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Michele Mitzakoff decidiu trocar a Odontologia pela Arquitetura | Antônio More / Gazeta do Povo
Michele Mitzakoff decidiu trocar a Odontologia pela Arquitetura| Foto: Antônio More / Gazeta do Povo

"Hoje eu assisto às aulas de forma diferente"

Depoimento de Michele Hisa Mitzakoff, 35 anos, formada em Odontologia e vestiba de Arquitetura

"Gosto muito da profissão de dentista, mas meu ritmo de consultório era muito intenso. Depois que engravidei, há nove anos, tive de parar para cuidar do meu filho mais velho, sempre na esperança de poder engatar a profissão de novo. Engravidei da segunda filha morando no Rio Grande do Sul. Sem família por lá, me vi em um dilema como profissional e mulher: seguir a carreira ou cuidar das crianças.

Poderia ter delegado os primeiros cuidados a alguém, mas nunca desejei isso aos meus filhos. Sempre quis acompanhá-los. Disse para meu marido que iríamos apertar o cinto um pouco, pois eu ficaria em casa com eles. Na época, avaliei que trabalhar apenas meio período não seria o bastante para minha realização como dentista. Há três anos vim pra Curitiba e vi que dava pra começar algo novo.

Sempre fui ligada à arte e ao desenho e quero trabalhar em casa, então, vou tentar Arquitetura. Ao assistir às aulas do cursinho, vejo os adolescentes e percebo a diferença. Na minha época, não tinha tantos aparatos eletrônicos – e eu só tenho o celular, coisa de mãe. Hoje assisto às aulas de forma diferente, sob outro ângulo. Lembro que os professores de antes não tinham tanta disposição para tirar dúvidas e era aquilo que eles diziam e pronto. Hoje, os alunos trazem para a sala o que aconteceu no último minuto e os professores estão abertos a isso e, se não têm alguma informação, dizem que vão pesquisar e trazer a resposta na sequência. Todos crescem."

Com maturidade e sabedoria na mochila, pessoas que estão longe dos anos da adolescência voltam a cursinhos à espera de uma vaga na universidade. Motivados pela busca de novos conhecimentos, para passar o tempo ou para mudar os rumos da carreira, esses vestibulandos têm conquistado o sonhado espaço na lista de aprovados no lugar de muita meninada.

Foco e dedicação fazem parte do perfil dos estudantes maduros. "Enquanto o mais jovem tem necessidade de se encontrar, de iniciar uma carreira e sonha com a independência, os mais velhos já passaram por isso e não se deixam atrapalhar por coisas supérfluas, como baladas ou namoros", diz Debora Loepper Borges, coordenadora pedagógica do Curso Decisivo. Por já ter conquistado a independência ou a segurança financeira, ou por já ter uma família e filhos, quem tem mais idade também sofre menos com a cobrança pela aprovação.

"A tendência ao longo da vida é ir se acomodando. Essas pessoas que voltam a estudar são admiráveis, pois são obstinadas, decididas, perseverantes e corajosas. Deixam tudo para trás e arriscam novamente", afirma Ivo Lessa Filho, diretor adjunto do pré-vestibular do Curso Acesso.

Eles sabem como aprendem melhor, têm boas argumentações, são capazes de fazer inter-relações que facilitam a assimilação do conteúdo. Há uma postura mais crítica ao assistir às aulas e o comprometimento é maior, mas isso não significa que quem já passou por essa experiência tenha de trabalhar menos. Pelo contrário, eles precisam compensar o tempo que passaram afastados de algumas áreas. Um engenheiro tem de retomar os estudos com História e Geografia, por exemplo.

Família

De olho na carreira, a vestibulanda Mara Cristina Ruiz, 33 anos, quer continuar trabalhando em bibliotecas, mas sente necessidade de se atualizar. Depois de ter abandonado o curso de Letras pela metade, há quase dez anos, Mara pretende cursar Biblioteconomia a distância ou ingressar na universidade. "Ainda não sei se vai sair neste ano o curso na minha área. Se não tiver turma, vou prestar vestibular para Direito. Tenho uma filha de 9 anos e quero que ela tenha um bom exemplo a seguir", conta.

O envolvimento com a família é um dos fatores que determina o comportamento de quem volta a estudar, segundo Lessa Filho. "Esses estudantes não têm tempo a perder. Não podem se dar ao luxo de perder o foco no decorrer do ano", diz. Mara conta que, assim como ela, sua turma de cursinho está bastante comprometida com os estudos. "A minha turma lá atrás era mais imatura. Agora as aulas são mais descontraídas e estou aprendendo mais", diz.

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