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Criado em 2013, o Instituto Senai de Inovação (ISI) desenvolve estudos conforme a demanda da indústria. | Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo
Criado em 2013, o Instituto Senai de Inovação (ISI) desenvolve estudos conforme a demanda da indústria.| Foto: Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo

Estudo pautado pelos anseios da sociedade

Outra diferença essencial entre a pesquisa acadêmica e o trabalho científico feito em empresas ou institutos privados é o que origina um estudo. Na universidade, os estudantes estão acostumados a eleger objetos de pesquisa a partir de suas preferências pessoais ou das orientações dos professores. Isso não acontece no mercado. O que importa para o setor privado é atender às demandas da sociedade no segmento em que atua, portanto, o cientista deve se preocupar em desenvolver propostas de pesquisa coerentes com o interesse da corporação.

"A concessionária identifica uma necessidade e leva para o instituto, que desenvolve um projeto a partir desse pedido", explica o diretor superintendente dos Institutos Lactec, Omar Sabbag Filho. O mesmo ocorre no Instituto Senai de Inovação (ISI), criado em 2013. Segundo Sônia Parolin, gerente de Serviço Tecnológico e Inovação do ISI, os estudos desenvolvidos na instituição são planejados conforme a demanda da indústria. A principal vantagem dessa prática é a garantia de financiamento das pesquisas, normalmente feito pelas empresas interessadas no resultado.

Um exemplo desse processo de atendimento de demandas são as vacinas antirrábicas produzidas pelo Tecpar, a pedido do Ministério da Saúde, e distribuídas pelo Programa Nacional de Profilaxia da Raiva. Outro caso é o estudo encomendado ao Tecpar pela churrascaria Devons’s Grill. A proposta para diminuir o odor de fumaça e a poluição ambiental provenientes dos gases liberados pelas chaminés já está com desdobramentos. Para resolver o problema, o instituto elaborou uma solução que envolve o cultivo de microalgas que removem parte dos componentes da fumaça.

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Boticário investiu R$ 37 milhões em centro de pesquisa

Jonathan Campos / Gazeta do Povo

Inaugurado em 2013, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo Boticário (foto), em São José dos Pinhais, é um dos exemplos recentes mais relevantes do interesse do setor privado em produzir ciência. O grupo investiu R$ 37 milhões no espaço de 8 mil m² que conta hoje com 230 profissionais, embora tenha capacidade para receber o dobro disso. Segundo o gerente de Pesquisa Científica e Tecnológica do grupo, Gustavo de Campos Dieamant, a empresa sempre esteve com as portas abertas para a contratação de mestres e doutores, mas a inauguração do centro de pesquisa ampliou a possibilidade de se trabalhar como pesquisador para o grupo. Ele não fala em valores, mas afirma que, do ponto de vista da carreira, trabalhar com pesquisa em uma grande empresa pode ser financeiramente muito interessante. "Os anos de estudo costumam ser compensados", diz Diemant.

O envolvimento de empresas com a pesquisa científica no Brasil ainda está muito distante da realidade encontrada em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, onde cerca de 60% dos pesquisadores encontram-se no mercado e o restante está nas universidades. Apesar disso, o país tem algo a comemorar. Segundo dados do Ministério de Ciência e Tecnologia, 48% de todo o investimento feito em pesquisa no país vêm do setor privado e houve significativo crescimento no número de pesquisadores em empresas. Mudanças na legislação do setor – como a criação da Lei de Inovação – estão entre as principais causas dessa reconfiguração, abrindo novos campos de trabalho para cientistas e contribuindo com o desenvolvimento da ciência nacional.

Em dezembro do ano passado, o IBGE apresentou os resultados da 5.ª Pesquisa de Inovação (Pintec), com dados coletados entre 2009 e 2011. O levantamento mostrou que 55,8 mil profissionais trabalhavam com pesquisa e desenvolvimento (P&D) em empresas, 10,5 mil (23%) a mais do que em 2008.

Uma das motivações mais atraentes para que um pesquisador migre da academia para o setor produtivo está na chance de ver o resultado de seus estudos chegar mais rápido às prateleiras, no dia a dia das pessoas. "Enquanto as universidades realizam pesquisas de base, os institutos de pesquisa privados se destacam por utilizar a pesquisa de base para o desenvolvimento de soluções para o mercado", explica Luiz Carlos Daemme, pesquisador dos Institutos Lactec. Para ele, a academia ainda se preocupa menos do que deveria com as necessidades do mercado, o que têm levado muitos cientistas a verem institutos de pesquisa privados e empresas como opções de trabalho mais realizadoras.

Uma crítica comum feita por cientistas que saíram do meio acadêmico está na importância, supostamente excessiva, que se atribui à publicação de trabalhos. O diretor-presidente do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), Júlio César Felix, aponta que a diferença fundamental entre a pesquisa feita dentro e fora das universidades estaria na aplicação dos trabalhos. "A maioria dos pesquisadores nas universidades se satisfaz com a publicação do resultado em revistas científicas, mas as empresas focam na ampliação de seus negócios", diz. Como consequência, as pesquisas que interessam ao setor produtivo tendem a ter maior alcance, com chances reais de ganhar relevância junto à sociedade.

Aproximação

A ampliação do mercado de trabalho para cientistas em empresas está diretamente atrelada às mudanças na relação entre academia e setor produtivo, que encontrava muitos obstáculos no Brasil até poucas décadas atrás. De acordo com Marcelo Filipak, gerente de Pesquisa & Desenvolvimento da Bematech, há 15 anos, a percepção de muitas universidades era de que as empresas deveriam financiar projetos sem que esses trouxessem, necessariamente, algum benefício para a empresa. "Hoje essa cultura está bastante modificada", afirma. A Lei de Inovação do Paraná, aprovada em 2013, é um exemplo dessa transformação. A nova legislação facilita a formação de convênios entre pesquisadores de universidades públicas e empresas privadas, praticamente proibidos antes da nova norma.

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