
Ruas praticamente desertas, pouca circulação de carros e pátios de escolas vazios traduziam o clima de medo que pairava ontem, na Vila Sabará, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). A apreensão dos moradores foi agravada por um tiroteio, ocorrido no meio da tarde, em um bosque próximo da Escola Municipal Mansur Guerios. Em pouco tempo, boatos de dois assassinatos que não foram confirmados ganharam as ruas. A poucas quadras dali, dois adolescentes foram mortos e três ficaram feridos nesta semana. Outros seis estariam jurados de morte.
O som de pelo menos quatro disparos fez com que moradores pensassem que a lista de marcados para morrer tivesse tido mais duas baixas. O tiroteio foi ouvido por volta das 15h30, nas imediações da escola. Moradores relatam que houve pânico e corre-corre. "A gente viu muitos guardas passando, correndo. Todo mundo disse que tinham matado mais dois", disse um morador. A Guarda Municipal confirmou que um agente ouviu os disparos e acionou outras equipes. Duas motos e duas viaturas foram ao bosque, mas não encontraram os suspeitos. Os assassinatos não ocorreram, segundo as autoridades.
O clima de tensão entre os moradores decorre, segundo a Delegacia de Homicídios (DH), de um enfrentamento de gangues formadas por jovens. Desde o início da semana, a unidade trabalha na Vila Sabará e identificou três grupos: o Cidade de Deus (CDD), o Comando Sabará e o Comando Corbélia. As facções são compostas por jovens com idades entre 12 e 20 anos. Todos teriam integrantes matriculados na Escola Municipal Cândido Portinari, onde estudavam os dois jovens mortos nesta semana. "Até mesmo meninas de 12 anos são atraídas por estas gangues e namoram os adolescentes que dominam os grupos", explica o investigador Carlos Henrique Lima.
Segundo a polícia, as drogas estão presentes nos grupos identificados, mas não são o maior motivador dos assassinatos. A versão, no entanto, diverge da apresentada por moradores ouvidos pela Gazeta do Povo. Um deles revela que os confrontos estão ocorrendo pela disputa pelo controle do tráfico. Outro diz que a Polícia Militar sabe quem são os envolvidos na venda de entorpecentes, mas que é conivente com a prática.
"Tem ponto [de tráfico] até em frente de posto de saúde. A PM vem a noite, encosta [a viatura], conversa com os traficantes, mas não prende ninguém. Deve ter algum acerto", acusa. A Gazeta do Povo entrou em contato com a assessoria de imprensa da PM para repercutir a denúncia, mas até o fechamento desta edição não houve retorno.
A tensão gerada pelas mortes consumadas e pela suposta lista de marcados para morrer foi reforçada por um bilhete da direção da Escola Cândido Portinari, dizendo que "se não estivessem seguros em encaminhar os filhos para a escola, os pais poderiam deixá-los em casa, sem prejuízo pedagógico". De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, dos 2,2 mil alunos (distribuídos nos turnos da manhã e tarde), somente 700 compareceram às aulas ontem.



