O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou nesta quarta-feira (19) a chamada "carta aos evangélicos". O documento é uma aposta da campanha petista para tentar crescer no segmento religioso, que atualmente está mais próximo do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Leia abaixo a íntegra da carta aos evangélicos de Lula
Entre outros pontos, a carta de Lula reafirma o compromisso do petista com a liberdade religiosa e desmente mais uma vez que ele vai fechar igrejas e instalar banheiros unissex em escolas públicas. Além disso, Lula relembra feitos de seus governos voltados para pessoas religiosas – como a Reforma do Código Civil assegurando a liberdade religiosa no Brasil, o decreto que criou o dia dedicado à Marcha para Jesus e o Dia Nacional dos Evangélicos.
"Vivemos um período em que mentiras passaram a ser usadas intensamente com o objetivo de provocar medo nas pessoas de boa-fé, e afastá-las do apoio a uma Candidatura que justamente mais as defende. Por isso senti a necessidade de reafirmar meu compromisso com a liberdade de culto e de religião em nosso País", afirma o texto assinado por Lula. A carta foi lida em São Paulo em um evento com cerca de 140 líderes evangélicos, representando 35 denominações religiosas.
Em outro ponto, Lula afirmou ser contra o aborto e destacou que esse é um tema que compete ao Congresso Nacional. "Para mim a vida é sagrada, obra das mãos do Criador e meu compromisso sempre foi e será com sua proteção. Sou pessoalmente contra o aborto e lembro a todos e todas que este não é um tema a ser decidido pelo Presidente da República e sim pelo Congresso Nacional", diz outro trecho.
Evangélica, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) disse no evento que os fiéis que apoiam Lula não devem se deixar intimidar diante da pressão de pastores que apoiam o presidente Bolsonaro. "Infelizmente muitos não tiveram tempo de se qualificar politicamente e tomam posse do evangelho para fazer política. Sabemos que a mentira é coisa de Satanás. Isso está na bíblia. Nós que estamos do lado de cá, onde membros estão sendo expulsos das igrejas por declarar votos no 13, não podemos perder a nossa fé", defendeu Benedita.
Durante o evento, a ex-ministra e deputada eleita Marina Silva (Rede-SP), que também é evangélica, afirmou que a carta é a correção de uma injustiça. "Isso me lembra muito a ideia de que 'eu prefiro sofrer uma injustiça do que cometer uma injustiça'. Estamos dando uma resposta que, para a face do ódio [damos] o amor, para a face da mentira, a verdade. As pessoas que acusam o senhor [Lula] de inverdades, são pessoas que muitas vezes estiveram ao lado do senhor nos governos do PT e viram que o senhor sempre trabalhou pela liberdade religiosa", disse Marina.
Carta aos evangélicos foi motivo de embates dentro da campanha de Lula
A divulgação do documento gerou diversos embates da campanha, pois Lula vinha resistindo a fazer um aceno direto para o eleitorado religioso. Nos últimos dias, no entanto, a campanha de Lula intensificou os gestos com foco nos evangélicos.
Antes disso, o ex-presidente vinha adotando o discurso de que política e religião não deveriam se misturar. No dia 6 de outubro, quatro dias após o primeiro turno, Lula foi questionado diretamente se lançaria uma carta aos evangélicos e disse que "a gente não precisa ficar fazendo carta".
Contudo, aliados como a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que é evangélica e entrou na campanha de Lula neste segundo turno, defendeu que o petista deveria fazer a sinalização aos evangélicos por meio da carta. A avaliação de membros do PT é de que a campanha de Bolsonaro conta com apoio de grandes denominações evangélicas pelo país e isso tem influenciado diretamente no voto desse eleitorado.
