
Durante uma década, a música "Bicho do Paraná", do cantor e compositor João Lopes, foi mais popular no estado do que os hits de Kleiton e Kledir, Sá e Guarabira e Chitãozinho e Xororó para citar alguns dos nomes que pontificaram no show business no Brasil dos anos 80 e 90.
O que levou um rock rural assinado por um artista desconhecido a passar a perna no mercado fonográfico é coisa dos deuses. Tudo começou quando Vandelino Gonçalves, produtor da TV Paranaense, gravou um clipe com Lopes um pé-vermelho dotado de pedigree. Natural da pequena Califórnia, no Norte do estado, o músico que parecia saído de um rodeio no Texas mostrava que o estilo estradeiro podia conviver muito bem com o pop. Nada mais sob medida para um momento em que a população se mudava em caravana para as cidades, mas se acabava de tantas saudades do campo.
João era não só a mais perfeita tradução desse dilema, como uma prova de que não havia motivo para mágoa. Tudo bem não ser "gato de Ipanema." O sujeito divertia. Seu clipe, claro, agradou tanto que acabou sendo exibido no TV Mulher um dos programas de maior audiência na época e num passe de mágica virou canção-tema de uma campanha feita em parceria pelo Canal 12 e o então Banco Bamerindus.
A proposta assinada pelo supervisor João José de Arruda Neto, o Jota-Jota, Vandelino e por dois craques da publicidade, Sérgio Reis e Elói Zanetti tinha a simplicidade de uma quermesse: a cada semana, um paranaense ilustre seria homenageado no Canal 12 com a "comenda" de "Bicho do Paraná". Certamente, deu um frio na barriga dos produtores, já que o povo da terra tem fama de tímido e autofágico.
Os "segundinhos de fama" corriam o risco de ser acusados de bairrismo e cafonice. Mas viraram um banho de estima. "Não esperávamos que fosse fazer tanto sucesso", lembra Vandelino, ao falar da vida longa e da popularidade do projeto. Em uma década, 480 personalidades passaram pela telinha. A galeria exibiu nomes óbvios, como a poeta Helena Kolody uma unanimidade paranaense , baluartes feito o físico César Lates, mas também médicos e pesquisadores cuja atuação e reconhecimento estavam restritos a alguns nichos da sociedade local.
Foi mesmo um golaço. Quando chegou a hora de acabar, Cunha Pereira chamou Vandelino e sua equipe, agradeceu e os recompensou pelos serviços prestados. Não houve transmissão de pensamento, mas é bem capaz que a turma da produção tenha sentido ganas de gravar ali o último programa este com Francisco, "bicho do Paraná" de fato e de direito. Graças a ele, acabava em glória a mais longa campanha feita numa televisão brasileira.



