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Família

O homem que fazia pipas

Filhos lembram dos brinquedos feitos pelo pai, das orações antes de dormir e da maratona do patriarca para conciliar vida pública e vida privada. “Ele voltava correndo para casa”, lembram

Ana Amélia, Guilherme e Cristina, em 2007, no evento que concedeu a Francisco Cunha Pereira Filho o troféu Guerreiro do Paraná | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Ana Amélia, Guilherme e Cristina, em 2007, no evento que concedeu a Francisco Cunha Pereira Filho o troféu Guerreiro do Paraná (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)
Três gerações da família Cunha Pereira: Francisco Neto; Francisco pai; e o desembargador Francisco Cunha Pereira, que morreu em 1999, aos 102 anos |

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Três gerações da família Cunha Pereira: Francisco Neto; Francisco pai; e o desembargador Francisco Cunha Pereira, que morreu em 1999, aos 102 anos

No trabalho, o jornalista Francisco Cunha Pereira Filho alçava a Rede Paranaense de Comunicação (RPC) ao posto de maior empresa de comunicação do estado. Em casa, o pai Francisco fazia quatro pipas, uma para cada filho, alçarem voos igualmente bem-sucedidos. A dedicação com que atuava tanto no campo profissional quanto no pessoal era a mesma. "Mesmo muito ocupado, ele tinha todo o tempo para a família. Sempre foi muito presente em casa", lembra-se o advogado Guilherme, filho de Francisco e vice-presidente da RPC.

Empinar pipa, assim como jogar pingue-pongue ou contar piadas durante os jantares de domingo era apenas uma pequena parte da atenção de Francisco com os quatro filhos – Francisco Neto, 44 anos; Guilherme, 42; Ana Amélia, 41; e Cristina, 39. A educação dos herdeiros sempre foi prioridade para o pai, que fazia questão de levá-los pela mão até a escola, no primeiro dia de aula. "Eu tive bastante dificuldade, na quinta ou sexta série. Quando ele descobriu isso, passou a estudar diariamente comigo", conta a jornalista Ana Amélia, também vice-presidente da RPC.

De acordo com os filhos, Francisco ensinava-os com exemplos, sem precisar sequer levantar a voz – ele apenas levantava as expressivas sobrancelhas para que soubessem que algo o desagradava. "Às vezes, ficávamos de castigo, uns dois ou três minutos, no canto da sala. Ele mantinha a autoridade de forma natural e afetuosa", fala Guilherme. Os exemplos de Francisco, de bem tratar a todos, em especial os funcionários – no dia do Natal, por exemplo, antes de seus compromissos familiares, passava na Gazeta para cumprimentar os plantonistas –, eram registrados pelos filhos. "Ele nunca falava mal de ninguém", lembra Ana Amélia. "Sempre dizia que gostava de discutir as ideias e não o pessoal", emenda Cristina.

Quando os filhos eram adolescentes e saíam à noite, Francisco não sossegava enquanto eles não estivessem de volta em casa. "Ele ficava acordado até tarde esperando a gente, ou esperando a hora de nos buscar", comenta Cristina. Já se era Francisco quem tinha que sair, para comparecer a algum evento, ele procurava não se ausentar por muito tempo. "Se era possível fazer uma visita mais breve, para poder estar logo em casa, ele fazia", fala Guilherme.

As constantes viagens de Francisco ilustram bem o equilíbrio que o diretor-presidente da RPC procurava manter entre o trabalho e a família – tanto que, perguntados se o pai tinha algum hobby, os filhos respondem, em uníssono: "A família e o trabalho". Quando viajava por lazer, com a família, mantinha um olho na empresa. "Ele acompanhava o jornal, em qualquer lugar que estivesse", diz Guilherme. Quando viajava a trabalho, não tirava a cabeça de casa. "Sempre trazia um presente para cada filho. Sabia até o número do calçado de cada um", completa Cristina.

A assiduidade aos compromissos domésticos era similar à que mantinha em relação às missas dominicais e orações diárias. O jornalista era religioso e devoto do santo cujo nome carregava, mas nunca forçou os filhos a seguirem os seus passos até a igreja – eles faziam isso naturalmente. "Todas as noites rezávamos com ele, a mesma oração", recorda-se Cristina. "Menino Jesus, olhai por mim, por meus irmãozinhos, por meu pai, minha mãe, meus avós, tios, primos, amigos, por todos. Abençoai-nos na saúde e na felicidade", rezam hoje, com saudade, os filhos.

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