
Pergunte a qualquer criança e a resposta é quase certa: o recreio é a melhor hora do dia, momento em que elas podem brincar e se divertir com os amiguinhos da escola antes de voltar para sala de aula. Entre os pais e professores, o intervalo é visto como um momento para os alunos "fazerem nada", mas se engana quem acha que ele é sinônimo de ociosidade. "No recreio, as crianças não descansam. Pelo contrário, elas produzem muito mais", comenta o educador e produtor cultural Nélio Spréa.
E ele sabe do que está falando. Depois de dois anos pesquisando as brincadeiras feitas por crianças dos primeiros anos escolares de escolas municipais de Curitiba, foco de sua dissertação de mestrado em Educação na Universidade Federal do Paraná (UFPR), ele lançou um livro e um documentário em parceria com o fotógrafo Elisandro Dalcin sobre o assunto. "Ao brincar, a criança se comunica, exercita sua ludicidade e desenvolve sua capacidade de viver em grupo. E é justamente ao socializar que ela cresce no mundo."
Spréa explica que, nas brincadeiras, as crianças aprendem a se expressar e a se adequar às regras do grupo. Com isso, elas adquirem novos conhecimentos e valores e se deparam com o constante risco de errar, o que exige criatividade suficiente para inventar novas saídas a cada desafio.
"As crianças sempre inventam coisas novas, mesclam jogos de décadas passadas com músicas que estão na mídia hoje e criam versos a partir do que vêem durante as aulas. Em pouco tempo, as brincadeiras se disseminam e geram novos jogos", conta a flautista e professora da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter), Fernanda Souza, que em sua dissertação de mestrado em Música na UFPR fez uma pesquisa a respeito dos jogos de mãos que as crianças criam durante o recreio.
Benefícios
Segundo Spréa, outro benefício das brincadeiras durante o recreio é a autonomia que as crianças adquirem, já que podem criar suas próprias regras, desenvolver e trocar saberes, criar laços de amizade e afeto com seus colegas, e passar por experiências que serão especiais para sempre. "Quem não lembra com saudade das brincadeiras da infância? Essa marca afetiva é comum e faz parte do desenvolvimento de todos nós", diz.
Para Fernanda, brincar também é importante por proporcionar formas diferentes de aprender e ensinar, que poderiam ser utilizadas também durante as aulas. "Nós, professores, usamos um modelo fragmentado, em que o conteúdo é dividido em partes. Entre as crianças, durante as brincadeiras, o importante é o todo, o contexto e as formas diferentes de chegar a um mesmo resultado. Se a escola utilizasse essa visão global na hora de ensinar, com certeza as crianças teriam muito menos dificuldade para aprender", explica.



