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O ex-presidente Lula em evento do PT.
O ex-presidente Lula em evento do PT.| Foto: Ricardo Stuckert

O PT traçou um plano para conter o crescimento do presidente Jair Bolsonaro (PL) – já verificado em algumas pesquisas de intenção de voto e também em outros levantamentos que indicam uma melhoria na avaliação popular sobre o trabalho do governo. O principal eixo da estratégia petista será reforçar o legado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no comando do país, comparando-os com recentes medidas do governo Bolsonaro que tendem a aumentar sua popularidade.

Isso inclui afirmar que os governos do PT tinham projetos sociais permanentes para os mais pobres, contrapondo-se à ampliação temporária dos benefícios feitas pelo governo Bolsonaro – como o Auxílio Brasil de R$ 600. O PT e Lula também devem afirmar que a gasolina era mais baratas nas gestões petistas, apesar da recente queda do preço do combustível causada por ações de Bolsonaro e de sua base aliada no Congresso.

O legado petista também será usado para tentar conquistar o apoio de setores que hoje estão mais alinhados com Bolsonaro – caso do agronegócio. O PT pretende convencer o segmento rural de que foi beneficiado nos governos de Lula e Dilma Rousseff, e que isso vai se manter.

Em outra frente, o PT pretende focar ações em alguns estados nos quais acredita que Lula pode tirar votos de Lula – caso do Paraná, por exemplo.

O que o PT e Lula devem falar sobre Auxílio Brasil e queda do preço da gasolina

Em relação à queda recente nos preços dos combustíveis, uma abordagem que o PT deve apostar é a de enfatizar que nos tempos do governo do PT o custo do litro da gasolina era muito inferior atual, apesar da recente queda de preço. "Quando Bolsonaro entrou no governo, a gasolina estava R$ 4. E a campanha vai mostrar tudo isso", diz o ex-deputado Geraldo Magela, coordenador da campanha de Lula no Distrito Federal .

A linha de comunicação petista em relação ao Auxílio Brasil também está traçada. O presidente do PT no Paraná, o deputado estadual Arilson Chiorato, afirma que o partido considera um "oportunismo eleitoral" as recentes medidas sociais do governo federal, como a ampliação do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, que está programada para acabar em dezembro.

Segundo ele, o PT explicará à população que votou a a favor do projeto de Bolsonaro, mas que defende programas de distribuição de renda estáveis. "Nós sempre votamos a favor do que é benéfico para a população", disse, em referência ao fato de o PT não ter se oposto ao reajuste temporário do Auxílio Brasil durante sua tramitação no Congresso Nacional.

Geraldo Magela indica que o caráter temporário do Auxílio Brasil de R$ 600 vai ser destacado. "A população vai entender que isso vai durar poucos meses e depois acabar", diz Magela.

Em eleições anteriores, o PT sempre destacou o Bolsa Família como uma de suas principais realizações. O programa foi criado ainda no primeiro mandato de Lula e consistia no repasse de um valor a famílias em situação de extrema pobreza. A iniciativa foi responsável pela popularidade de Lula em regiões mais pobres, em especial no Nordeste. O Bolsa Família foi reformulado na gestão Bolsonaro e rebatizado como Auxílio Brasil.

A campanha de Bolsonaro, por outro lado, já percebeu o risco de o discurso do PT sensibilizar os eleitores mais pobres. Na convenção do PL em que Bolsonaro foi oficializado como candidato à reeleição, no domingo (24), o presidente prometeu que o Auxílio Brasil de R$ 600 continuará em 2023 – embora, por enquanto, não haja uma formalização desse compromisso.

Partido quer se aproximar do agronegócio

A estratégia eleitoral do PT inclui ainda a abordagem a representantes do agronegócio, destacando o legado petista. "O setor do agro nunca foi tão beneficiado e tão bem atendido como nos governos do PT. Não estamos falando de um segmento que desconhece o Lula", diz Geraldo Magela.

Um dos movimentos feitos por Lula e o PT para garantir mais apoio do agronegócio foi a parceria firmada com o senador Carlos Fávero (PSD-MT) e o deputado federal Neri Geller (PP-MT). Ambos são representantes do setor em Mato Grosso e darão palanque a Lula no estado, o principal produtor de grãos do país. Neri deve concorrer ao Senado tendo o PT como parte de sua base.

