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Lula cumprimenta Simone Tebet.
Lula tem usado aliança com Simone Tebet para chancelar propostas na economia.| Foto: Ricardo Stuckert/PT

Na busca por conquistar mais votos de eleitores das classes C e D, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu focar na discussão sobre o salário mínimo nos últimos dias antes do segundo turno. A estratégia ocorre em meio à informação, publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, de que o Ministério da Economia estaria estudando desindexar o salário mínimo da inflação – ou seja, o reajuste não necessariamente seria pelo mesmo índice inflacionário. O governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) negou essa possibilidade, mas o assunto passou a ser explorado pela campanha do PT.

Os aliados de Lula dizem que assunto interessa aos eleitores que ganham de dois a cinco salários mínimos (de R$ 2.424 a R$ 6.060) e por isso deve ser discutido nas redes sociais até a votação, no domingo (30). Paralelamente, a campanha de Bolsonaro busca mitigar as eventuais perdas nesse eleitorado após a publicação da Folha de S.Paulo.

Nessa estratégia, Lula chegou a gravar uma live ao lado do deputado André Janones (Avante-MG) no intuito de debater o assunto no Facebook. O objetivo da transmissão era falar diretamente com as classes C e D, principal público de Janones na rede social. A transmissão chegou a ter mais de 100 mil internautas a vendo simultaneamente. E já contava com mais de 160 mil compartilhamentos.

"Esse pessoal na rede social está clamando por uma ajuda. Vamos de forma bem rápida: o senhor, como presidente da República, vai impedir que reduza o valor do salário mínimo, das pensões?", questionou Janones. "Além de não permitir redução, foi no período do nosso governo que o aumento do salário mínimo foi de 74%. A gente dava a correção, que é inflação, e depois a gente dava a média do crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] dos últimos dois anos", respondeu Lula.

Bolsonaro tenta conter desgastes levantados por Lula na discussão do salário mínimo

Desde então que o tema veio à público, a campanha de Lula vem explorando o tema em suas redes sociais. No último domingo (23), no entanto, a ministra Maria Isabel Galotti, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), determinou a remoção de ao menos 20 publicações nas redes sociais do ex-presidente e de seus apoiadores que afirmavam que o presidente Bolsonaro poderia propor a redução do salário mínimo.

Na decisão, tomada a pedido da coligação de Bolsonaro, a ministra afirmou que o Ministério da Economia havia negado que o salário mínimo e as aposentadorias vão subir abaixo da inflação. A campanha de Bolsonaro disse ao TSE que as publicações acusam "de forma falsa, irreal e mentirosa o governo de propor a redução do valor do salário mínimo, de aposentadorias, Benefício de Prestação Continuada (BPC) e pensões".

Após a repercussão, o Ministério da Economia divulgou nota afirmando que o salário mínimo e as aposentadorias serão corrigidas, no mínimo, pelo índice da inflação, podendo inclusive, ter uma correção acima deste percentual. Na proposta de Orçamento de 2023, enviada pelo governo ao Congresso em agosto, no entanto, não há previsão de aumento real do salário mínimo. O valor proposto, de R$ 1.302, emenda o quarto ano seguido sem ganhos acima da inflação. No entanto, o ministério mantém a informação de que não vai dar pelo menos a inflação no reajuste: "É falaciosa a informação de que o ministério pretende adotar medida que possa causar danos à camada mais frágil da população", destacou a pasta.

Mas, para a campanha de Lula, o fato da equipe jurídica de Bolsonaro ter entrado no TSE para proibir Lula de falar no assunto mostra que isso pode atrair votos para o petista. Paralelamente, os aliados de Lula avaliam que o ex-presidente pode explorar o fato de que Bolsonaro não deu ganho real no salário mínimo nos últimos anos.

“Como você explica, num país que tem quase 60 milhões de pessoas ganhando um salário mínimo, passar cinco anos sem reajustar o salário mínimo[com ganho real]? Como é que é possível? Então, nossa pauta econômica é uma pauta necessária”, disse Lula durante um ato de campanha em São Paulo. 

Em outra frente, Lula aproveitou a propaganda eleitoral desta semana para prometer reajuste do salário mínimo acima da inflação para aumentar o poder aquisitivo das famílias. “O que a gente gosta mesmo é de trabalhar, ter um emprego, ganhar um salário bom. A gente quer, no final do mês, comprar comida para a nossa família, presente para a nossa família, uma roupinha bonitinha para a criança ir para a escola”, disse Lula.

Lula usa Alckmin, Meirelles e Tebet para atrair classe média no segundo turno 

Além dos eleitores das classes C e D, a campanha de Lula ainda aposta na estratégia de atrair o eleitorado da classe média por meio do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice na chapa petista, e do ex-ministro Henrique Meirelles.

Com foco nas discussões das redes sociais, Alckmin usou sua conta no Twitter para responder às acusações de que Lula ainda não teria deixado claro seu programa econômico e divulgar pontos da proposta. "Lula vai focar na competitividade. Reduzir o custo de produção. Retomar nossa indústria, emprego e renda. Desburocratização e digitalização junto de investimentos em infraestrutura e logística, enfrentando os gargalos do escoamento da nossa produção", escreveu Alckmin.

Interlocutores da campanha avaliam que a sinalização feita por Lula nesta semana, de "não será um governo do PT” pode impactar eleitores da classe média nessa reta final. Para esse grupo, esse foi o gesto mais importante de Lula de olho no eleitorado que ainda estava em dúvida sobre os planos econômicos do PT.

"Nosso governo não será um governo do PT. Nós precisamos fazer um governo além do PT. Tem muita gente que nunca foi do PT e participou do meu governo. E vai ser assim. Não será um governo do PT. Será um governo do povo brasileiro", disse o ex-presidente ao lado de nomes como de Meirelles, da senadora Simone Tebet (MDB) e do economista Persio Arida.

Ainda de olho no eleitorado da classe média, a campanha de Lula avalia que a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, que mostrou que a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu por escrito o fim dos descontos com despesas médicas e de educação no Imposto de Renda, pode impactar nessa reta final da campanha.

Após a divulgação da matéria, Guedes disse que a posição oficial do Ministério da Economia é dada pelo ministro. Afirmou ainda que, apesar de não reconhecer a validade do documento, a pasta faz ensaios, estudos, proposições, cenários, análises e outros trabalhos sob as mais diferentes visões por parte dos técnicos. 

Apesar disso, o entorno de Lula acredita que pode explorar o tema nos próximos dias. Para isso, o petista pretende reforçar sua proposta de isentar da cobrança do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil por mês.

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