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Lula e Bolsonaro
Lula (PT) e Bolsonaro (PL) definem estratégias de campanha, com foco no eleitor de centro.| Foto: Christophe Petit Tesson/EFE; Joédson Alves/EFE

As campanhas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) traçam uma estratégia para atrair o chamado "voto útil" ainda no primeiro turno da eleição – ou seja, buscar eleitores de outros candidatos que podem mudar de opção diante da possibilidade de a disputa não ter um segundo turno. A ofensiva, segundo líderes envolvidos nas duas candidaturas, é para conquistar o eleitor fora do campo da direita e da esquerda e que ainda não tem convicção do voto em outros concorrentes.

Levantamento do instituto PoderData, deste mês de julho, identificou que 19% dos eleitores ainda não estão convictos sobre qual candidato irão votar em outubro. Do total, 10% afirmou que poderia mudar de ideia e escolher outro candidato, enquanto 9% afirmaram que não sabem. Com isso, os núcleos de campanha de Bolsonaro e de Lula esperam atrair parte desses eleitores fazendo acenos mais ao centro.

Ainda de acordo com o PoderData, dos 6% dos eleitores que indicaram intenção de voto em Ciro Gomes, 10% indicaram que podem "mudar de ideia e escolher outro candidato" até as eleições. Já Simone Tebet (MDB) e André Janones (Avante) apareceram com 3% das intenções de votos cada um. Contudo, ao menos 25% dos eleitores da emedebista e 37% dos que indicaram votar em Janones afirmaram que podem escolher outro candidato até o pleito.

Centrão quer Bolsonaro "moderado" para conquistar voto útil

Pensando nessa parcela do eleitorado que ainda não está convicta do voto, os líderes do Centrão que integram o núcleo de campanha de Bolsonaro pretendem amenizar o discurso do presidente nas próximas semanas. Na avaliação de interlocutores do presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, e do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, Bolsonaro precisa "falar com os não convertidos".

Nos cálculos dos articuladores da campanha, Bolsonaro já consolidou a sua base de apoiadores e agora precisa reconquistar o eleitor que votou nele em 2018, mas que atualmente indica voto em outros candidatos. De acordo com o PoderData, 87% dos que indicam voto em Bolsonaro admitem que estão convictos.

Nessa estratégia, Bolsonaro foi aconselhado a adotar um tom de pacificação nas eleições depois do episódio em que Marcelo Arruda, militante do PT, foi morto em Foz do Iguaçu, no Paraná. Na última terça-feira (12), por exemplo, Bolsonaro conversou com dois irmãos de Arruda, apontados como apoiadores do presidente.

Na conversa, intermediada pelo deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), um dos irmãos de Marcelo disse que não aceita que a "esquerda" use o caso de seu irmão como "palco de politicagem". "Isso aí não estamos aceitando, de forma alguma. Falar a verdade tudo bem, mas usar o meu irmão como palco de política, isso aí não estamos aceitando", disse.

Para aliados do governo, é preciso tirar qualquer relação da campanha do presidente como crime que ocorreu em Foz do Iguaçu. Nesta semana, por exemplo, Bolsonaro afirmou que "tudo leva a crer que era um desequilibrado", referindo-se ao autor dos disparos contra Marcelo Arruda. Além disso, a campanha defende que a principal vítima de atentados políticos no Brasil foi o então candidato Bolsonaro, em 2018, quando foi atingido por uma facada em pleno ato público numa praça de Juiz de Fora (MG).

Campanha de Bolsonaro vai focar no eleitorado do Sudeste

Em outra frente para conquistar o eleitorado de centro, a campanha de Bolsonaro pretende focar as agendas do presidente nos estados do Sudeste. A medida ocorre depois da aprovação da PEC dos Benefícios e da ofensiva em estados do Nordeste.

Na sexta-feira (15), por exemplo, Bolsonaro cumpriu agenda na cidade de Juiz de Fora para consolidar seu palanque em Minas Gerais. Essa foi a primeira visita de Bolsonaro na região desde que sofreu o atentado na campanha de 2018.

Sem conseguir fechar um acordo com o governador Romeu Zema (Novo), candidato à reeleição, Bolsonaro agora pretende fechar seu palanque com a candidatura do senador Carlos Viana (PL) para governador. Com isso, o deputado Marcelo Álvaro (PL) será oficializado como candidato ao Senado na chapa. "O presidente Jair Bolsonaro sacramentou minha candidatura ao Senado e a candidatura do senador Carlos Viana ao governo. Não tem mais volta", afirmou Álvaro.

Já no Rio de Janeiro, Bolsonaro vai subir no palanque do governador Claudio Castro (PL). A convenção do PL que vai oficializar a candidatura de Bolsonaro será realizada no estado e vai oficializar a indicação do general Braga Netto (PL) como vice na chapa. A expectativa é que a dupla foque em agendas na baixada fluminense.

Em São Paulo, além do palanque com o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), o núcleo de campanha de Bolsonaro escalou Braga Netto para conversar com empresários sobre as ações do governo. "É natural que as agendas agora se intensifiquem em locais que estrategicamente são mais importantes", defendeu o deputado Altineu Côrtes, líder do PL na Câmara.

Lula vai atrás de voto útil por meio de apoios do PSD e do MDB

De passagem por Brasília nesta semana, Lula se reuniu com lideranças do MDB e do PSD no intuito de amarrar o apoio dessas lideranças em diversos estados. Apesar de não contar com a adesão formal desses partidos na coligação, a campanha do PT acredita que o apoio de lideranças nos estados será primordial para atrair eleitores de centro que hoje tendem a votar em outros candidatos.

No PSD, por exemplo, Lula costurou a aliança com o senador Omar Aziz e com o deputado Marcelo Ramos para o seu palanque no Amazonas. A aliança no estado envolve ainda o MDB, que terá como candidato ao governo amazonense o senador Eduardo Braga. Apesar da candidatura à Presidência da senadora Simone Tebet pelo MDB, Braga vai abrir palanque para Lula no estado.

De acordo com lideranças do PSD e do MDB que estiveram reunidas com Lula em Brasília, o ex-presidente foi aconselhado a investir em discursos mais voltados para o eleitor de centro. Com isso, a expectativa é de que petista foque em três palavras: "credibilidade", porque Lula já foi presidente; "estabilidade", porque ele se mostra disposto ao diálogo com todas as forças políticas; e "previsibilidade", pois não pretende flertar com tentativas de golpe.

O PSD vai apoiar o ex-presidente Lula em ao menos oito estados, até o momento. No acordo mais recente, Lula conseguiu o apoio do senador do senador Carlos Fávaro (PSD-MT), que foi vice-líder do governo Bolsonaro, mas que declarou que estará com o PT em seu estado.

Já no Rio de Janeiro, o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), declarou voto no petista. "Acho que o Brasil teve uma grande alegria de ter tido Lula como presidente da República. Aliás, a gente um dia vai parar, a história vai parar, e vamos pensar que honra ter tido Lula presidente do Brasil. Aproveito para revelar o meu voto. Vou votar em Lula para presidente", disse Paes.

No MDB, além do apoio no Amazonas, Lula terá ainda aliança com emedebistas em outros oito diretórios: Pará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Piauí, Pernambuco, Bahia, Alagoas e Ceará. Lula pretende se reunir com lideranças desses estados na segunda-feira (18), em São Paulo.

Metodologia de pesquisa citada na reportagem

A pesquisa do instituto PoderData ouviu, por telefone, 3 mil eleitores entre os dias 3 e 5 de julho de 2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-06550/2022.

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