
O robô humanóide (o Asimo, da Honda) é um fofo: sobe escadas, chuta bolas, sabe ser um excelente anfitrião e até rege orquestras. Mas essa robótica dos nossos sonhos, em que teríamos empregados eletrônicos para atender a todos os nossos caprichos, não é a verdadeira robótica. Ela, na verdade, passa longe disso e tem uma face mais prosaica: a dos robôs menores que servem para estimular o conhecimento científico.
- Esses robôs humanóides são, na verdade uma excelente propaganda para esse ramo da ciência, mas sua produção é cara demais, e eles são inviáveis comercialmente - explica o professor Marco Antônio Meggiolaro, do departamento de Engenharia Mecânica da PUC-Rio e coordenador do laboratório de robótica da universidade carioca.
Custo de robôs humanóides ainda é caro demais
O custo para produzir um robô humanóide é de fato proibitivo (o Asimo custa pouco menos de US$ 1 milhão e é alugado em esquema de leasing por US$ 166 mil). Marco Antônio explica que os robôs para fins de pesquisa podem ser bem menores, semelhantes a veículos estilizados e custar uns US$ 10 mil.
- Eles são em geral feitos com Lego ou Vex (uma espécie de Lego metálico) e usados nas mais variadas competições, como a RoboGames (olimpíada internacional) - diz o professor. - Essa história vem desde os anos 70, no MIT (Massachusetts Institute of Technology). E há várias modalidades: combate de robôs, sumô, futebol, hóquei...
A PUC foi campeã este ano na RoboGames com o valente robozinho Touro. Parece só diversão, mas não é. Primeiro, esse tipo de robótica, mais acessível, permite despertar os estudantes para a prática de matérias tradicionalmente consideradas "difíceis", como explica o professor Charles Esteves Lima, administrador de redes e responsável pelo laboratório de robótica do Colégio Liessin, que trabalha com alunos desde a quinta série do ensino fundamental até o fim do ensino médio.
- Começamos há sete anos, com um laboratório de eletrônica, que evoluiu para o de robótica, basicamente com software de programação e peças Lego, mas também trabalho com o que chamo de "pedagogia da sucata", em que criamos robôs com objetos velhos e usados - explica Charles.
Robôs ensinam na prática matérias como física e matemática
Com isso, a garotada vê na prática o resultado de todas aquelas fórmulas e contas de física, matemática, mecânica, eletricidade... e ainda começa a aprender os fundamentos da programação, através de softwares intuitivos que trabalham com ícones para dar instruções aos robozinhos. Assim, desperta para a tecnologia.
Na universidade a robótica também é multidisciplinar, atraindo o interesse de estudantes de engenharia, mas também de informática. E as competições são um meio de estimular idéias cada vez melhores, como a FIRST (For Inspiration and Recognition of Science and Technology) Lego League, em que os robôs realizam várias missões simuladas (capturar objetos, apagar incêndios, superar obstáculos, etc).
- A robótica do futuro não é necessariamente a dos humanóides, mas algo que será inteligente e fará suas tarefas em silêncio, sem que percebamos - diz Marco Antônio. - E esses robôs de competição são o primeiro passo para tarefas industriais importantes, algumas de alta periculosidade. Um de nossos robôs ajuda a inspecionar o reator da usina nuclear Angra I.
Os robôs podem ter inteligência embutida ou não. Depende do objetivo. No caso dos robôs de Angra, eles são controlados por rádio, explica Marco Antônio. Mas, em determinadas modalidades de competição, como o sumô, eles precisam tomar algumas decisões para ter um bom desempenho, e aí a programação é crucial.
Competições atraem cada vez mais estudantes
Não por acaso, as competições vêm atraindo cada vez mais estudantes. A Olimpíada Brasileira de Robótica, que este ano terá sua segunda edição em Salvador, atraiu na estréia seis mil competidores de escolas de todo o país. Este ano, o número dobrou, diz o organizador da competição, Luiz Marcos Garcia Gonçalves, professor da área de Engenharia da Computação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
- Temos três categorias: uma teórica, uma prática, e o duatlon, que mistura as duas coisas - diz Luiz.
Nessa última categoria, o finalista do Estado do Rio é o estudante Amyr Lozober, 17 anos, estudante do terceiro ano do ensino médio do Colégio Liessin.
- Sempre gostei dessa área de robótica e penso em cursar Engenharia Mecânica - diz Amyr. - Para a Olimpíada, cheguei à final fazendo uma prova teórica de física e matemática aplicadas à robótica. Em Salvador, receberei especificações para montar um robô ao vivo.
O colégio também foi campeão do estado na modalidade prática, com um robô lutador de sumô elaborado pelo Time 4. No Grande Rio e Niterói, outras escolas também lidam com robótica, como Notre Dame, Santo Inácio, Escola Parque, Instituto Gay-Lussac e Liceu Franco Brasileiro.
A convergência tecnológica aponta para grandes novidades na robótica no futuro. Para Charles, a inteligência artificial permitirá que eles tomem decisões mais complexas e sejam mais empáticos com os humanos. Marco Antônio conta que na própria PUC está sendo desenvolvido um protótipo capaz de ler à distância pensamentos de uma pessoa numa cadeira de rodas, via sensores sem fio colocados sobre a cabeça. Basta a pessoa pensar em mover o braço direito ou esquerdo, e a cadeira se move naquela direção. O pensamento num objeto girando leva a cadeira à frente, e a tentativa de fazer uma conta matemática a impele para trás.



