
Se é fácil encontrar um estudante que sonhe em fazer um curso superior, também não é difícil achar quem abandone a universidade ou demore mais do que o esperado para se formar. Ontem a reportagem da Gazeta do Povo mostrou que um em cada dez estudantes do ensino superior deixa a universidade antes de se graduar. Hoje o Vestibular revela quais são os cursos que apresentam as maiores taxas de desistência e de reprovação e o que você, vestibulando, pode fazer para não entrar para essas estatísticas.
Uma análise dos dados do Censo da Educação Superior indica que um entre três estudantes paranaenses que deveriam concluir o curso universitário em 2008 não se formou naquele ano, ou porque deixou a faculdade ou porque reprovou e não conseguiu concluir os estudos no tempo mínimo previsto. Os motivos são muitos, mas os principais são o desestímulo provocado pela complexidade das matérias, os problemas financeiros e as dificuldades em conciliar trabalho e universidade.
Entre todos os cursos, os da área de Ciências Exatas são os que apresentam a menor taxa de conclusão em instituições públicas do Paraná, segundo o levantamento realizado pela reportagem. Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), o índice de concluintes do setor foi de 43% em 2007. O curso que apresentou pior taxa foi Matemática Industrial: apenas 20% dos alunos que deveriam concluir a graduação naquele ano se formaram.
Para o coordenador do curso, Saulo Oliveira, muitos alunos desistem porque não conseguem acompanhar o raciocínio dos professores. "O curso termina sendo mais difícil do que os estudantes imaginam. Um dos anos mais críticos foi 2003. Dos 45 estudantes que entraram, 28 desistiram logo no primeiro ano. Em 2008, houve uma diferença brutal. Entraram 42 alunos e dois desistiram no primeiro ano", afirma. Para ele, a melhora se deve ao processo seletivo estendido, uma espécie de terceira fase do vestibular em que os alunos são selecionados durante o primeiro semestre do curso.
A estudante de Matemática Industrial Maristela de Salles Silva Almeida, 22 anos, confirma que há muita reprovação, principalmente nos dois primeiros anos. Apesar de não ter sido reprovada, ela, que veio de outra instituição de ensino, é uma das alunas que cursa disciplinas em períodos diferentes. Isso ocorre também quando os alunos reprovam nas disciplinas e acabam "retidos", ou porque não podem se matricular em outras disciplinas ou até mesmo no período seguinte.
Além de atrasar a formação, a retenção e a reprovação acabam tendo outro efeito: desestimular o estudante a continuar o curso. Quando estava no primeiro ano de Matemática Industrial, Carlos Eduardo Carvalho Mayrhofer, 21 anos, reprovou em três das cinco disciplinas que cursava. No terceiro ano, voltou a ter dificuldades e pensou em desistir. "Pensei: será que esse curso é para mim? Falei com professores, eles me deram uma força e achei melhor continuar", conta.
Um relatório elaborado pela Pró-Reitoria de Graduação da UFPR mostra que além da baixa taxa de conclusão, os cursos de Exatas são também os que apresentam os menores índices de aprovação da universidade. Em 2009, o setor aprovou 60% dos estudantes, contra 97% do setor de Ciências da Saúde, que apresenta a maior taxa de aprovação. Os cursos de Exatas que mais reprovaram foram Física Noturno, Física Matutino e Matemática Noturno. Matemática Industrial aparece na quinta posição.
Choque de conteúdo
Na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), o problema se repete. Na instituição também foi um curso de Exatas que apresentou a menor taxa de conclusão em 2009: Matemática, com apenas 27,5%. Embora a graduação dure quatro anos, Patrícia Camara Martins, 23 anos, vai terminá-la em seis. "Quando você reprova, a matéria que você precisa refazer às vezes causa conflito de horário e é preciso abrir mão de outras disciplinas, adiando a formatura", explica.
Mas por que há tanta reprovação? Segundo o coordenador da graduação, Clezio Aparecido Braga, existe uma enorme diferença na forma em que as disciplinas de Exatas são abordadas no ensino médio e no ensino superior. Por esse motivo, os alunos levam um susto quando entram na universidade. Essa também é a avaliação da pró-reitora de Graduação da UFPR, Maria Amélia Sabbag Zainko. "O nível de cobrança da universidade não corresponde ao tipo de conhecimento que os alunos trouxeram", diz. Para compensar as deficiências dos estudantes que entram na instituição, alguns cursos da Unioeste oferecem revisões de conteúdos básicos do ensino médio. "Alguns cursos já ministraram uma disciplina chamada Pré-Cálculo, para resgatar conceitos de Exatas", afirma o pró-reitor de Graduação da universidade, Eurides Kuster Macedo Junior.



