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Campanha de Bolsonaro (PL) lida com os desafios de convencer aliados que “escondem” o presidente a apoiarem ele na reta final do primeiro turno| Foto: José Cruz/Agência Brasil

O comitê da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) enfrenta um desafio para fortalecer sua candidatura à reeleição. Uma parcela de aliados que disputam diferentes cargos nestas eleições "escondem" Bolsonaro em suas redes sociais e limitam o alcance do apoio a discursos em comícios. Alguns são até acusados, dentro da base política, de se esforçar pouco para pedir votos ao presidente nas ruas e outros de nem sequer atuarem por ele.

A fim de engajar aliados e reverter o atual quadro, a campanha tem feito convites e estimulado a participação de aliados nos comícios em que Bolsonaro vai. O entendimento do núcleo político é de que ele é a grande liderança política do país e que os demais políticos é que podem ser beneficiados ao se associar a ele.

Porém, a percepção do núcleo político da campanha é de que mesmo a agenda de viagens de Bolsonaro e as estratégias eleitorais adotadas pela campanha têm sido insuficientes para convencer mais aliados a intensificar o pedido de votos para o presidente. Há casos, inclusive, como o do senador Roberto Rocha (PTB-MA), em que o presidente gravou um vídeo pedindo votos, e o parlamentar não o reproduziu em suas redes sociais – não ao menos até o fechamento desta reportagem.

Cientes das dificuldades em convencer aliados a não "esconderem" Bolsonaro, coordenadores eleitorais se esforçam para engajar os aliados pelo convencimento de que suas candidaturas serão fortalecidas ao se associarem ao presidente.

O general Braga Netto, candidato a vice de Bolsonaro, é um dos coordenadores da campanha que tem se dedicado a reverter esse quadro. Braga Netto tem usado suas viagens pelo país para pedir votos à chapa presidencial e verificar a fidelidade dos candidatos dos partidos da base, em particular os do PL, partido do presidente. O general já percorreu estados do Sudeste e do Centro-Oeste.

A expectativa de coordenadores eleitorais de Bolsonaro e da base política mais ideológica era de que as manifestações de 7 de setembro fossem determinantes para que motivar mais aliados a se engajarem pela campanha presidencial. Mas a pouco mais de uma semana do primeiro turno, alguns na campanha não acreditam que o cenário irá mudar, a despeito dos esforços feitos. A percepção de parte do núcleo político da campanha de Bolsonaro é de que os aliados que pedem votos para o presidente continuarão na mesma linha, e quem pouco contribui não vai mudar sua postura.

Alguns aliados do presidente consideram que a candidatura de Bolsonaro é menos competitiva que a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seus estados. Por isso, acaba sendo mais vantajoso optar pela neutralidade, principalmente se o entendimento for que podem não conquistar votos – ou até perder – ao apoiar Bolsonaro de forma ostensiva.

PL, PP e Republicanos autorizaram candidatos a ter "autonomia"

O cenário de dispersão da base não é novo, mas ficou mais perceptível agora, diante da proximidade do primeiro turno. Candidatos e diretórios do próprio PL foram autorizados pela Executiva Nacional do partido a conduzirem suas candidaturas e coligações com autonomia. No Amapá, o PL e o PT apoiam o mesmo candidato, Clécio Luis (Solidariedade).

No Maranhão, o PL apoia o senador Weverton Rocha (PDT) ao governo estadual – cujo partido tem um adversário de Bolsonaro na disputa presidencial, Ciro Gomes. Mas o candidato ao governo mais alinhado com a direita política é Lahesio Bonfim (PSC), que concorre em chapa pura. E ele não associa sua imagem à do presidente nas redes sociais pelo fato de o PL apoiar o PDT no estado. "Quando era prefeito [de São Pedro dos Crentes, no interior do estado], Lahesio foi o único que apoiou o presidente na eleição [de 2018]. Inclusive, foi a cidade onde ele teve maior votação no estado. Mas por opção partidária, o PL acabou coligando com o PDT e ficou difícil", diz o deputado federal Aluísio Mendes (PSC-MA), vice-líder do governo na Câmara e presidente estadual do diretório.

Outro exemplo de como o PL caminha desassociado de Bolsonaro ocorre em Sergipe. O candidato da sigla ao governo, Valmir de Francisquinho não faz menção ao presidente em programas de rádio, TV ou nas redes sociais. É o único candidato do partido a um governo estadual que "esconde" o presidente da República.

Alguns aliados de Bolsonaro em Sergipe dizem reservadamente que a rejeição e desaprovação do presidente tornam desvantajosa uma associação com ele. Segundo pesquisa Ipec divulgada na segunda-feira (19), 50% dos eleitores de todo o país não votariam em Bolsonaro em hipótese alguma. E, em Sergipe, 48% consideravam o governo do presidente ruim ou péssimo em levantamento do Ipec divulgado em 25 de agosto.

Assim como o PL, PP e o Republicanos, que estão coligados na chapa de Bolsonaro, também concederam independência para suas executivas estaduais e a seus candidatos para atuarem de acordo com seus interesses políticos. E, em alguns casos, isso levou aliados a não se empenhar na busca de votos para Bolsonaro.

