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 | Ilustração: Felipe Lima
| Foto: Ilustração: Felipe Lima

Repercussão

Estudantes apoiam movimento, mas se sentem prejudicados

Embora interpretem as causas da greve de formas diferentes, os universitários mostram-se unânimes diante da opinião de que a declarada paralisação atrapalhará os estudos. "Há várias reivindicações legítimas, mas questiono a greve pelo fato de, na maioria das vezes, serem os alunos os maiores prejudicados", afirma o mestrando em História na UFPR Rafael de Mesquita Diehl.

Apesar do prejuízo nas aulas, o apoio de alunos à greve dos professores vem até pelas mídias sociais. No Facebook, o estudante de Engenharia Mecânica na UTFPR Gabriel Nogueira Zanon declara ser "vergonhoso um país investir milhões em estádios e um professor não ter um aumento de 4% na sua folha de pagamento".

No curso de Direito da UFPR, parte dos alunos acredita que a adesão dos professores não deve ser grande, já que a maioria não tem o salário de docente como única fonte de renda. "Não acho que os professores vão aderir à greve porque a movimentação deste ano parece mais fraca, embora o motivo seja justo", diz o estudante Fulvio Picoloto. (JDL)

Linha do tempo

Confira alguns movimentos grevistas marcantes para a história das paralisações de professores das universidades federais:

• Nov 1980 – 15 dias de paralisação. Com adesão quase total da categoria, 1,6 mil professores em Curitiba e cerca de 33 mil em todo o país, essa foi a primeira grande greve nacional articulada pela Coordenação Nacional de Associações Docentes. Ao todo, 56 dos 58 departamentos da UFPR pararam as atividades completamente.

• Nov 1982 – 30 dias. Com o apoio dos estudantes, a greve teve o objetivo de barrar as ameaças do Ministério da Educação de privatizar o ensino superior público, além de reivindicar questões salariais e a ampliação da discussão sobre o projeto de reestruturação das universidades.

• Mai 1984 – 84 dias. Ganhou força pela efervescência política da época, como a luta pelas Diretas Já e por uma nova Constituinte. O movimento grevista elaborou uma programação extensa de debates sobre os problemas da universidade e a política educacional.

• Mar 1987 – 44 dias. Primeira greve com uma pauta comum de reivindicações postas pelas universidades federais. Entre as exigências estavam mais verba para a educação e a criação de carreira única para os docentes das instituições federais.

• Jun 1991 – 107 dias. Com quase quatro meses de greve e adesão praticamente total, os professes pediam reajuste salarial, garantia de repasse de verbas para as universidades, eleições diretas e democráticas para escolha de dirigentes e direito de sindicalização.

• Abr 1998 – 104 dias. Os docentes contaram com o apoio dos alunos e dos servidores técnico-administrativos para pedir reajuste salarial de quase 50%, recomposição do quadro de docentes das universidades e ampliação de vagas para professores.

• Ago 2001 – 108 dias. Na mais longa das greves, os professores também tiveram a adesão de universitários e servidores. O movimento foi marcado por um abraço simbólico dos manifestantes no Prédio Histórico da UFPR e pela suspensão temporária do vestibular daquele ano.

• Ago 2011 – 14 dias. A última greve dos professores de universidades federais também envolveu os servidores, o que levou à alteração do calendário de matrículas na UFPR.

  • A professora aposentada Milena Martinez mostra a foto da assembleia que desencadeou a greve em 1981

Menos de um ano após a última greve de professores das universidades federais, sindicatos e associações de docentes voltam a discutir a articulação de uma nova paralisação para esta semana. Embora o ato seja uma reação legítima ao não cumprimento pelo governo federal do acordo firmado em 2011, o indicativo para que a greve se desencadeie em todo o país na próxima quinta-feira deixa estudantes apreensivos com um movimento prolongado e divide as opiniões de professores.

No ano passado, a greve nacional dos docentes durou 14 dias e suas consequências foram intensificadas pelo movimento dos servidores, que impediu a realização de matrículas. O impasse levou a Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR) a cancelar o calendário acadêmico, dificultando até a ação dos professores dispostos a prosseguirem com as aulas.

