
Quem se interessa em estudar as relações humanas em sociedade tem agora mais uma opção além das Ciências Sociais: a graduação em Antropologia. O curso é novo, surgiu há cerca de quatro anos, e há poucos formados. Mas a carreira promete.
Para professores e profissionais, a criação do curso é reflexo do amadurecimento e das exigências do mercado de trabalho. "A Antropologia já pode delinear um campo próprio de formação, sem abrir mão de sua identificação maior no campo das Ciências Sociais.
A questão da demanda por profissionais com formação mais específica, por parte de órgãos públicos, ONGs, comunidades e associações, é também um fator importante", diz o professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Márnio Teixeira-Pinto, autor do projeto de graduação em Antropologia da instituição, que receberá a segunda turma neste ano.
O professor do curso Antropologia Diversidade Cultural Latino-Americana da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) Andrea Ciacchi explica que a área é formada por quatro campos: sóciocultural, que se ocupa das organizações e relações sociais; físico-biológico, que estuda o homem do ponto de vista biológico e de sua evolução; arqueológico, que contempla civilizações do passado por meio de sua cultura material; e linguístico, que estuda o homem a partir de suas formas de comunicação.
Para ele, o candidato deve gostar e saber conversar, ser curioso e sem preconceitos. "Todas as formas de vida são possíveis, legítimas e dignas de interesse. Tentamos entender e fazer entender o mundo que nos rodeia."
Dia a dia
Formada em Direito e mestre em Antropologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Andréia Baia Prestes foi aprovada em licitação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária de Santa Catarina (Incra-SC) e desenvolve uma pesquisa em territórios quilombolas na região de Criciúma no estado, sobre a relação das pessoas com a terra que estão pleiteando.
A escolha pelo mestrado veio de uma ideia de pesquisa. "Queria estudar a vida de crianças que vivem em abrigos, disponíveis para adoção, mas que não são adotadas. Poderia fazer uma especialização na área jurídica, mas senti que ficaria limitada a uma discussão instrumental, de leis.
Com a antropologia, seria possível estudar as pessoas", explica ela, que também atua na área no Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR (MAE), desenvolvendo ações educativas por meio da antropologia, como a caixa didática, em que peças que ajudam o professor a transmitir conteúdos históricos e geográficos.
Ficha técnica
Conheça detalhes do curso e da profissão:Onde estudar
De acordo com o MEC, seis instituições ofertam graduação no Brasil: a Unila, a Pontifícia Universidade Católica de Goiás, a Universidade Federal de Minas Gerais, a Universidade Federal da Paraíba, a Universidade Federal de Pelotas e a UFSC.
Duração do cursoDe 3 a 4 anos, dependendo da instituição.
MercadoO antropólogo pode atuar no setor privado, identificando impactos sociais de projetos implantados em áreas ambientais. É o setor público, porém, que concentra a maior demanda, como no Ministério Público Federal, Incra e Ibama, além de ONGs e no patrimônio, nesse último caso, para diagnosticar efeitos sociais de transformações na estrutura de um bairro, por exemplo.
Remuneração
Não há regulamentação da profissão nem piso salarial. A Associação Brasileira de Antropologia (ABA), em convênio com a Procuradoria-Geral da República (PGR), organizou uma tabela de honorários, que vai de R$ 12 mil a R$ 39 mil por perícia. No setor público, a remuneração varia muito.
Desafio
Os graduados encontram um obstáculo a mais na hora de entrar no mercado de trabalho. Como a graduação é recente, a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) só indica profissionais com mestrado ou doutorado para perícias judiciais, apesar de aceitar como associados estudantes de graduação.