Aliado de Bolsonaro critica pouco empenho de outros aliados

O deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), que integra a base "raiz" de Bolsonaro, reconhece o desafio à campanha do presidente com a falta de empenho de outros aliados. O senador Romário (PL-RJ), candidato à reeleição no Rio de Janeiro, é um exemplo citado por Jordy de candidato que não faz uma associação ostensiva com o presidente. Recentemente, Romário disse que Bolsonaro é do "time" dele. Mas, nas redes sociais do senador e ex-jogador de futebol, não havia menções sobre Bolsonaro até o fechamento desta reportagem.

"Alguns candidatos que não associam tanto a sua imagem ao presidente são pessoas que demonstram que não têm uma lealdade e um alinhamento", diz. "E isso também é uma questão que faz com que muitos aliados do presidente e apoiadores 'bolsonaristas' não queiram apoiar Romário ao Senado", acrescenta.

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), também é outro que, para aliados mais próximos, "esconde" o presidente – a despeito de ter marcado presença em alguns eventos ao lado de Bolsonaro. Mas Jordy diz que o caso do governador do Rio é diferente. "Às vezes, há casos que podem ser igual o Castro, que tem alguns apoiadores de outros espectros políticos e talvez não queira perder esses candidatos por não querer nacionalizar o debate político estadual", diz Jordy. "Para mim, [Castro] é diferente do Romário e outros candidatos ao Senado em outros estados, onde nada justifica [não pedir votos a Bolsonaro], até porque são do mesmo partido", critica.

Jordy é ainda mais crítico em relação aos aos candidatos a deputados estaduais e federais que "escondem" o presidente. "No caso do Legislativo, isso aí deveria acontecer naturalmente, até porque vai ser da base de apoio do presidente [caso ele se reeleja]", diz. "O cara que não tem coragem de se expor neste momento querendo perder votos e faz campanha só para si não serve para estar no nosso partido. É um potencial 'traíra', como muitos já traíram. Tem que estar atento a esse tipo de pessoa."

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Apesar de Romário não se associar a Bolsonaro e Cláudio Castro "esconder" o presidente em suas redes sociais, a deputada federal Clarissa Garotinho (União Brasil-RJ), candidata ao Senado no estado, associa o presidente à sua candidatura e pede votos de maneira mais enfática.

A existência de "palanques duplos" em alguns estados é uma situação que ajuda Bolsonaro. No Paraná, por exemplo, os deputados federais Paulo Eduardo Martins (PL) e Aline Sleutjes (Pros), candidatos ao Senado, apoiam o presidente e usam suas redes para dar destaque a ele. Já o governador Ratinho Jr. (PSD) não faz menções ao presidente em suas mídias sociais, embora o apoie.

Em alguns estados, porém, Bolsonaro é apoiado integralmente por candidatos aos cargos majoritários. São Paulo é um exemplo, onde Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Marcos Pontes (PL), ex-ministros do governo e candidatos ao governo e ao Senado, respectivamente, trabalham alinhados à candidatura presidencial.

O mesmo apoio enfático a Bolsonaro ocorre em Minas Gerais, onde ele é apoiado pelo senador Carlos Viana (PL) e o deputado estadual Cleitinho Azevedo (PSC), candidatos ao governo e Senado, respectivamente. O exemplo se repete no Rio Grande do Sul com Onyx Lorenzoni (PL) e Luis Carlos Heinze (PP), candidatos ao governo estadual. O vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos), também.

Em Santa Catarina, Bolsonaro também tem sua candidatura associada por dois candidatos ao governo, os senadores Jorginho Mello (PL) e Esperidião Amin (PP), e um ao Senado, o ex-secretário da Pesca Jorge Seif Jr. (PL). Na Bahia, Bolsonaro recebe apoio e menções nas redes sociais de João Roma (PL), candidato ao governo, e de Dra. Raíssa Soares, postulante ao Senado.

Em Pernambuco, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado (PL), candidato ao Senado, e o ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes Anderson Ferreira (PL), candidato ao governo, pedem voto ao presidente. O mesmo acontece no Pará, onde ele é apoiado pelo senador Zequinha Marinho (PL), candidato ao governo, e pelo ex-senador Mauro Couto (PL), postulante ao Senado.

Há casos, porém, onde Bolsonaro não encontra apoio da chapa apoiada por sua base política. O Ceará é um deles. Lá, ele apoia o deputado federal Capitão Wagner (União Brasil) ao governo estadual, a despeito do candidato ter evitado declarar apoio ao presidente e não citá-lo em suas redes sociais. O mesmo ocorre em relação à candidata ao Senado, Kamila Cardoso (Avante).

Metodologias das pesquisas citadas na reportagem

A pesquisa Ipec publicada em 19 de setembro, o Ipec entrevistou 3.008 eleitores entre os dias 17 e 18 de setembro de 2022 em 181 municípios brasileiros. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pela TV Globo e está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-00073/2022.

Já a pesquisa de 26 de agosto, o Ipec fez 800 entrevistas entre os dias 22 e 24 de agosto de 2022 em 32 municípios municípios de Sergipe. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pela Rádio Televisão de Sergipe Ltda. (TV Sergipe) e foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral sob o protocolo SE‐03430/2022 e no TSE sob o protocolo BR‐06021/2022.

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