
Uma Holanda às avessas. Com essa frase de efeito, durante um ano a Gazeta do Povo fez marcação cerrada contra a construção da Usina Hidrelétrica de Ilha Grande, no Noroeste do Paraná. Edições são agressivas, pedindo um "basta aos alagamentos desnecessários, causadores de sofrimento aos agricultores". Parecia em vão. Os protestos não impediam a Eletrosul de demarcar o lago de 1.312 quilômetros quadrados e seguir com as obras da barragem.
Seguindo a lógica das outras campanhas, o jornal faz argumentações quase didáticas sobre o descalabro de Ilha Grande: 16 municípios do estado iriam perder área para gerar a quirera de 2,6 milhões de quilowatts um quinto da capacidade de Itaipu , com o agravante de que, sozinha, Ilha Grande representaria 35,7% de todas as áreas inundadas no estado. Ou seja, um caso de polícia, atingindo diretamente dez mil moradores das centenas de ilhas entre as cidades de Guaíra e Marilena.
Diante das evidências, na edição de 30 de maio de 1982 dias depois de receber o título de Cidadão Benemérito do Paraná, concedido pela Assembleia Legislativa , Cunha Pereira pede em alto e bom som que as obras em Ilha Grande sejam paralisadas. De quebra, questiona o modelo exportador de energia imposto ao estado estado que, de acordo com o jornal, tinha perdido 1,3 milhão de habitantes em dez anos, afugentados por tantas represas.
Em 1997, quando foi criado o Parque Nacional de Ilha Grande, uma área de 78 mil hectares, o projeto da usina já descansava em paz. Dela sobraram algumas estruturas abandonadas, que têm lá sua serventia: lembram que o Paraná, que se abriu a Itaipu, disse não à Usina de Ilha Grande pelas páginas de um jornal.



