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O coronel Roberson Bondaruck observa que o abandono de uma praça na Vila Verde, na CIC, é uma oportunidade para a instalação do crime na área | Felipe Rosa/ Gazeta do Povo
O coronel Roberson Bondaruck observa que o abandono de uma praça na Vila Verde, na CIC, é uma oportunidade para a instalação do crime na área| Foto: Felipe Rosa/ Gazeta do Povo

Na CIC com o coronel

Palco de duas mortes e três feridos por arma de fogo desde que o mês começou, o Bolsão Sabará é um dos exemplos que confirmam que a presença de inadequações urbanísticas, falta de policiamento eficiente e pouca participação da comunidade, devido ao medo, podem elevar os índices de criminalidade. No último dia 7, a reportagem convidou o coronel Roberson Bondaruck, da Polícia Militar e referência em segurança pública, para visitar os locais e averiguar as condições urbanas e sua relação com o crime. Naquele dia, completava cinco dias da última morte.

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Campanha

Paz Sem Voz É Medo foca comunidades da Cidade Industrial

Como parte da campanha Paz Sem Voz É Medo, o GRPCom está desenvolvendo uma série de reportagens na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), o maior e mais populoso bairro da capital. As matérias abordam questões gerais, como história, iniciativas populares, dificuldades e sonhos dos moradores. O foco principal, porém, são reportagens que analisam a questão de segurança no bairro, que concentra o maior número de homicídios na capital.

Incursão

A partir de hoje, a incursão na CIC começa uma nova etapa, em que irá enfocar prioritariamente questões relacionadas à Vila Verde e ao Bolsão Sabará, regiões que, mesmo também sendo atingidas pela violência, possuem um bom grau de envolvimento popular.

As ações nas duas vilas não devem se limitar à publicação e veiculação de reportagens. Estão previstas atividades de integração com a comunidade local, como cafés da tarde com as lideranças, minifóruns sobre segurança e ações destinadas aos jovens. A expectativa é de que, ao final, o GRPCom possa ter dado uma contribuição para que a comunidade se mobilize em favor da paz e outras regiões de Curitiba e do Paraná também se motivem a fazer o mesmo.

Segurança de vilas depende de ocupação policial e social

Diante do cenário encontrado na Vila Verde e no Bolsão Sabará, o coronel da Polícia Militar Roberson Luiz Bondaruck avalia que uma alternativa para o local – e para regiões que vivem realidades semelhantes – é a instalação de uma unidade de ocupação policial nos moldes do que existe, desde 2008, com o Projeto Segurança Social na Vila Osternack, no Sítio Cercado. "A polícia entra, mas [para a estratégia funcionar], o poder público tem de estar junto e permanecer na comunidade."

Conselhos de Segurança

Na mesma linha, a formação de Conselhos Comunitários de Segurança é vista como uma solução para os problemas com segurança pública. Quando existe o conselho de segurança, as aspirações do cidadão tendem a ser contempladas. Enquanto isso não acontece, a polícia continua atuando no "varejo". Um empecilho para que esses grupos se proliferem é o medo e quem sai ganhando com isso são os criminosos. "Quando o Estado não está presente, a criminalidade transforma-se em uma boa oportunidade. O território fica vulnerável", constata Bondaruck. (AP)

Praça sem placa de identificação, equipamentos pichados, áreas verdes abandonadas, latas de spray espalhadas pelo chão e um carro incinerado são sinais de degradação do espaço público identificados na Vila Verde e no Jardim Sabará, localizados na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Ruas das duas vilas foram percorridas pela reportagem da Gazeta do Povo e pelo coronel da Polícia Militar Roberson Luiz Bondaruck, referência em segurança pública e autor do livro Geografia do crime.

A incursão pelas duas vilas foi proposta ao especialista para traçar uma radiografia dos aspectos geográficos que favorecem a criminalidade nas duas localidades – e que também podem ser verificados em outras regiões de Curitiba e municípios do estado. "Esse abandono do espaço público leva à incivilidade do cidadão. Para o criminoso, a sensação é de liberdade para atuar na comunidade", alerta Bondaruck.

Vila Verde

A visita na Vila Verde começou pela praça sem nome, na Rua Emílio Romani. Num pedestal há o espaço para uma placa de bronze – indicativo de que, um dia, a praça foi inaugurada. "A placa foi furtada para virar pedra de crack", opina um homem que não quis se identificar. E o problema não se limita à praça: em todo o entorno e ruas vizinhas há terrenos abandonados, lixo espalhado, arruamento irregular, muros pichados. "Quem vai querer circular em um lugar feio e mal cuidado e ainda correr o risco de levar um tiro?", questiona Bondaruck.

Para começar a mudar o cenário de abandono, a orientação do coronel é cercar ou dar uso às áreas verdes abandonadas – o que está previsto no Código de Posturas do Município. "O mais importante, porém, é motivar o cidadão a resgatar o espaço público."

Bondaruck, que recentemente assumiu o Departamento de Relações Institucionais da Coordenação de Segurança Comunitária da Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná (Sesp), considera que, de modo geral, o Brasil tem uma estrutura urbana inadequada às questões de segurança pública. Ele defende que, em áreas onde a estrutura urbana está abandonada e com pouco envolvimento da comunidade, é necessário um policiamento que dê conta de uma aproximação com a comunidade.

Sabará

Parte das grades que cercam o Bosque São Nicolau, no Jardim Sabará, está arrebentada e retorcida. A quantidade de lixo e roupas atiradas em um canto do bosque é outro sinal do que a falta de uso de um espaço público provoca – há ausência de zelo dos próprios moradores.

A população reclama da retirada do módulo da Guarda Municipal do bosque. Para Bondaruck, a postura é justificável, já que a presença de um homem fardado inibe a violência.

Ao longo do caminho na vila, foram encontradas áreas verdes incendiadas e latas de spray. Nos bueiros, a maioria sem tampas – arrancadas para a venda –, foi possível visualizar lixo, inclusive materiais provavelmente usados no consumo de drogas.

Ruínas também estão presentes na vila. Recentemente, famílias que moravam na região foram realocadas para outro espaço no Bolsão Sabará. Mas o entulho ainda está lá. Bondaruck considera a situação inadmissível, lembrando que terrenos baldios, áreas de demolição e espaços próximos aos rios são excelentes pontos de fuga. O que se pode fazer nesses casos é investir na reurbanização das áreas. "Mas, para isso é preciso ter um aporte de recursos grande. Muitas precisam começar do zero."

Atividades econômicas e culturais são opções para combater o crime

O uso comercial de espaços como o Bosque São Nicolau, no Bolsão Sabará da CIC, é uma das formas de evitar que ele permaneça degradado. O coronel da Polícia Militar Roberson Luiz Bondaruck considera que boas medidas seriam a colocação de bancas para comercialização de produtos artesanais e caseiros feitos pela comunidade, a instalação de uma escola de artes para crianças, um espaço de socialização para a terceira idade ou um coreto para apresentações artísticas dos jovens.

Ele lembra que o tráfico de drogas é uma atividade comercial rentável. Por isso, é preciso, paralelamente, impor ações repressivas contra o comércio ilegal. Se há a prevalência do comércio de entorpecentes, é porque existe mão de obra barata, sem formação profissional e com pouca perspectiva. "É possível mudar o foco desta ‘mão de obra desesperada’ e tirar o jovem das mãos dos traficantes."

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