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Rodrigo dos Santos Custódio, estudante de Jornalismo da Facinter: “A Federal, pra mim, é utopia. Preciso trabalhar e estudar. Não tenho como fazer um curso em tempo integral” | Rodolfo Bührer/ Gazeta do Povo
Rodrigo dos Santos Custódio, estudante de Jornalismo da Facinter: “A Federal, pra mim, é utopia. Preciso trabalhar e estudar. Não tenho como fazer um curso em tempo integral”| Foto: Rodolfo Bührer/ Gazeta do Povo

Queda na concorrência é motivo de euforia

A redução na procura pelo vestibular da UFPR, somada ao au­­mento na oferta de vagas (de 4.034 para 5.334, ou 32,2% nos últimos seis anos), fez com que a concorrência geral despencasse em 4,7 candidatos por vaga no período: passou de 12,6 em 2003 para 7,9 candidatos por vaga em 2009.

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  • Veja a diminuição do número de inscritos nos últimos seis vestibulares

Nos últimos seis vestibulares da Universidade Federal do Paraná, o total de candidatos caiu, em mé­­dia, 15,6% em comparação com o número de interessados em 2003, ano em que a instituição teve recorde de inscrições – 50,7 mil (descontando-se quem disputava vagas para a Escola Técnica da UFPR e ao curso de formação de oficiais da Polícia Militar) contra uma média de 42.792 nos anos seguintes. Em números absolutos, isso equivale a uma queda média de 7.908 inscritos/ano no processo seletivo da maior universidade pública do estado.

A explicação para a redução pode estar numa mudança de perfil do ensino superior brasileiro. De acordo com a pós-doutora do setor de Educação da UFPR Regina Maria Michelotto, desde 1996 houve uma expansão em massa da oferta de vagas no sistema particular. Regina participou de uma pesquisa que analisou a expansão do ensino superior entre os anos de 1991 e 2004. No período a oferta de instituições superiores na rede privada aumentou 267% no Brasil. No Paraná, o crescimento foi quase o dobro: 412%. Mesmo com a expansão do ensino superior no Brasil, Regina ressalta que o acesso ainda é pequeno – 12% dos jovens brasileiros entram com idade correta na faculdade.

Na opinião da pós-doutora, programas do governo federal como o Universidade para Todos (ProUni) e Fincanciamento Estudantil (Fies) auxiliaram no ingresso na rede privada de estudantes de baixa renda que tinham dificuldades para aprovação na rede pública, por causa da alta concorrência. "Isso não é o ideal, porque as particulares ainda têm o caráter mercantil como prioridade. A expansão deveria ter ocorrido na rede pública também", diz. O ProUni oferece bolsas parciais ou integrais em faculdades privadas desde 2005. E o Fies concede financiamento das mensalidades a baixos juros para os estudantes.

Já a mudança da pirâmide etária é uma das explicações encontradas pelo coordenador do Núcleo de Concursos da UFPR, Raul Von Der Heyde. Coincidência no calendário com universidades públicas estaduais e facilidade para ingresso no ensino privado foram outras justificativas apontadas. "Agora temos duas federais no Paraná e mais vagas nas faculdades públicas. A maioria das instituições está fazendo seus concursos em duas fases. Fica difícil fazer vestibular sem que haja coincidência de datas", diz. A expectativa da instituição é manter o número de inscritos na casa dos 40 mil.

O economista, articulista da re­­vista Veja e assessor da presidência do grupo Positivo Cláudio de Moura e Castro diz que não adianta procurar explicações dentro do ensino superior. "O ensino fundamental deixou de crescer devido à mudança na pirâmide etária. Para­lelamente a isso, há uma fadiga das universidades federais e refinamento das particulares, que estão se tornando mais arrumadinhas", diz.

O aumento da oferta de cursos profissionalizantes também explica o interesse menor pela UFPR, na opinião do reitor do Instituto Federal do Paraná (IFPR), Alípio Leal Neto. Antes de se transformar em Instituto, a Escola Técnica da UFPR ofertava em média 500 vagas para o ensino profissionalizante em Curitiba. Em 2008 foram oferecidas 2.290 vagas em todo o Paraná, sendo 845 só em Curitiba. "Temos educação de boa qualidade onde as pessoas não precisam se deslocar tanto", diz.

Ensino a distância

Outra causa provável é a expansão do ensino a distância. A possibilidade de fazer uma faculdade pública e gratuita em casa, com aulas em telesalas que ocorrem apenas uma vez por semana, fez com que a técnica em gestão pública Ilizete Pereira Jarek, 55 anos, nem pensasse em ingressar na UFPR. Moradora de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, Ilizete começou em setembro a graduação em Gestão Pública a distância, oferecida pelo Instituto Federal do Paraná (IFPR). "Não teria condições de ir até Curitiba todos os dias", diz.

A rotina de Ilizete não é menos puxada do que a de qualquer outro estudante de graduação presencial. Acorda às 5h30, trabalha até as 17 horas num posto de saúde da prefeitura do município, co­meça seus estudos às 18h30 e vai noite adentro, até as 23 horas. "Ao invés de ficar assistindo televisão eu estudo", diz. A graduação pelo IFPR por enquanto só é oferecida a funcionários públicos do estado ou do município, em 239 cidades do Paraná. Estão matriculados cerca de 6 mil alunos nesta modalidade.

Enem

A baixa no interesse pelo vestibular da UFPR pode ser medida também a partir do número de inscritos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que agora é usado como critério de seleção para 14 das 55 universidades federais do país. No Paraná, a Universi­dade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) vai usar o Enem como substituto ao vestibular, enquanto na UFPR o exame valerá 10% na composição da nota final.

Em Curitiba, 58.996 pessoas fizeram inscrição para o Enem e apenas 42.144 estudantes estão inscritos no vestibular da UFPR, uma diferença de 28,5%. Se for considerada a origem dos candidatos, cerca de 38 mil vêm de todo o estado do Paraná e não apenas da capital, ressalta o coor­­denador do Nú­­cleo de Concursos da UFPR, Raul Von Der Heyde. "Muita gente que optou em fazer o Enem não optou pela UFPR. A tendência de queda vem sendo observada em todas as universidades federais", diz.

O Enem também é usado como principal requisito para a oferta de bolsas do Programa ProUni. Mes­mo sem ter recebido este benefício, o bom desempenho no Enem contou pontos para que o estuda nte do terceiro período do curso de Jornalismo Rodrigo dos Santos Custódio, 20 anos, conseguisse uma bolsa de estudos parcial (desconto de 75%) na Faculdade Inter­na­­cional de Curitiba (Facinter). "A Federal, pra mim, é utopia. Preciso trabalhar e estudar. Não tenho como fazer um curso em tempo integral", diz. O estudante veio do interior de São Paulo para estudar e trabalhar em Curitiba.

Já a assistente técnica em informática Carla Pietra dos Santos, 21 anos, não vai tentar uma vaga na UFPR porque a instituição não oferece o curso na área de interesse dela: Meca­trô­nica. É a primeira vez que Carla tenta ingressar numa instituição de ensino superior e conta com três opções. Pode usar a nota no Enem para ingressar no curso de Tecnologia da Mecatrônica na UTFPR ou para tentar bolsas do ProUni em Engenharia da Meca­trônica na Pontifícia Univer­sidade Católica (PUCPR) e Uni­versidade Positivo (UP).

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