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Quando o primeiro filho de Purva Brown ainda era uma criança muito jovem, seu marido James apresentou a ideia do homeschooling. Eletricista, ele passava boa parte de seu tempo em escolas públicas, instalando e consertando alarmes de incêndio e realizando outros trabalhos. Apoiado em sua escada, um outsider com uma visão de dentro do sistema, ele ganhou uma perspectiva valiosa sobre o sistema americano de ensino público: o viés político e a injustiça em relação aos garotos o abalaram.

Intrigada pela ideia de homeschooling, Purva devorou livros de John Holt, o educador e pioneiro na iniciativa cujos muitos livros incluem How Children Learn (1967) e Teach Your Own (1981) (“Como Aprendem as Crianças” e “Ensine do Seu Jeito”, respectivamente); e de John Taylor Gatto, que foi escolhido Professor do Ano do Estado de Nova York e então anunciou que estava abandonando sua carreira de 30 anos em um artigo no Wall Street Journal.

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Em Dumbing Us Down: The Hidden Curriculum of Compulsory Schooling (“Emburrecendo: O Currículo Escondido da Escolaridade Obrigatória”, em tradução livre), Gatto escreve: “Está na hora de encararmos o fato que o ensino institucional é destrutivo às crianças”.

Assim como um número crescente de famílias, os Brown, que vivem em Sacramento (Califórnia), escolheram não enviar seus filhos para escolas, optando pelo homeschooling.

Purva possui um blog e um livro, intitulados The Classical Unschooler – Education without School (“Um ‘desescolarizado’ Clássico – Educação sem Escola”, em tradução literal). Neles, o autor descreve como mistura a educação filosófica clássica (a gramática, a lógica e a retórica) com valores da educação direcionada pelo próprio aluno, ou “unschooling”. Ela e seus filhos – de 10, 9 e 6 anos – passam cerca de duas horas por dia estudando o conteúdo acadêmico. O resto do dia é dedicado às paixões que as crianças descobrem.

O mais recente dado do Departamento Americano de Educação sobre homeschooling indica que cerca de 2 milhões de jovens aprenderam em casa em 2016, em comparação com apenas 850 mil em 1999.

Brian Ray, presidente do Instituto Nacional de Educação em Casa, sugere que os números de homeschooling são muito maiores, e que a tendência é de que o crescimento continue. Parte desse crescimento pode ser atribuído aos bons resultados acadêmicos daqueles que estudam em casa, que geralmente conseguem notas bem melhores que as de alunos de escolas públicas em testes padronizados.

Dados do governo federal sugerem que o principal fator motivador para famílias optarem pela educação em casa seria a “preocupação com o ambiente das escolas, como segurança, drogas e pressão de colegas”. Essa prioridade representa uma mudança em relação a anos anteriores, quando o desejo de prover uma educação religiosa ou moral era o principal objetivo de famílias adeptas ao homeschooling.

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A população que recebe educação em casa também mudou nessas duas últimas décadas: os homeschoolers (como são chamados os educados em casa) de hoje são mais demograficamente, geograficamente e ideologicamente diversos. 15% dos homeschoolers de hoje são hispânicos, em comparação com apenas 5% em 2003. 8% são negros. O número de negros que recebem educação em casa dobrou entre 2007 e 2011.

Maleka Diggs não tinha a intenção de ensinar suas filhas em casa. Ela e seu marido, com suas duas filhas, se mudaram para um apartamento em uma disputada vizinhança da Philadelphia com renomadas escolas públicas. Mas quando Diggs levou sua filha mais nova para matrícula no jardim de infância, trazendo os documentos necessários para provar residência e elegibilidade, o diretor da escola não acreditou que ela morava onde morava e fez comentários depreciativos, incluindo se eles pagavam seu aluguel. “Estava brava e machucada, mas foi o melhor dia porque foi o início da minha jornada em direção ao homeschooling”, ela conta.

Maleka deixou seu emprego corporativo e começou a replicar a escola em casa. Ela estava determinada a criar um ambiente acadêmico rigoroso para suas filhas, completo com tabelas, prateleiras e sinos, mas a rigidez começou a distorcer as relações mãe/filha e a prejudicar o aprendizado.

Ela então começou a explorar a educação “autodirecionada”, evitando o modelo “ensine e teste” das escolas em favor do aprendizado conduzido pelo interesse. Suas filhas, hoje com 13 e 11 anos, aprendem também nas ruas da cidade, imersas na atmosfera urbana ao seu redor.

Sua filha mais velha lidera um clube do livro para jovens e está iniciando um negócio baseado no seu talento com culinária. A filha mais nova toca tambor em uma orquestra. Diggs lançou a Ecletic Learning Network (“Rede de Aprendizado Eclético”, em tradução livre) para criar conexões entre homeschoolers e parcerias com organizações locais dispostas a oferecer programações para estudantes. “Minha missão é construir [uma] comunidade, uma família de cada vez”, diz.

Bases de redes de homeschooling como estas estão se espalhando, com centros físicos de aprendizado que tornam a opção da educação em casa algo realista para mais famílias.

“Nunca em um milhão de anos eu pensava que faria isso”, diz Britt Hamre, professora de educação na Escola de Professores na Universidade de Columbia.

Seu filho, Finn, não gostava da escola, por considerá-la tediosa e causa de ansiedade. Então ela decidiu educá-lo em casa quando ele estava no início do ensino fundamental, contratando tutores e encontrando aulas enquanto ela e seu marido flexibilizavam seus horários de trabalho.

“Pensava que só tentaria isso por um ano”, relembra. Finn, agora com 14 anos, nunca voltou pra escola. Ele passa parte da sua semana na Dida Academy, um centro de aprendizagem autodirecionada para homeschoolers entre 11 e 18 anos de idade no Brooklyn, onde ele trabalha em projetos individuais, sai com colegas e recebe apoio de facilitadores adultos.

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“Sou uma grande defensora das escolas públicas”, diz Hamre, cuja filha frequenta uma instituição pública na cidade de Nova York. “Mas o que aprendi sobre crianças, ensino e educação ao longo de minha carreira e sendo mãe, é que, à medida que escolas se tornam cada vez mais como pequenas fábricas, focadas na complacência, nem todas as crianças se adaptam a esse molde.”

Considerando as oportunidades que o homeschooling oferece para criar educação de alta qualidade adequada às necessidades das crianças, não é surpresa que cada vez mais pais americanos estão dando uma chance ao modelo.

*Kerry McDonald é o autor de livros sobre o homeschooling.

©2018 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês.

Tradução: Rafael Baltazar

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