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Bolsonaro
Ao lado da primeira-dama Michelle, presidente Jair Bolsonaro promete fazer um discurso emotivo e com sinalizações às mulheres na convenção que o lançará candidato a presidente novamente.| Foto: Alan Santos/PR

O presidente Jair Bolsonaro oficializa sua candidatura à reeleição no próximo domingo (24) na convenção nacional do Partido Liberal (PL), no Rio de Janeiro, com a expectativa de um discurso propositivo, combativo e até emotivo. Coordenadores de campanha esperam por falas que apontem os feitos e realizações de sua gestão, além de acenos às mulheres e à população mais pobre. Críticas às gestões petistas também estão previstas na convenção, que acontecerá no Ginásio Gilberto Cardoso, popularmente conhecido como Maracanãzinho.

O "script" alinhado entre Bolsonaro e sua coordenação eleitoral não tende a ser muito diferente dos principais discursos recentes. O presidente tem dado preferência a falas propositivas e mantido críticas – sendo algumas delas veladas, sem citações nominais – aos governos do PT, a exemplo de sua manifestação no Congresso durante o ato de promulgação da Emenda Constitucional 123/22 (a PEC dos Benefícios).

O discurso de Bolsonaro no Parlamento foi tomado como exemplo a ser seguido ao longo da campanha, mas o núcleo eleitoral quer explorar um tom mais sentimental. O objetivo é comover os eleitores. A aposta de aliados é de que a entonação e as palavras usadas podem ter peso determinante na busca por mais votos.

A defesa por mais sentimentalismo no discurso é partilhado por uma maioria em seu núcleo de campanha, principalmente pelos principais coordenadores eleitorais: o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto; o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente licenciado do PP; e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do presidente da República.

O que o eleitor pode esperar de Bolsonaro no evento

A meta da coordenação da campanha de Bolsonaro é ter pelo menos 10 mil pessoas no Maracanãzinho (a capacidade total é para 13.613 pessoas). O acesso dos convidados precisa ser validado pela plataforma online Sympla. Na sexta-feira (15), foi lançada no site oficial do PL a plataforma para o cadastro dos interessados, com campos distintos para filiados e convidados, imprensa, autoridades e candidatos.

O PL informou na última quarta-feira (20) que uma triagem identificou "inscrições falsas" na Sympla. As inscrições falsas teriam sido feitas em um movimento de boicote de opositores para esvaziar o evento de lançamento da candidatura de Bolsonaro. Diante disso, o partido cancelou cerca de 40 mil das 50 mil inscrições até então feitas para a convenção e prometeu ampliar o controle na distribuição de ingressos.

A abertura dos portões será às 8h22 e a presença de Bolsonaro está prevista para 11h22. O anúncio da convenção nacional do PL estimula os convidados a irem de verde e amarelo. Segundo o site Poder 360, o evento deve ter: um palco em "T" para que Bolsonaro ande na passarela no meio do público; área de imprensa, na pista; duas áreas VIPs, sendo uma para autoridades eleitas e outra para candidatos apoiados, na pista; e uma área reservada para as caravanas de apoiadores, na arquibancada.

O PL encoraja nos bastidores que seus filiados e autoridades homens levem suas esposas para o evento, conforme informou o Poder 360 e confirma a Gazeta do Povo. O objetivo é atrair o eleitorado feminino e transmitir a importância das mulheres para o presidente, que deve estar acompanhado no palco da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Michelle participou de reuniões ao longo da última semana com membros da coordenação eleitoral, a exemplo de Flávio Bolsonaro. A expectativa é impulsionar seu engajamento na campanha do marido em viagens pelo país, como já vinha fazendo com a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves.

A convenção deve destacar, ainda, o slogan "liberdade e fé", palavras consideradas marcantes para o governo e o presidente. A expectativa da coordenação eleitoral é que Bolsonaro explore no discurso o tema do slogan e os mais diferentes assuntos e temas que enalteçam sua candidatura, principalmente com falas propositivas sob ações e realizações de seu governo, conforme estratégia traçada entre o núcleo de campanha e o governo federal.

