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O ex-presidente Lula e a candidata do PT Marília Arraes, derrotada na disputa pela prefeitura do Recife.
O ex-presidente Lula e a candidata do PT Marília Arraes, derrotada na disputa pela prefeitura do Recife.| Foto: Reprodução/Facebook/Marília Arraes

Diante dos resultados das eleições municipais, membros de partidos de esquerda reconhecem que vão precisar intensificar o processo de renovação política em nome da própria sobrevivência para as eleições de 2022. Apesar de terem contabilizado vitórias em cidades importantes como Belém, Recife, Maceió e Fortaleza, no geral a avaliação da cúpula dessas siglas é que as eleições municipais deste ano ratificaram o processo de desgaste de velhos líderes.

Entre os partidos de esquerda, a situação de PT e PCdoB é considerada a mais preocupante, conforme dirigentes ouvidos pela Gazeta do Povo. Em números absolutos, o PT sai das eleições de 2020 com o menor número de cidades desde o início da era Lula: 183. Além disso, essa é a primeira vez que o partido não conquista nenhuma capital. No segundo turno, o PT disputou as prefeituras de Recife e Vitória. Perdeu em ambas. As vitórias relevantes vieram em cidades como Diadema (SP), Mauá (SP), Contagem (MG) e Juiz de Fora (MG). Diadema, inclusive, foi a primeira cidade administrada pelo partido no distante ano de 1982.

No caso do PCdoB, o governador do Maranhão, Flávio Dino, foi derrotado em sua base eleitoral. O PSB conseguiu eleger dois prefeitos de capitais: Recife e Maceió. E o Psol conquistou Belém.

No caso específico do PT, alguns partidários creditam a derrota nas urnas a dois personagens: a presidente do partido, Gleisi Hoffmann e, em menor grau, ao ex-presidente Lula.

Integrantes da executiva nacional alegaram à Gazeta do Povo que a deputada errou no processo eleitoral de 2020 ao falar apenas para “convertidos”, inclusive pelas redes sociais. Em um cenário de declínio, esse tipo de comportamento, na visão deles, ampliou um fosso já existente entre o eleitorado e o partido. A crise interna é tanta que membros da sigla já falam em pressioná-la a antecipar o término de sua gestão, que vai até 2023.

Lula também tem sua parcela de culpa, na visão de integrantes do partido. Nos bastidores, alegam que o ex-presidente não observou a necessidade de renovação e que a aposta em velhos quadros foi decisiva em 2020. Por isso, alguns membros do PT defendem uma real e substancial autocrítica olhando para as eleições de 2022.

“Temos que enxergar a lição das urnas e fazer uma avaliação muito sensata. O que ficou claro: precisamos apresentar novos nomes. O campo progressista pode crescer, mas não com políticos já rejeitados pelo eleitor”, analisou um alto integrante da executiva nacional à Gazeta do Povo, em caráter reservado.

O líder do PT na Câmara, Enio Verri (PR), faz avaliação menos drástica do cenário eleitoral. Ele ressalta como ponto positivo o fato de o PT ter derrotado – ou ajudado a derrotar – políticos ligados ao bolsonarismo, como ocorreu em Belém. Na capital do Pará, a chapa vitoriosa tem como vice um integrante do partido, Edilson Moura, e derrotou o bolsonarista Delegado Federal Eguchi (Patriota).

“Houve avanços positivos nas eleições deste ano. E um deles é que percebemos a importância de manter a esquerda unida dentro do campo progressista”, disse o líder do PT. “O resultado [das eleições], óbvio, impõe uma boa avaliação de conjuntura sobre os principais desafios que virão pela frente. Sobre renovação, acho que ela precisa vir no dia a dia e a partir de um bom projeto para o país”, afirmou o líder.

Derrotas em São Paulo e Porto Alegre mostram caminho aos partidos de esquerda

A necessidade de renovação da esquerda é ilustrada pelo desempenho de dois candidatos derrotados neste domingo: Manuela D’Ávila, candidata a prefeita em Porto Alegre, e Guilherme Boulos, em São Paulo. Ambos participaram de suas primeiras eleições majoritárias em capitais, conseguiram chegar ao segundo turno e obtiveram votações expressivas.

Em Porto Alegre, Manuela teve 307 mil votos e fechou o segundo turno com 45,3% dos votos válidos; já em São Paulo, Boulos foi derrotado, mas obteve 2,1 milhões de votos. Em 2018, o psolista havia conquistado apenas 617 mil votos em sua candidatura à Presidência da República.

Até mesmo a vitória de Edmilson Rodrigues (Psol) em Belém, apesar de celebrada pelo partido, ratificou essa necessidade de renovação. Edmilson já foi prefeito da cidade pelo PT e teve uma disputa voto a voto com o novato Delegado Eguchi (Patriota), um neófito em disputas majoritárias no estado. Eguchi tentou se eleger deputado federal em 2018, surfando na onda do bolsonarismo, mas não teve sucesso.

A presidente do PCdoB, Luciana Santos, destacou que as eleições de fato projetaram novas lideranças e classifica Boulos e Manuela como grandes vencedores. Porém, ela fez uma ressalva: “O resultado das eleições mostrou que o caminho que precisamos construir é o da unidade e da amplitude. Também provou que devemos, sim, esperançar”.

Flávio Dino sofre revés no Maranhão e liga alerta vermelho

No Maranhão, o governador do estado, Flávio Dino (PCdoB), sofreu seu primeiro grande revés após duas vitórias consecutivas contra o grupo do ex-presidente José Sarney. Duarte Júnior (Republicanos), candidato que contou com o apoio de Dino, foi derrotado por Eduardo Braide (Podemos) na capital, São Luís.

É a primeira vez desde os anos de 1980 que um candidato com algum vínculo com a família Sarney vence na capital do estado, São Luís. Internamente, integrantes do governo buscam não vincular a derrota a Dino, para não comprometer seu objetivo de concorrer à Presidência da República em 2022. Mas, após esse revés, a tendência é de que Dino busque uma vaga no Senado.

Apesar de ter alguns nomes postos, como o de Boulos, Manuela D’Ávila, Marília Arraes, entre outros, integrantes do campo da esquerda admitem que nenhum deles tem estofo suficiente para ingressar em uma disputa presidencial contra o presidente Jair Bolsonaro sem a existência de uma frente ampla de partidos de esquerda.

“De uma forma geral, os partidos progressistas se alinharam em torno de quem passou para o segundo turno. E isso marca uma distinção e um aprimoramento em relação ao que vimos em 2018 e, portanto, anuncia uma esperança em relação a 2022, que é essa dinâmica de união [na esquerda]”, disse o governador do Maranhão, Flávio Dino, neste domingo (29).

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