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O fim da obrigatoriedade do diploma de Jornalismo não representa um enfraquecimento da graduação na área.Uma comissão do Ministério da Educação (MEC) formada por oito especialistas trabalha desde fevereiro na reforma das diretrizes curriculares dos cursos de Jornalismo. O objetivo é melhorar a qualidade da formação, considerada estratégica pelo governo para o fortalecimento da democracia no país. O presidente da comissão, , esteve este mês em Curitiba para debater a revisão dos currículos. Em entrevista ao caderno Vestibular, ele falou sobre a decisão do STF e as principais mudanças propostas para os cursos.

Quando e como a comissão foi formada?

A comissão foi instalada no dia 19 de fevereiro. Em outubro ou novembro do ano passado, o ministro Fernando Haddad me telefonou e me convidou para presidir a comissão. Ele me explicou que está fazendo um trabalho de reformulação do ensino superior brasileiro a partir de quatro áreas estratégicas: Direito, Medicina, Jornalismo e Pedagogia, que são, segundo ele, os quatro pilares para o fortalecimento da democracia.

Organizamos audiências públicas para que todos os segmentos tivessem oportunidade de falar. Fizemos uma consulta com a comunidade acadêmica do Rio de Janeiro e uma no Recife, quando ouvimos empresas, sindicatos, associações profissionais, enfim, quem emprega e quem executa o trabalho. E concluímos a rodada em São Paulo, ouvindo a sociedade civil organizada, os destinatários e as fontes do jornalismo. Enquanto isso, abrimos na página do MEC na internet uma consulta a quem quisesse se manifestar. Com base nesses elementos, é que nós fizemos as novas diretrizes curriculares.

Quais são as principais mudanças sugeridas pela comissão?

A filosofia da comissão é a seguinte: nós estamos querendo melhorar o que está aí e não inventar a roda. Nossa preocupação foi fazer um currículo para o curso de Jornalismo, desmembrando-o da Comunicação Social. Será um currículo para formar jornalistas e não comunicadores. É claro que nesse processo de formação os alunos vão estudar os processos de comunicação, as teorias da comunicação, mas vão afunilar no jornalismo. A formação humanística também precisa ser reforçada. O jornalista precisa ter conteúdos para colocar nas notícias, nos comentários. Estamos reforçando ainda a formação que nós chamamos de contextual, que é a capacidade de entender os processos de comunicação e a relação do jornalismo com as outras áreas comunicacionais. Além disso, propomos a restauração do estágio supervisionado, que vai contar 200 horas na carga horária dos cursos. Hoje em dia o jornalismo é única profissão que não tem estágio. Sugerimos ainda a criação de um conjunto de atividades complementares, além do currículo obrigatório: haverá 300 horas para que o aluno escolha a área de conhecimento em que quer melhorar a sua formação. Estamos recomendando que a carga horária total do curso seja de 3,2 mil horas. Hoje são 2,7 mil.

Quais serão os próximos passos da comissão?

Temos até 19 de agosto para entregar o relatório para o ministro. Depois o documento será enviado ao Conselho Nacional de Educação e, se for aprovado, todos os cursos existentes terão que se adaptar às novas diretrizes curriculares. Mas você não pode obrigar o estudante que entrou em um determinado regime a cursar outro. As mudanças vão valer para as novas turmas.

Como a comissão recebeu a notícia do fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão?

Nós recebemos a notícia tranquilamente. Não nos cabe omitir opinião sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal.

Mas está sendo estudada ou foi proposta alguma mudança como consequência dessa decisão?

Não. Quando nós começamos a trabalhar era para melhorar a formação do jornalista no Brasil, que, com ou sem diploma, tem de ser melhorada. A decisão do STF é só mais uma razão para o ensino ser melhorado. Mas a falta de regulamentação do mercado profissional permite que se tenha no Brasil o que se tem nos Estados Unidos e em outros países há cem anos.

Há médicos, engenheiros, cientistas políticos que podem fazer um mestrado profissional de dois anos em Jornalismo. Entendemos que essa é uma possibilidade tanto para que o jornalista diplomado aprenda conteúdos quanto para que o diplomado em outras áreas tenha a chance de se preparar para colaborar com os jornais.

Algumas instituições de ensino estudam abrir cursos de tecnologia em Jornalismo, com menor duração do que o bacharelado. Esses cursos não enfraqueceriam a formação do profissional da imprensa?

Se isso for verdade mesmo, não será com o aval da comissão. Estamos recomendado melhorar a graduação plena em Jornalismo. Quanto mais rápido o profissional for para o mercado de trabalho, melhor será. Mas ele tem que ir preparado. Se o aluno conseguir cumprir as 3,2 mil horas em dois anos, não vejo problema.

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