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Estátua de Thomas Jefferson na Universidade da Virgínia. | Troy.
Estátua de Thomas Jefferson na Universidade da Virgínia.| Foto: Troy.

Na manhã de 15 de novembro de 1840, no final da segunda página, o jornal Richmond Enquirer noticiou o primeiro tiroteio em um campus nos EUA. 

Em um único parágrafo chamado “Ocorrência Dolorosa”, o jornal disse que John A. G. Davis, um renomado professor de Direito da Universidade de Virgínia, “foi alvejado por uma mão desconhecida, com uma pistola, na frente da sua moradia” e “a bala o atingiu logo abaixo do umbigo”. Davis morreu. Então uma caçada começou em busca do assassino. 

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Agora quase totalmente esquecido, o episódio tem alguma semelhança com o flagelo moderno de massacres em escolas – das 13 pessoas que morreram na Columbine High School há 19 anos, em 20 de abril de 1999, ao massacre recente na Marjory Stoneman Douglas High School na Florida. A insensatez do motivo. A aleatoriedade das vitimas. A cultura de armas que deu errado. 

No começo da história dos EUA, estudantes costumavam se revoltar com coisas mais pequenas – por exemplo, repolho. Ao contar a história da morte do professor, a Virginia Magazine apontou

No começo do século 19, se revoltar era uma prática comum nos Estados Unidos entre estudantes que não gostavam da comida, das regras ou das punições impostas a eles. Os estudantes William e Mary se revoltaram em 1802 após professores punirem dois dos seus colegas: comida ruim – peixe velho e repolho estragado – incitaram a Rebelião do Repolho Podre em Harvard em 1807. 

Em Charlottesville, em novembro daquele ano, estudantes da universidade fundada por Thomas Jefferson não estavam, até onde sabemos, preocupados com repolho. Armas eram o problema. Matthew Pearl, escritor e autor de um conto baseado no tiroteio, descreveu o episódio em um ensaio em 2011: 

Por muitos anos na Universidade de Virginia, estudantes tinham uma tradição anual de causar confusão no campus, queimando barris e disparando pistolas no ar. Eles queriam a liberdade de portar armas no campus - e cada ano marcava o aniversário de quando as restrições foram estabelecidas; elas resultaram em alguns estudantes sendo expulsos. 

Fatalidade

Na noite de 12 de novembro, tiros foram disparados perto da residência no campus dos professores e funcionários. Um dos estudantes armados era Joseph Semmes que, assim como os outros, estava usando uma máscara. Davis escutou os tiros e “saiu para colocar um fim à algazarra”. Foi quando tudo começou a dar errado: 

Por volta das 21h, ele viu um dos estudantes mascarados se escondendo atrás de um dos pilares. Davis pulou na sua direção e o alcançou. O estudante fugiu, mas virou depois de alguns passos, apontou a pistola e, sem dizer uma palavra, disparou contra o estômago do professor. A bala perfurou seu abdômen e ele caiu no chão com um grunhido. Os estudantes logo se reuniram no pavilhão, conforme se espalhou a notícia de que um professor fora baleado. Vários deles levantaram o corpo flácido e ensanguentado de Davis e levaram o homem ferido para dentro. 

Apesar de os estudantes serem, assim como hoje, pouco animados com autoridades, eles ficaram horrorizados com a morte de um professor popular. Ficando do lado da administração e da polícia que pediu ajuda, eles caçaram Semmes, encontrando-o cerca de um dia depois.

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Semmes parecia pouco se importar com a morte do professor, fazendo piadas enquanto estava detido. Quando um juiz pediu que ele jurasse dizer a verdade perante a Bíblia, ele protestou e afirmou que era ateu. 

A próxima coisa que aconteceu pareceria chocante mesmo hoje em dia: Semmes foi liberado após pagar fiança. Agora um fato nada chocante: ele desapareceu. 

Boatos se espalharam sobre seu paradeiro durante anos. Alguns estudantes disseram que haviam escutado que ele teria se mudado para o Texas. Outros disseram que ele cometeu suicídio. Este boato estava correto, mas só foi confirmado recentemente. 

Em 2013, Jean L. Cooper, bibliotecário na Universidade de Virginia que mantém um blog sobre estudantes da Universidade de Virginia do século 19, encontrou um jornal de Baltimore de julho de 1847 que republicou um artigo do Charlottesville Republican. 

“Ele atirou em si mesmo com uma pistola, a bala entrou pelo olho esquerdo e penetrou o cérebro”, disse o jornal de Charlottesville, descrevendo seu corpo jogado em uma cadeira na casa de seu irmão. 

“Na mesa foi encontrado um bilhete aberto, datado em 9 de julho de 1847, declarando que sua morte foi causada por ele mesmo.”

Tradução: Andressa Muniz

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