"Toda eleição há uma quantidade de mentiras nesse país que precisamos fazer carta. Hora aos católicos, hora aos evangélicos, hora a outro segmento da sociedade. Eu tive que passar anos explicando o porquê a bandeira do PT era vermelha, porquê eu tinha barba (...). A vida inteira a gente tem que ficar se explicando. Jesus teve que se explicar a vida inteira. A dúvida que colocam na gente é uma arma que eles usam para evitar que a gente não ganhe as eleições", afirmou Lula.
Na terça-feira (18), em entrevista ao podcast Flow, Lula já havia reclamado da disseminação de mentiras por parte dos adversários, inclusive dentro de igrejas. "A questão que ele [Bolsonaro] fala todo dia: 'Ah, o Lula vai fazer banheiro unissex'. Já ouviu falar isso, né? Eu acho que você não acredita nisso. É absurdo. Os caras não têm respeito", disse o petista.
Leia a íntegra da carta aos evangélicos de Lula
"Meus Amigos e Minhas Amigas, nesta reta final do segundo turno, decidi escrever esta Carta Pública ao Povo Evangélico.
A grande maioria dos brasileiros e brasileiras que viveram os oito anos em que fui Presidente da República, sabe que mantive o mais absoluto respeito pelas liberdades coletivas e individuais, particularmente pela Liberdade Religiosa.
Como todos devem se lembrar, no período de meu governo, tivemos a honra de assinar leis e decretos que reforçaram a plena liberdade religiosa. Destaco a Reforma do Código Civil assegurando a Liberdade Religiosa no Brasil, o Decreto que criou o dia dedicado à Marcha para Jesus e ainda o Dia Nacional dos Evangélicos.
Mantenho o mesmo respeito e o mesmo compromisso que me motivou a apoiar essas conquistas do povo evangélico.
E o nosso Povo sabe também que cuidei, com especial carinho, dos mais pobres e injustiçados e assim, sob as Bênçãos de Deus, meu governo contribuiu para melhorar a vida de milhões de famílias brasileiras. Sempre penso, neste sentido, no trecho bíblico que diz: “a verdadeira religião é cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades…” (Tiago, 1,27)
Vivemos, entretanto, um período em que mentiras passaram a ser usadas intensamente com o objetivo de provocar medo nas pessoas de boa fé, e afastá-las do apoio a uma Candidatura que justamente mais as defende. Por isso senti a necessidade de reafirmar meu compromisso com a liberdade de culto e de religião em nosso País.
Todos sabem que nunca houve qualquer risco ao funcionamento das Igrejas enquanto fui Presidente. Pelo contrário! Com a prosperidade que ajudamos a construir, foi no nosso Governo que as Igrejas mais cresceram, principalmente as Evangélicas, sem qualquer impedimento e até tiveram condições de enviar missionários para outros países.
Não há por que acreditar que agora seria diferente. Posso lhes assegurar, portanto, que meu Governo não adotará quaisquer atitudes que firam a liberdade de Culto e de Pregação ou criem obstáculos ao livre funcionamento dos Templos.
Envio-lhes esta mensagem, portanto, em respeito à Verdade e ao apreço que tenho a esse Povo crente no Verdadeiro Deus da Misericórdia e a seus dedicados pastores e pastoras.
Se Deus e o povo brasileiro permitirem que eu seja eleito, além de manter esses direitos, vou estimular sempre mais a parceria com as Igrejas no cuidado com a vida das pessoas e das famílias brasileiras.
Sei muito bem que em todas as regiões do Brasil há Igrejas com Irmãos e Irmãs que trabalham ativamente nas suas comunidades com a propagação do Evangelho e com o cuidado do povo, dedicando-se a tornar mais leve os fardos espiritual e social de milhões de pessoas.
Declaro meu respeito e minha admiração pela fé, dedicação e amor com que os evangélicos realizam sua missão, seja na área da difusão do evangelho, seja na área da assistência social, proteção da infância, da juventude, das mulheres, dos idosos e das pessoas com deficiência. Da mesma forma é bem-vinda a participação de Evangélicos nas diversas formas de participação social no Governo, como Conselhos Setoriais e Conferências Públicas.
