
"Dizer bom dia a alguém é um sinal de que você reconhece e respeita a existência daquela pessoa". Essa frase, da estudante de Pedagogia Fabiane Moreira da Silva, 18 anos, simboliza uma conscientização fundamental para reverter o quadro preocupante de medo e de violência no país. Mesmo tão jovem, ela sabe e entende a importância de estreitar as amizades e multiplicar o conceito de cultura de paz. Consciência essa que quase metade dos paranaenses ainda não tem.
Segundo levantamento da Paraná Pesquisas (veja o infográfico abaixo), 86,64% dos paranaenses conhecem seus vizinhos, mas o relacionamento é superficial em quase metade dos casos: 49,44% dos entrevistados relataram que costumam encontrar os vizinhos só quando estão saindo de casa e 6,18%, só em situações inesperadas, como no caso de um assalto. Por outro lado, 51,69% dizem que costumam visitar a vizinhança.
Autor do livro Diálogos Sobre Segurança, o delegado da Polícia Civil do Paraná Rafael Vianna é um firme defensor do fortalecimento das amizades entre vizinhos. Para ele, essa relação forte e próxima pode fazer a diferença quando o assunto é segurança pública. Mas, antes de fortalecer a amizade com a pessoa que mora na mesma rua, segundo o policial, é importante cultivar os mesmos valores dentro de casa. "Essas relações começam com a família. Não se pode ter medo de cultivar a gentileza dentro de casa. Depois, sim, pode partir para as pessoas que estão ao seu redor", opina.
Ele lembra que a maioria dos pequenos delitos que algumas vezes se transformam em tragédias pode ser evitada com bons relacionamentos entre vizinhos. Segundo o delegado, muitas discussões entre vizinhos acabam nas delegacias. "É preciso compreender e se colocar no lugar do outro. O nosso maior problema é que sempre encaramos qualquer discussão como um ato de guerra. Não existem vencedores em uma briga ou um homicídio", ressalta.
Sobre o grande número de paranaenses que mantém um relacionamento superficial com os vizinhos, o delegado explica. "É medo de começar, de ser gentil. Hoje, as pessoas confundem bondade com fraqueza", explica. De acordo com o delegado, o segredo é valorizar os gestos de bondade, assim com Fabiane faz. "Enquanto a bondade for motivo de vergonha, dificilmente teremos solução na segurança pública", enfatiza.
Cultura da paz
Na avaliação da diretora do Instituto Sou da Paz, Luciana Guimarães, gestos de gentileza e boa vizinhança fazem parte da cultura da paz, que precisa cada vez mais ser valorizada. "Isso tem a ver com a forma com que convivemos com as pessoas. É algo muito mais proativo", explica. Segundo ela, a maioria dos conflitos do dia a dia é de convivência. "Não significa ser contra os conflitos, porque sempre vão existir. O que não é saudável é resolvê-los de maneira violenta".
Para Luciana, conviver bem com o outro cria um ambiente desfavorável para o conflito. "Apostar no diálogo é ter uma forma diferente de resolver os problemas. É lidar com tudo de um jeito pacífico."
Segundo Luciana, a vizinhança é uma instância muito importante, mas não pode parar por ai. "Começamos com os vizinhos e espalhamos essa cultura para outras relações", comenta. Ela defende que a cultura de paz seja transversal e atinja toda sociedade. "Se a gente conseguir incorporar essa cultura, talvez revertamos esse quadro de violência e individualismo", destaca.




