O estresse, o desrespeito principalmente aos limites de velocidade e os riscos a que os motoristas se expõem estão muitas vezes ligados à falta de tempo. O condutor que já sai atrasado de casa, por exemplo, normalmente irá cometer mais infrações do que aquele que conseguiu estimar para o dia quanto tempo ficará parado no trânsito. "Quanto mais acelerada a vida das pessoas, mais elas ficarão presas no trânsito. Estar no trânsito faz parte de nossa rotina e, por isso, precisa estar previsto também na agenda de compromissos do dia", afirma a psicóloga Neuza Corassa, autora dos livros Vença o medo de dirigir e Seu carro e sua casa sobre rodas.
O problema é que o próprio consumidor esquece do trânsito na hora de exigir do motoboy um serviço ágil, por exemplo. "Queremos a pizza em dez minutos, bem quentinha. Existe toda a parafernália de entregas rápidas que nada mais é do que uma forma de controlar o comportamento das pessoas no trânsito. Tem motoqueiro que só recebe a partir da quantidade de entregas que fez no dia, então é lógico que ele vai correr mais", explica a psicóloga Iara Thielen, coordenadora do Núcleo de Psicologia do Trânsito da UFPR.
Além da falta de tempo, Iara explica que muitos motoristas se transformam quando estão na direção. "É difícil admitir que o carro tem efetivamente um duplo poder: o de matar e o de proteger o indivíduo que o dirige. É fácil xingar o outro por trás da couraça metálica. O carro é o símbolo do próprio poder: muitos acreditam que são melhores do que os outros só porque o veículo deles é mais potente", afirma Iara. Outra teoria defendida pelos pesquisadores é que o motorista tem um perfil diferente quando não está dirigindo, é amigável, tranquilo nos outros afazeres da vida mas, quando começa a dirigir, se transforma. "Ele mostra quem realmente é, fica violento, agressivo", diz Iara.
Como o trânsito é um espaço de convivência não intencional onde você não escolhe com quem vai andar , é preciso respeitar as leis e o próximo sempre. A psicóloga Neuza sugere três aspectos que precisam ser incorporados à vida do motorista: ter consciência de que a vida é agitada e que não dá para fazer tudo em um dia, saber dizer não e ainda trabalhar exercícios de respiração para evitar o estresse. "Há dez anos falava-se que ouvir música no carro ajudava. Mas já percebemos que, antes de tudo, o melhor mesmo é estar consciente de que vamos ficar parados no trânsito e que, por isso, precisamos definitivamente aceitar esta condição."



