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Posições tomadas por assembleias do Diretório Central dos Estudantes da UFPR, dirigido atualmente por Naiady Piva, são questionadas pelos estudantes. Representatividade legítima ou consenso de um grupo restrito? | Antonio Costa/Gazeta do Povo
Posições tomadas por assembleias do Diretório Central dos Estudantes da UFPR, dirigido atualmente por Naiady Piva, são questionadas pelos estudantes. Representatividade legítima ou consenso de um grupo restrito?| Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo

Entrevista

Luís Lopes Diniz Filho, professor do curso de Geografia da UFPR e colaborador da organização Escola Sem Partido, que luta contra a doutrinação ideológica na educação brasileira.

As diferenças entre os interesses gerais da maioria dos universitários e as ideias políticas defendidas pelos centros acadêmicos podem afetar a participação do aluno comum nos debates relevantes à vida universitária?

Afetam negativamente. Se um dia o movimento estudantil esteve em sintonia com a maioria dos estudantes isso foi durante a ditadura militar, quando havia a questão da luta por democracia. Mas infelizmente, desde a década de 80, as entidades viraram uma caixa de ressonância de conflitos partidários. Há legendas que disputam filiados dentro dos centros acadêmicos e essa ideologização toda afasta o universitário comum que quer discutir profissionalização e outras questões.

É possível um estudante participar de um centro acadêmico sem aderir ou entrar em conflito com algum movimento ideológico?

É difícil. Conheço alunos que também não gostavam de toda essa politização, ganharam uma eleição e depois de um tempo escolheram sair porque os outros grupos pressionam muito. O universitário comum quer estudar, se formar e conseguir um bom emprego, e há pouco espaço para esse perfil nos centros acadêmicos de hoje.

Como um universitário comum pode expor aquilo que considera relevante um centro acadêmico fazer?

Acredito que a internet ajuda a dar vazão à insatisfação dos alunos com aqueles que dizem representá-los. É um canal que as gerações anteriores não tinham e onde é possível discutir aquilo que não conseguem pessoalmente nas assembleias dessas entidades.

  • André Feiges, do DCE, e Luciana Guiss, presidente do DACP, do UniCuritiba

Símbolo da luta por democracia nas décadas de 60 e 70, o movimento estudantil brasileiro já não tem mais uma ditadura contra a qual lutar. A liberdade de expressão é uma realidade e o momento econômico do país é relativamente bom. Sem razão para clamar pelas demandas históricas que as tornaram famosas, as entidades estudantis, como diretórios e centros acadêmicos, batalham para encontrar sintonia com uma geração de universitários que nem sempre se sente representada pelas posições adotadas, teoricamente, em seu nome.

Seja em debates nacionais sobre o Plano Nacional de Educação, ou em questões locais, como a greve de servidores da Universidade Federal do Paraná, a discrepância entre o posicionamento das assembleias e as numerosas manifestações de alunos nas redes sociais da internet revelam a distância entre o pensamento dos representados e das entidades.

Uma recente pesquisa comparou elementos-chave do pensamento dos jovens das últimas décadas e traçou as diferenças de perfil entre os estudantes do tempo das Diretas Já e os atuais. O Projeto Sonho Brasileiro, levantamento feito pela Box1824, empresa que atua no mapeamento de tendências de comportamento, mostra que a juventude atual é avessa a revoluções e relativiza adesões ideológicas. Ela acredita menos na política como meio de melhorar a sociedade e pensa em coletividade sem vinculá-la necessariamente à presença física. Dialogar com o diferente e evitar conflitos estão entre os valores mais respeitados.

Agenda política

Questionada sobre a falta de identidade entre o universitário médio e as entidades de representação, a diretora do DCE da UFPR, Naiady Piva, explica que o movimento deve ouvir todas as ideias, mas quem se dispõe a organizar ações são justamente aqueles que têm mais afinidade com questões políticas. "Quando formamos uma chapa buscamos pessoas com a mesma identidade, e vencemos com uma proposta de mobilização, e não de prestação de serviços", diz Naiady, ao comentar as críticas ao DCE.

Distante das demandas mais práticas da vida acadêmica, segundo as reclamações de acadêmicos na rede, também está a União Paranaense dos Estudantes (UPE), entidade que se define como representante de todos os universitários matriculados no Paraná. Alinhada com os posicionamentos da União Nacional dos Estudantes (UNE), a UPE opta pela adoção de ideários nem sempre vinculados à educação, como o apoio à criação de um Estado palestino e a condenação às privatizações em qualquer setor.

Sobre a influência dos interesses de partidos políticos na agenda da entidade, Rafael Bogoni, presidente da UPE, nega promoção de qualquer legenda. "Não defendemos nenhum partido, mas isso não impede que diretores sejam filiados a uma legenda. Infelizmente há muito preconceito em relação a isso", diz.

Insatisfação

Crítico do excesso de ideologia nas entidades estudantis, o aluno do curso de Administração de Empresas da Universidade de Brasília (UnB), Felipe de Oliveira já tentou se envolver em mobilizações com propostas mais pragmáticas, sem a adesão a bandeiras políticas, mas optou por afastar-se devido à reação de grupos já estabelecidos.

"Penso que a maioria dos universitários não quer um movimento estudantil que defenda bandeiras ideológicas, mas sim que seja comprometido com a excelência acadêmica", diz Felipe. Entre temas que o estudante aponta como coerentes com a realidade universitária está a luta para que as grades curriculares acompanhem as mudanças no mercado de trabalho e o melhor uso de verbas na infraestrutura das universidades públicas.

Exigência de qualidade

Enfrentando situações distintas das vividas nas públicas, o Diretório Acadêmico Clotário Portugal (DACP), dos estudantes do curso de Direito do Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba). prefere concentrar suas ações na exigência de qualidade nos serviços oferecidos. Cientes de que a relação entre aluno e faculdade privada é regida por um contrato, os membros fiscalizam a instituição para que normas internas sejam cumpridas e o dinheiro das mensalidades aplicado em benefício dos estudantes.

"Trabalhamos para que a educação não seja reduzida ao ensino, mas que haja investimento em pesquisa e extensão", afirma André Feiges, um dos diretores do CACP e presidente do DCE do UniCuritiba. Sobre o relacionamento com a instituição, André reconhece que há momentos tensos, mas em geral a relação se dá com normalidade e diálogo.

Fundado em 1952, o DACP é o centro acadêmico mais antigo das faculdades particulares do estado. A entidade ganhou destaque no início do ano pelo papel que desempenhou na campanha pela implementação da Defensoria Pública do Paraná, causa que uniu estudantes de várias faculdades.

E você, o que acha? Quais deveriam ser as principais preocupações de um centro acadêmico? Que papel você tem na sua universidade? Você participa da política acadêmica? Comente abaixo!

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