa ela desrespeita a autoridade escolar por não saber se comportar ao ter um desejo negado. A escola precisa deixar claro como as crianças serão avaliadas e cobrar o cumprimento das regras. Isso é fundamental para ensinar a responsabilidade.
Como saber se a escola está errando?Assim como a família, a escola não é perfeita e pode haver casos de exclusão, preconceito, e até o bullying (violência física ou psicológica, de modo repetitivo, no ambiente escolar). Para evitar isso, os pais precisam ser presentes na educação dos filhos, indo às reuniões, conversando com outros pais, perguntando sempre que tiver dúvidas. Não significa dizer que o filho está sempre certo, mas perceber se a escola agiu de maneira correta. O desenvolvimento da criança deve fazer com que ela recorra cada vez menos aos pais para resolver os seus problemas na escola e, assim, ter cada vez mais autonomia.
Questionar a escola tira dela a autoridade?Não. O diálogo deve existir e de modo democrático, com argumentos críticos e racionais. Já a escola deve saber ouvir e analisar os argumentos apresentados. O espaço de debate deve ser democrático. Muitas vezes os pais podem proteger seus filhos de maneira excessiva, o que parece ser uma boa paternidade, mas que atrapalha o aprendizado da criança para a vida em sociedade.
Os pais devem proteger a criança de alguma situação na escola?Não, deve estimulá-la a resolver os problemas por si própria, mas sem abandoná-la, acompanhando-a e orientando-a. Assim, as crianças criam autonomia. A escola pode estimular os alunos a criar, junto com os professores, regras de avaliação e de convivência. Testando as próprias propostas, aprenderão a ter responsabilidade sobre seus atos.
A quem os pais devem ouvir em casos de conflito?Quando as crianças trazem al-gum fato novo, devem estimulá-las a verbalizarem o que aconteceu. Se foi um conflito com um colega ou o professor, devem instruí-las a elas mesmas conversarem sobre isso. Se o caso for recorrente, o contato com outros pais irá tirar a dúvida se o que acontece é apenas uma interpretação do filho.
Ao estabelecer limites, como aplicá-los na escola?Basta que os alunos tenham o conhecimento das regras para que elas já possam ser aplicadas. Inclusive as mais rigorosas, como as advertências e as suspensões. Mas se professores, pais e comunidade estão articulados, as punições tendem a pouco ocorrer. O problema é que hoje predomina o abuso e o desrespeito generalizado à qualquer colocação de limites.
A família deve dar total autonomia à escola quanto à educação das crianças? Se der o máximo de autonomia, a família será negligente, porque há responsabilidades que são exclusivamente dos pais, e que eles devem assumir. Quando os pais delegam tudo para a escola, a criança se sente abandonada e insegura. Se for o contrário, se a família não confiar à escola alguns aspectos da educação, que procure outra instituição. Para as crianças, confiança é fundamental. Por isso é importante participar das reuniões pedagógicas, conhecer o projeto político pedagógico da escola e vê-la como parceira, e não inimiga, na educação do filho.