Em meio a este triste escândalo do uso da Fé para fins eleitorais, assumo com vocês este compromisso: meu Governo jamais vai usar símbolos de sua Fé para fins político-partidários, respeitando as leis e as tradições que separam o Estado da Igreja, para que não haja interferência política na prática da Fé.
Esse é um ensinamento que a própria Bíblia nos dá: andar pelo caminho da Paz com todos. Jesus nos mostra que a casa dividida não prospera. A religião é para ser respeitada e vivida de acordo com a livre escolha de cada pessoa.
Portanto, a tentativa de uso político da fé para dividir os brasileiros não ajuda ninguém, nem ao Estado, nem às igrejas, porque afasta as Pessoas da mensagem do Evangelho. Jesus Cristo nos ensinou Liberdade e paz, respeito e união, disso precisamos. E os cristãos evangélicos têm dado mostras, ao longo da História, de seu compromisso com a paz, seguindo o que Jesus ensinou: “Dai a César o que é de César, dai a Deus o que é de Deus” (Mateus, 22,21).
Outro compromisso que assumo: fortalecer as famílias para que os nossos jovens sejam mantidos longe das drogas. Nós queremos nossa Juventude na escola, na iniciação profissional, realizando atividades esportivas e culturais para que tenham mais oportunidades e exerçam cidadania de forma produtiva,
saudável e plena.
O respeito à família sempre foi um valor central na minha vida, que se reflete no profundo amor que dedico à minha esposa, aos meus filhos e netos. Por isso compreendo o lugar central que a família ocupa na fé cristã.
Também entendo que o lar e a orientação dos pais são fundamentais na educação de seus filhos, cabendo à escola apoiá-los dialogando e respeitando os valores das famílias, em a interferência do Estado.
A preocupação com as Famílias Brasileiras deve ser integral. O povo brasileiro está numa condição de desespero, e precisaremos muito da ajuda das Igrejas para, o quanto antes, reverter esta situação. De nada adianta se dizer defensor da Família e ao mesmo tempo destruí-las pela miséria, pelo desemprego, pelo corte das políticas sociais e de moradia popular.
Queremos dar às famílias, prosperidade e segurança. O Lar é a garantia de proteção. É inaceitável que milhões de brasileiros e brasileiras não tenham um teto. Por isso, vamos retomar o vitorioso programa Minha Casa Minha Vida, com toda intensidade, para que todas as Famílias brasileiras tenham uma casa onde possam viver com segurança e dignidade.
Nosso governo implementará políticas públicas consistentes para que nenhuma família brasileira enfrente o flagelo da fome. Sobretudo, não pouparei esforços para que possam adquirir os necessários e suficientes meios, para viver dignamente por seu trabalho, sem ter que depender da ajuda do Estado.
Nosso Projeto de Governo tem compromisso com a Vida plena em todas as suas fases. Para mim a vida é sagrada, obra das mãos do Criador e meu compromisso sempre foi e será com sua proteção. Sou pessoalmente contra o aborto e lembro a todos e todas que este não é um tema a ser decidido pelo Presidente da República e sim pelo Congresso Nacional.
Meus Queridos e Minhas Queridas, peço que recebam essas palavras como uma demonstração de meu desejo sincero de servir, de ajudar e trabalhar pelo bem de nosso país. E estejam certos de minha estima e meu compromisso com todo o povo cristão de nosso país. Reitero meu compromisso, que é o mesmo de vocês: paz, união e fraternidade entre todos os brasileiros e brasileiras.
Com as bênçãos de Deus, haveremos de honrar nossa dupla condição, de cidadãos e cristãos, pois não há contradição entre elas quando o propósito é servir, buscando a paz e o entendimento. E digo tudo isso com muito amor pelo nosso querido Brasil e pelo Povo Brasileiro: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes Amor uns pelos outros!” (João,13,35)."
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