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Débora, Vanessa e Jocirema: “Como vamos ensinar desse jeito?” | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Débora, Vanessa e Jocirema: “Como vamos ensinar desse jeito?”| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Os professores brasileiros não estão sendo preparados para atuar em salas de aula da educação básica. É o que revela uma pesquisa inédita da Fundação Carlos Chagas, encomendada pela Fundação Victor Civita, que avaliou as grades curriculares de 71 cursos de Pedagogia em cinco regiões do país, um recorte dos 1.562 cursos existentes. Uma das principais conclusões é que apenas 22,6% das disciplinas que integram currículos dos cursos de Pedagogia no país são voltadas para didáticas específicas, metodologias e práticas de ensino, ou seja, abordam o "como ensinar".

Para a vice-presidente da Fundação Victor Civita, Cláudia Costin, a pesquisa mostra que os cursos de Pedagogia estão preparados para capacitar pesquisadores em educação, mas não professores. "Tínhamos consciência de que havia um problema sério na formação docente, mas não sabíamos até que ponto os cursos de Pedagogia tinham sua parcela de culpa na má qualidade da educação brasileira", diz. O resultado foi entregue na semana passada ao ministro da Educação, Fernando Haddad, que se comprometeu em adaptar os currículos às realidades das salas de aula.

O estudo mostra ainda que os professores aprendem pouco sobre "o que ensinar". Do total da grade, apenas 7,5% são disciplinas destinadas aos conteúdos a serem ministrados nas séries iniciais do ensino fundamental (alfabetização, português, matemática, história, geografia e educação física). Essa foi a principal reclamação de três acadêmicas que devem concluir curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) no fim deste ano. "Não temos bagagem em termos de conteúdo dessas matérias, como vamos ensinar desse jeito?", questionam as colegas Débora da Silva, 47 anos, Vanessa Cordeiro, 25, e Jocirema Machado, 40.

Segundo a pesquisa, nem na teoria os cursos são formatados para a didática. Dos 26% das disciplinas que compõem a categoria "Fundamentos Teóricos da Educação", apenas 3,4% são referentes à Didática Geral. O estudo revela ainda que as redes públicas valorizam mais os saberes teóricos no momento de contratar docentes. Apenas 31% das questões versam sobre conteúdos a respeito de "como ensinar". "Isso mostra que é maior a valorização acadêmica e de legislação", diz Cláudia.

A pesquisa analisou também as ementas dos cursos de Pedagogia e concluiu que o conjunto disciplinar é muito disperso. Nas 71 instituições pesquisadas foram encontradas 3.107 disciplinas obrigatórias. Outro dado que chama a atenção é que a escola, como instituição social e de ensino, é elemento quase ausente: nas ementas analisadas a palavra "escola" aparece em apenas 8% delas. Na opinião da diretora do curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Maria Sílvia Bacila Winkler, a universidade precisa rever o seu currículo sempre. "Mas tudo tem de estar ligado à escola, na escola e para a escola. A formação dos professores tem de estar mirada e focada para isso", diz. No curso de Pedagogia da PUCPR, Maria Sílvia garante que 50% do currículo está voltado à formação específica dos docentes e pedagogos e que desde 2006 busca seguir as Diretrizes Curriculares Nacionais.

A coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Positivo, Helena Bartnik, entende que a prática pedagógica não está só nos estágios e diz que a proposta do curso busca seguir as diretrizes do Ministério da Educação. "Buscamos um equilíbrio entre os fundamentos teóricos, práticos e metodológicos. Muitas universidades ficam muito no teórico", afirma. Na avaliação da coordenadora do curso de Pedagogia da UFPR, Maria Célia Barbosa Aires, as diretrizes oficiais insistem em esvaziar a formação e a identidade do profissional. Segundo ela, um novo currículo deverá ser implantando na UFPR em 2009.

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