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Violência

Clima de medo paira sobre a Vila Sabará

Tiroteio em plena luz do dia e boatos sobre novos assassinatos assustam a população que mora na Cidade Industrial de Curitiba

A morte de dois adolescentes nesta semana esvaziou as ruas do Sabará | Marco André Lima/ Gazeta do Povo
A morte de dois adolescentes nesta semana esvaziou as ruas do Sabará (Foto: Marco André Lima/ Gazeta do Povo)

Ruas praticamente desertas, pouca circulação de carros e pátios de escolas vazios traduziam o clima de medo que pairava ontem, na Vila Sabará, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). A apreensão dos moradores foi agravada por um tiroteio, ocorrido no meio da tarde, em um bosque próximo da Escola Municipal Mansur Guerios. Em pouco tempo, boatos de dois assassinatos – que não foram confirmados – ganharam as ruas. A poucas quadras dali, dois adolescentes foram mortos e três ficaram feridos nesta semana. Outros seis estariam jurados de morte.

O som de pelo menos quatro disparos fez com que moradores pensassem que a lista de marcados para morrer tivesse tido mais duas baixas. O tiroteio foi ouvido por volta das 15h30, nas imediações da escola. Moradores relatam que houve pânico e corre-corre. "A gente viu muitos guardas passando, correndo. Todo mundo disse que tinham matado mais dois", disse um morador. A Guarda Municipal confirmou que um agente ouviu os disparos e acionou outras equipes. Duas motos e duas viaturas foram ao bosque, mas não encontraram os suspeitos. Os assassinatos não ocorreram, segundo as autoridades.

O clima de tensão entre os moradores decorre, segundo a Delegacia de Homicídios (DH), de um enfrentamento de gangues formadas por jovens. Desde o início da semana, a unidade trabalha na Vila Sabará e identificou três grupos: o Cidade de Deus (CDD), o Comando Sabará e o Comando Corbélia. As facções são compostas por jovens com idades entre 12 e 20 anos. Todos teriam integrantes matriculados na Escola Municipal Cândido Portinari, onde estudavam os dois jovens mortos nesta semana. "Até mesmo meninas de 12 anos são atraídas por estas gangues e namoram os adolescentes que dominam os grupos", explica o investigador Carlos Henrique Lima.

Segundo a polícia, as drogas estão presentes nos grupos identificados, mas não são o maior motivador dos assassinatos. A versão, no entanto, diverge da apresentada por moradores ouvidos pela Gazeta do Povo. Um deles revela que os confrontos estão ocorrendo pela disputa pelo controle do tráfico. Outro diz que a Polícia Militar sabe quem são os envolvidos na venda de entorpecentes, mas que é conivente com a prática.

"Tem ponto [de tráfico] até em frente de posto de saúde. A PM vem a noite, encosta [a viatura], conversa com os traficantes, mas não prende ninguém. Deve ter algum acerto", acusa. A Gazeta do Povo entrou em contato com a assessoria de imprensa da PM para repercutir a denúncia, mas até o fechamento desta edição não houve retorno.

A tensão gerada pelas mortes consumadas e pela suposta lista de marcados para morrer foi reforçada por um bilhete da direção da Escola Cândido Portinari, dizendo que "se não estivessem seguros em encaminhar os filhos para a escola, os pais poderiam deixá-los em casa, sem prejuízo pedagógico". De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, dos 2,2 mil alunos (distribuídos nos turnos da manhã e tarde), somente 700 compareceram às aulas ontem.

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