A criação do Auxílio Brasil, a conclusão da obra da transposição do Rio São Francisco e os esforços do governo no enfrentamento à pandemia são temas que, segundo interlocutores da campanha, estarão presentes no discurso do presidente. Todos esses assuntos foram explorados por ele em sua fala na promulgação da PEC dos Benefícios.

O objetivo é transmitir aos eleitores que, mesmo durante a pandemia, o governo fez o possível para preservar as vidas e os empregos. No discurso no Congresso, por exemplo, ele lamentou todas as mortes pela Covid-19 em todo o mundo e destacou que o Brasil "continuou fazendo a sua parte".

A intenção é esclarecer aos eleitores que o governo fez e ainda procura fazer o possível para mitigar os impactos da pandemia e da guerra na Ucrânia sobre a crise econômica no Brasil com a alta da inflação. Falas críticas ao PT, ainda que veladas, como comparações entre seu governo e as gestões petistas, também estão no radar.

Na fala no Congresso, ele comentou que, em 2014 e 2015, perdeu-se mais de 3 milhões de empregos. Em 2020 e 2021, mesmo com pandemia, foram criados 3 milhões de postos de trabalho. "Uma diferença de 6 milhões", afirmou. Ele também falou sobre as estatais, que, em seu governo, geram lucro. "As estatais deram lucro no ano passado em torno de R$ 190 bilhões. Até há pouco tempo, eram deficitárias ou tinham pouquíssimo lucro", disse Bolsonaro.

O que explica os apelos da base por um discurso mais emotivo

A coordenação eleitoral quer que o tom de comoção esperado para a convenção seja algo contínuo durante a campanha. Ao adotar essa postura, Bolsonaro tem um claro interesse em tentar diminuir sua rejeição. Segundo informações qualitativas obtidas pelo núcleo de campanha, o eleitor tem achado o presidente muito "duro" e "bélico", afirmam interlocutores da coordenação eleitoral.

De acordo com esses dados, Bolsonaro estaria tendo dificuldades em converter votos. "Estamos convencidos de que ele precisa suavizar um pouco o discurso para expandir seus eleitores", sustenta um dos interlocutores.

A conquista de mais votos entre as mulheres é uma meta permanente da candidatura. O mesmo vale para a ampliação da massa de eleitores. Há uma percepção e preocupação da campanha até do ponto de vista do marketing político em furar a "bolha" dos discursos alinhados com o eleitor mais "raiz" e conservador.

A análise é de que o presidente não pode depender apenas dos efeitos da Emenda Constitucional 123/22 para ampliar seus votos via liberação de recursos públicos para programas sociais. O entendimento é de que ele tem menos de três meses para calibrar o discurso com a incorporação de um tom de maior sensibilidade ao longo dos próximos meses.

Para isso, Bolsonaro foi aconselhado por seus coordenadores eleitorais a virar a página em relação ao trato com as mulheres, até mesmo nas palavras. Na quarta-feira (13), ele disse que mulheres procuram "um presidente" e "não um casamento". A fala repercutiu na imprensa e foi classificada como "desnecessária" por aliados.

Na quinta-feira (14), Bolsonaro adotou uma entonação mais sensível em diferentes discursos. Em um evento evangélico em Vitória do Mearim (MA) e na promulgação da PEC dos Benefícios, ele fez acenos ao eleitorado feminino e disse que, das 18 milhões de pessoas que recebem o Auxílio Brasil, 14 milhões são mulheres.

"A nossa política é voltada para atender preferencialmente a mulher", disse o presidente no interior maranhense. "O nosso olhar é também para as mulheres do Brasil. Nenhum homem pode sonhar em crescer na vida se não tiver ao teu lado uma magnífica e grandiosa mulher", declarou no Congresso.

Nas duas ocasiões, também destacou ter concedido 360 mil títulos de terra, mais de 90% deles para mulheres. "Mesmo quando há um casal vai para a esposa. Vai para o homem apenas quando ele está solteiro ou viúvo. É o nosso olhar todo especial para as mulheres do Brasil", explicou.