A greve que deve iniciar nesta semana é justificada pela categoria como uma resposta à intransigência do Ministério da Educação (MEC). Segundo a Associação de Professores da UFPR (Apufpr), o governo não cumpriu vários pontos do acordo que deu fim à última greve, em especial o reajuste salarial de 4% e a elaboração de um projeto para a reestruturação da carreira docente. "O governo cancelou todas as reuniões de fevereiro, não propôs reunião alguma para março e disse que só aceitaria voltar a discutir conosco em julho", afirma o presidente da Apufpr, Luís Allan Künzle, em vídeo divulgado pela associação.

Se a adesão à greve for geral, no Paraná serão afetadas as aulas na UFPR, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). Hoje, professores da UFPR se reúnem no câmpus Botânico para oficializar a deflagração da greve. Procurada para comentar as alegações da Apufpr, a Secretaria de Ensino Superior do MEC não retornou às tentativas de contato da reportagem.

Distante do impasse vivido nas universidades federais, mas com experiência em paralisações recentes, o professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa Marcelo Engel Bronosky lembra que a ação grevista não é um gesto de primeira instância e só é deflagrada quando o desacordo chega a extremos. "É uma atitude que só se toma quando todos os outros caminhos foram esgotados. É decorrência de uma omissão e nem sempre a sociedade compreende isso."

Opiniões divididas

A posição tomada pelas entidades representativas, no entanto, nem sempre reflete a opinião de todos os professores. "Essa movimentação é prematura porque já passamos por uma greve no ano passado e houve um grande prejuízo à qualidade das aulas", diz o professor de Direito da UFPR Célio Waldraff. Para ele, as tentativas de reposição de aula raramente são eficazes.

O coordenador do curso de Engenharia Elétrica da UFPR, Ewaldo Mehl, critica a intransigência do governo, mas lamenta a possibilidade de uma nova paralisação. "Cada professor toma sua própria decisão, mas uma greve agora trará um prejuízo muito grande", diz. No curso de Ciências Sociais, a tendência é de que todos os professores se juntem ao movimento.

Problema históricoFalta de compromisso do governo foi o estopim para nova paralisação

Um histórico de greves marca a trajetória dos professores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desde 1980, quando foi deflagrada a primeira grande manifestação nacional da categoria. No decorrer dos anos, a exigência por melhores salários fez parte das reivindicações na maioria dos episódios. Isso não chega a ser diferente neste ano. No entanto, a falta de compromisso do governo federal com os professores foi o estopim para que uma nova mobilização fosse planejada.

Sem cumprir vários pontos de um acordo firmado para encerrar a greve em 2011 – entre eles o reajuste salarial de 4% – e prorrogando a discussão com os professores para o segundo semestre, conforme a Associação de Professores da UFPR (Apufpr), o governo federal abriu brecha para uma nova paralisação que coloca em risco o calendário acadêmico. "Existe um desrespeito com o funcionalismo público. O governo não cumpre com o prometido e não quer conversar com a gente", reclama a professora aposentada do Setor de Ciências Sociais da UFPR Milena Martinez, que participou da maior parte dos movimentos grevistas da categoria.

Marcantes

Entre as greves mais marcantes estão a de 1984 – ano em que o movimento foi envolvido pela efervescência política da época, como a luta pelas Diretas Já –, a de 1998 – em que professores chegaram a fazer greve de fome durante 12 dias – e a de 2001 – a paralisação mais longa, com 108 dias de duração (leia mais sobre as greves históricas nesta página). "Com a cultura das privatizações, a educação nessa época [2001] foi considerada serviço; não um direito. O governo se eximiu da responsabilidade e deixou de investir na universidade pública, o que ocasionou a precarização das instituições e do nosso trabalho", lembra Milena. (KB)

Como a greve dos professores afetará a sua rotina? Você já enfrentou uma greve? Como foi a reposição das aulas?

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