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A fachada da Tokyo University Medical: redução de notas de mulheres e de homens que tentam  mais de três vezes o vestibular | Kazuhiro Nogi/AFP
A fachada da Tokyo University Medical: redução de notas de mulheres e de homens que tentam mais de três vezes o vestibular| Foto: Kazuhiro Nogi/AFP

Uma universidade japonesa está no epicentro de um escândalo de machismo no Japão. A instituição pediu desculpas formais à população após admitir a manipulação “sistemática” de resultados de testes para evitar a entrada de mulheres na Faculdade de Medicina.

Após denúncias na imprensa, a Tokyo University Medical divulgou, nesta terça-feira (7), um relatório oficial onde reconhece “graves fatores de discriminação contra as mulheres”, pelo menos desde 2006, ao avaliar os exames probatórios para o ingresso na instituição.

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Mesmo quando acertavam todos os pontos na prova escrita, elas só poderiam conquistar 80 de 100 pontos, apontou o documento. A universidade, que é considerada uma das melhores instituições privadas do país, revelou ainda que aumentava a nota dos candidatos homens que tentavam esse “vestibular” em até três anos após terminar o ensino médio. As candidatas mulheres, por outro lado, nunca recebiam esses pontos extras.

Entre as razões citadas para excluir as mulheres está a de que, por vezes, as médicas não poderiam trabalhar longas horas depois de se casar ou ter filhos. Homens que tentavam o exame por muitos anos seguidos também eram discriminados, mesmo que atingissem as notas necessárias. No Japão, estudantes que desejam se tornar os médicos podem passar anos em escolas preparatórias estudando para o exame.

O reitor da universidade, Tetsuo Yukioka, responsável por esse relatório, negou ter conhecimento da prática. Segundo ele, todo esse sistema discriminatório veio à tona depois de uma investigação do Ministério da Educação japonês, feita após o filho de um servidor público desconfiar dos critérios de seleção da prova.

“Fiquei chocado ao verificar tudo isso”, afirmou Yukioka. O reitor, que esteve envolvido no programa de promoção da diversidade na universidade, disse ainda que se sentia “pesar” pelo caso.

“Sistematicamente ou estruturalmente, as raízes deste problema podem ser muito profundas”, disse Kenji Nakai, advogado da Universidade.

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O episódio causou indignação em um país onde o governo luta por abrir mais espaço para as mulheres no mercado de trabalho, principalmente pela queda acelerada da população. Um dos programas nesse sentido é o “Womenomics”, uma iniciativa do primeiro-ministro Shinzo Abe para incentivar o “brilho” das mulheres na força de trabalho. No entanto, as mulheres representavam apenas 21% dos médicos em 2016, de acordo com o Centro de Pesquisa Gender Equality Bureau Cabinet Office.

“A comunidade médica é tradicionalmente machista”, disse Nobuko Kobayashi, sócia de uma consultora japonesa de recursos humanos. “Existe uma cultura profundamente enraizada de que os homens desempenham os personagens principais e as mulheres permanecem em funções de apoio”.

“Os empregadores não devem penalizar as mulheres quando elas precisam se ausentar e devem recebê-las sem preconceitos quando eles voltam a trabalhar novamente”, aconselhou.

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