O presidente também foi aconselhado por aliados a reiterar suas condolências aos familiares do guarda municipal Marcelo Arruda, dirigente do PT assassinado em Foz do Iguaçu (PR) por um de seus apoiadores, bem como rejeitar a violência ocorrida. Bolsonaro entrou em contato com irmãos de Arruda e condenou o assassinato.

Sentimental, sim; "paz e amor", não

A despeito das sugestões pela incorporação de tons mais sensíveis e emotivos à sua comunicação pessoal, coordenadores de campanha não esperam uma versão "paz e amor" de Bolsonaro. Até entendem e sabem que isso não vai ocorrer, por não ser o perfil natural do presidente. "Ele não vai deixar o tom bélico de lado, nem foi recomendado isso. Apenas vai alternar os tons", afirma um interlocutor da campanha. Um exemplo citado são os questionamentos feitos à segurança do sistema eleitoral em reunião com embaixadores.

O presidente sempre deixou claro a seu "núcleo duro" que quer ter a última palavra para sua campanha, e isso inclui sua comunicação pessoal. Porém, Bolsonaro tem demonstrado receptividade às estratégias dos profissionais de marketing político da coordenação eleitoral para afinar até mesmo suas falas com o eleitor, como defendem alguns de seus principais aliados do núcleo político.

"Ele está mais receptível às observações dos marqueteiros. Entendemos que ficou claro que ele precisa converter um monte de gente indecisa, que as pesquisas indicam ser algo em torno de 40%. Então, o presidente está afinando o discurso sobre esses indecisos, mas sem deixar de lado o personalismo característico", diz um interlocutor.

Um exemplo citado pelo núcleo da campanha do tom "bélico" de Bolsonaro é a prisão do médico anestesista preso em flagrante no Rio de Janeiro após abusar de uma mulher durante o parto. Houve alguns integrantes da campanha que sugeriram uma abordagem mais sensível e de solidariedade às vítimas de abuso.

A despeito da recomendação, prevaleceu o entendimento pessoal de Bolsonaro sobre o caso, de defender uma punição radical ao médico. O presidente voltou a defender a castração química para estupradores, tema defendido por ele desde quando era deputado federal. No Twitter, deixou claro seu desprezo pelo anestesista.

"É extremamente lamentável que a nossa Constituição não permita sequer que o maldito estuprador que abusou de uma paciente grávida anestesiada no Rio de Janeiro apodreça para sempre na cadeia, sem nenhum tipo de privilégio. Direitos humanos é para a vítima, esse vagabundo que se exploda!", afirmou.

O chefe do Executivo federal também republicou uma postagem própria de 2018 em que criticava a esquerda por ter votado contra a prisão de "menores estupradores" em 2016. "E nós, como sempre, fomos a favor! Agora, em época de eleição, montam discurso para enganar as mulheres e conseguir votos para continuar estragando o Brasil. Um bando de canalhas e hipócritas!", comentou há dois anos.

A abordagem de Bolsonaro sobre o caso do anestesista e as críticas aos governos petistas e à esquerda são exemplos claros tidos na coordenação eleitoral de temas que ele não abrirá mão de abordar. Outra agenda política que ele não irá abdicar é a de contestação da lisura do processo eleitoral.

Em reunião ministerial no início do mês para alinhar a estratégia de defesa do legado do governo, o debate sobre a segurança da urna eletrônica e a transparência do sistema eleitoral entrou em pauta como um tema a ser defendido pelo governo, incluindo seus ministros. Seus coordenadores, portanto, sabem que ele não vai se esquivar dessas críticas, inclusive a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em viagem a Juiz de Fora (MG) na sexta-feira (15), Bolsonaro voltou a criticar ministros do STF. "Quem foi que tirou o [ex-presidente] Lula da cadeia? Foi o ministro [Edson] Fachin. Onde está o Fachin hoje em dia? Conduzindo o processo eleitoral. Suspeição, ou não é?", indagou em evento evangélico. A soltura de Lula, bem como a devolução de seus direitos políticos, se deu, porém, por decisões da maioria do plenário do STF e não por uma ação individual do ministro Fachin, atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

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