Também com o mesmo objetivo, o PT deve estimular mais atos liderados pelo ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), o vice de Lula na chapa presidencial. Filiado ao PSDB na maior parte de sua trajetória política, Alckmin tem a simpatia de muitos expoentes do agronegócio – o que é visto no PT como um mecanismo para diminuir a resistência do setor a Lula.

Estados estratégicos para o PT e coligações

O Paraná é visto pelo PT como um estado estratégico na disputa presidencial. Em 2018, o Paraná foi um dos que deu vantagem expressiva a Bolsonaro na disputa com Fernando Haddad (PT) – na ocasião, foram 68,4% dos votos ao presidente no segundo turno da disputa, contra 31,6% para o petista.

Presidente do PT paranaense, Arilson Chiorato acredita que a dianteira de Bolsonaro no Paraná não se repetirá em 2022. Ele vê a possibilidade de o Paraná conceder vantagem para Lula. Uma medida para alcançar a meta, segundo ele, é a de atrelar a campanha nacional com a estadual, na qual o PT terá o ex-governador Roberto Requião como candidato ao governo do estado. Será a primeira eleição em que Requião concorrerá como filiado ao PT. Ele era figura histórica do MDB, do qual se desligou no ano passado.

Mas Requião está distante do governador Ratinho Júnior (PSD), que é candidato à reeleição e tende a ter o apoio de Bolsonaro no estado, segundo a última pesquisa sobre a disputa pelo governo do Paraná. Levantamento do instituto Real Time Big Data, divulgada na quinta-feira passada (21), mostrou Ratinho Júnior com 43% das intenções de voto, em primeiro, contra 16% de Requião, em segundo.

O fortalecimento dos palanques regionais é outra tática do PT para conter o avanço de Bolsonaro. O partido tem, nos últimos dias, se empenhado para aparar algumas arestas ainda pendentes.

No Ceará, por exemplo, apresentou o deputado estadual Elmano Santana como candidato ao governo – ele enfrentará o PDT do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio. PT e PDT eram parceiros no estado até a decisão dos pedetistas de excluir a atual governadora, Izolda Cela (PDT), da disputa pela reeleição. A apresentação de um nome próprio é vista pelo PT como uma tentativa de minimizar os impactos eleitorais do fim da aliança com o PDT.

Para o ex-deputado Magela, ainda que o PT não consiga mais atrair partidos para a sua coligação nacional, a legenda pode angariar apoios setoriais, com lideranças vinculadas a agremiações que no plano nacional apoiem outros nomes.

O crescimento de Bolsonaro

Pesquisa do PoderData divulgada no último dia 20 mostrou a menor diferença entre Bolsonaro e Lula desde abril, de acordo com os levantamentos produzidos pelo instituto. A vantagem do petista sobre o atual presidente, que já esteve em 10 pontos percentuais, caiu agora para seis.

Outro levantamento do PoderData identificou tendência de alta nos números da avaliação positiva do governo Bolsonaro. Atualmente, 41% do eleitores aprovam a gestão federal, contra 55% que a desaprovam. No início de janeiro, a reprovação estava em 61%, e a aprovação, em 31%.

Metodologia das pesquisas citadas na reportagem

A pesquisa de intenção de voto do instituto PoderData, que contratou o próprio levantamento, ouviu 3 mil eleitores em 309 municípios das 27 unidades da federação entre os dias 17 e 19 de julho de 2022. As entrevistas foram feitas por telefone, para fixos e celulares. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. Foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-07122/2022.

Já a pesquisa sobre a avaliação do governo federal foi também contratada pelo próprio PoderData. O levantamento do PoderData foi realizado de 17 a 19 de julho de 2022. Foram entrevistadas 3.000 pessoas com 16 anos de idade ou mais em 309 municípios nas 27 unidades da Federação. Foi aplicada uma ponderação paramétrica para compensar desproporcionalidades nas variáveis de sexo, idade, grau de instrução, região e renda. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no TSE sob o número BR-07122/2022.

A pesquisa eleitoral do Real Time Big Data para o governo do Paraná foi encomendada pela Record TV. O instituto entrevistou 1,5 mil pessoas presencialmente, entre os dias 19 e 20 de julho. A margem de erro do levantamento é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com o número PR-06745/2022.

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