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 | Henry Milleo/Gazeta do Povo
| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Leitura equivocada: Moderno, veloz e inseguro

Durante todo o ano passado, o volume de multas por excesso de velocidade representou 29% do quadro geral de infrações registradas pelo Departamento de Trânsito (Detran) do Paraná, que somou 1,7 milhão de autuações. Os condutores paranaenses desrespeitaram as placas e os radares 497.463 vezes.

"Num desses feriados, nós chegamos a multar um motorista que corria a 210 km/h no Contorno Leste em Curitiba", lembra o inspetor da Polícia Rodoviária Federal, Fabiano Moreno. É a mesma velocidade que um automóvel atinge numa competição de arrancada. Para o psicólogo e especialista em trânsito Márcio Possan, o abuso da velocidade esconde fatores psíquicos, como baixa autoestima e a necessidade de acompanhar o mesmo ritmo da velocidade de informação. O motorista transfere para o carro parte de suas inseguranças. O veículo torna-se um instrumento de poder e o condutor acelera para compensar algum aspecto da sua personalidade, como "para chamar a atenção dos outros para si".

Vida perdida na calçada

Não é só quem dirige que pode ser vítima do abuso de velocidade. Há quem nem esteja ao volante quando é atingido por um carro fora de controle, em um atropelamento, por exemplo. A jovem Giovana Becher, de 14 anos, morreu atropelada ao sair da escola, em Ponta Grossa, em abril de 2008. Ela estava na calçada, com duas amigas, voltando da escola. Foi esmagada contra um muro.

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Pé no freio

Cinco motivos para respeitar o limite de velocidade.

Tempo de reação

> O cérebro demora pelo menos 1 segundo para reagir diante de um novo estímulo. A 80km/h, em pista seca, o carro percorre 22 metros neste tempo, antes de o motorista pisar no freio.

Frenagem controlada

> Abusar da velocidade é precisar de mais tempo e espaço para frenagens. Ainda a 80 km/h, depois de acionado a freio, são mais 30 metros até o carro parar.

Evitar acidentes

> Circular dentro da velocidade permitida na via ajuda a evitar acidentes justamente pelo controle das reações do motorista diante de obstáculos ou riscos.

Multas

> Abusar do acelerador dói no bolso. Pode custar entre R$ 85 e R$ 574, dependendo da porcentagem da velocidade excedida.

Lugar certo

> As ruas da cidade não são lugar para corridas de carro. Apressadinhos podem acelerar em competições especialmente organizadas para a prática.

A velocidade de cada pista:

Rodovias - 110 km/h - carros e motos

Rodovias - 90 km/h - ônibus

Vias rápidas - 80 km/h

Vias arteriais - 60 km/h

Vias coletoras - 40 km/h

Vias locais - 30 km/h

Ponta Grossa - As placas de limite de velocidade não estão nas ruas e estradas por acaso. E a segurança é o principal argumento para estabelecer o quão rápido um motorista pode circular. Andar lentamente em uma rodovia de tráfego pesado é tão perigoso quanto acelerar em locais de trânsito controlado.

Para cada tipo de via, há uma velocidade máxima permitida, definida pelo Código de Trânsito Brasileiro. Dependendo do fluxo e do tipo de veículos que circulam no local, das características e das funções da pista e do movimento de pedestres, é possível andar de 30 km/h – em condomínios – a 110 km/h, para carros e motos em rodovias.

Nas cidades, os limites variam de 30 a 80 km/h. O motorista pode acelerar nas vias rápidas (onde a velocidade máxima é de 80 km/h) porque elas permitem o fluxo livre dos carros, sem passagem de pedestres ou semáforos. Ainda assim, andar no limite é correr riscos. Um carro a 80 km/h precisa de pelo menos 52 metros – o equivalente a meio campo de futebol – para parar diante de obstáculo.

Nas vias arteriais, que servem de passagem para as vias rápidas e têm semáforos ou são cortadas por linhas de trem, o motorista não pode passar de 60 km/h. Nos bairros, a velocidade máxima é de 40 km/h. "Há ainda as áreas de risco dentro das vias arteriais, como as escolas, por exemplo, que precisam de uma velocidade mais baixa", afirma o diretor da Autarquia Municipal de Trânsito de Ponta Grossa, Edimir de Paula.

O perigo de acidentes, porém, está em todo tipo de rua. Respeitar o limite de velocidade é o primeiro passo para evitá-los. A coordenadora do Núcleo de Psicologia de Trânsito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Iara Thielen, explica que o melhor é obedecer às placas. O motorista precisa de 1 segundo para enviar a informação do obstáculo ao cérebro e perceber a necessidade de frear. Neste período, ele vai andar 22 metros até tirar o pé do acelerador e pisar no freio, se estiver a 80 km/h. "Depois, o carro vai percorrer mais 30 metros, que corresponde à distância de frenagem", explica a professora. Se o asfalto estiver molhado ou o motorista estiver embriagado, a distância de frenagem aumenta. E o risco de acidentes cresce na mesma proporção.

Avanço

No final da década de 90, quando o novo Código foi redigido, o limite era de 80 km/h nas rodovias. Hoje em dia, carros e motos podem chegar a 110 km/h. A evolução da indústria automobilística flexibilizou o limite. "Há duas décadas, os carros tinham potência mais baixa. Hoje o consumidor está mais exigente", afirma o professor do departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Paraná, Fernando Tadeu Boçon.

Motoristas procuram carros mais rápidos, mas usam, em média, metade da potência do motor para o trânsito do dia a dia.

"É preciso um carro mais potente numa subida de uma serra ou numa ultrapassagem", diz. O professor acha ainda que a indústria automobilística está próxima ao limite de evolução, e que novos modelos não deverão ser tão mais velozes do que os atuais. "Os carros mais rápidos são menos econômicos porque o motor consome mais."

Rua não é lugar de competição

O esporte pode ser a válvula de escape para quem faz questão de roncar motores. O Autódromo Internacional de Curitiba, em Pinhais, é sede de competições de arrancada. Quem não é profissional, mas gosta de correr, pode disputar o Desafio 201 metros, que é aberto para todos os motoristas maiores de 18 anos e com habilitação.

No Desafio 201 metros, o motorista pode levar seu próprio carro para a pista. O diretor da Força Livre Motorsport, Eduardo Pereira, garante que a competição é segura. "Quem gosta de velocidade tem o espaço garantido no autódromo. Assim ele não coloca a vida dele em perigo nem as de outras pessoas."

Contador e piloto aos finais de semana, William Diego Costa disputa arrancada há mais de dois anos e diz que correr é uma paixão, mas que precisa de limites. "Quando você acelera a adrenalina é muito forte, o coração dispara. Mas, tem de ser feito com segurança, num local apropriado", comenta. Numa competição de arrancada, que simula um racha, os carros atingem entre 197 e 400 km/h, dependendo da categoria que disputam.

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