
Matheus, 13 anos, e João Victor, 11 anos, são irmãos, recebem a mesma educação, estudam na mesma escola, mas são bem diferentes. Enquanto o mais novo é introspectivo, sério e excelente aluno, o primeiro é mais agitado, faz amizade com facilidade mas não tira notas tão boas. A mãe, Lilian Kazumi Yagui, tem uma preocupação comum a todos os pais em situação semelhante: como tratá-los sem eleger o melhor e causar traumas que podem persistir durante toda a vida?
A resposta é simples, embora exija cuidado constante, seja na escola ou em casa. "Evitar comparações é o primeiro passo. Jamais diga que um irmão é melhor ou cobre desempenho igual. Isto estimula a competitividade e compromete a autoimagem da criança que se sai pior em alguma atividade, principalmente a escolar", diz a terapeuta comportamental e professora de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Suzane Schmidlin Löhr.
Na escola
A autoimagem da criança é formada por aquilo que dizem dela, principalmente pais, colegas e professores. Por isso não basta que apenas a família tome cuidado para não comparar, a escola também precisa estar preparada, ainda mais quando o professor dará aulas para os dois irmãos. Se um teve um desempenho excelente e se destacou nas notas e nos trabalhos isto não precisa ser lembrado. Não só porque o outro já deve saber como também porque precisa desenvolver suas próprias competências, que não necessariamente devem ser iguais às do irmão. Se um vai bem nos estudos, o outro pode ser bom em relacionamento interpessoal, por exemplo, o que pode se reverter em benefícios no futuro, mesmo que na hora os pais não percebam isso. "Hoje o mercado não valoriza apenas quem tirou boas notas. Outras competências são bem vistas e o melhor profissional não será necessariamente quem se destacou na escola na infância", explica a psicóloga e diretora do Centro Educacional Evangélico Raquel Momm.
Mesmo que a frase "seu irmão é melhor na escola" não seja pronunciada, às vezes a criança percebe a diferença de desempenho e acaba se sentindo inferiorizada. Lilian, por exemplo, conta que várias vezes ouviu Matheus dizer que sabia que seu irmão era melhor, mais inteligente. Para resolver esta questão a professora Suzane recomenda que pais e professores ressaltem para a criança o que ela tem de melhor, que valorize suas competências e a estimule a investir nelas, sem jamais reforçar que ela sabe menos que o outro.
Entre irmãos
É natural que os pais queiram que aquele filho que se sai melhor ajude o outro na tarefa escolar. Se por um lado a atitude pode ser bem intencionada, por outro pode aumentar a sensação de inferioridade. O resultado vai depender do perfil das crianças. Na hora de decidir é preciso observar como o filho reage se o irmão tenta lhe ensinar algo. Se ele gostar e se animar com a possibilidade de melhorar na escola, não há qualquer problema. Caso contrário pode se sentir inferiorizado.
Porém Suzane alerta ao que pode acontecer ao filho que ajuda. "A aprendizagem em pares sempre é rica para os dois lados, mas um irmão não pode ter a responsabilidade de tutoriar o outro, porque é dever dos pais acompanhar nas atividades de casa, não dele."



